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Modelo Desenvolvimental Sistémico para a Intervenção Precoce de

CAPÍTULO I: ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL

4. I NTERVENÇÃO P RECOCE : DO CONCEITO IDEAL À OPERACIONALIZAÇÃO REAL

4.1.2. Modelo Desenvolvimental Sistémico para a Intervenção Precoce de

O modelo desenvolvimental sistémico surgiu perante a urgência de um paradigma capaz de unificar as práticas em intervenção precoce centradas na família e na comunidade (Guralnick, 2001). De facto, com a evolução do conceito de IP existe uma enorme diversidade de práticas nos EUA, e uma ausência de foco comum e de clareza, quanto às práticas recomendadas. (Guralnick, 2001, 2005, 2011). As maiores disparidades nos serviços de IP focam-se nos critérios de elegibilidade para os serviços, no modo como as famílias obtêm acesso aos mesmos e na abrangência dos serviços

15 disponíveis para a comunidade (Harbin, McWilliam, & Gallagher, 2000; Espigão, Hebbeler, Wagner, Cameto, e McKenna, 2000, cit in Guralnick, 2005).

Para garantir uma estrutura ao seu modelo, o autor enquadra-o num largo conjunto de princípios e práticas, sintetizando-os em quatro princípios relevantes: (1) enquadramento desenvolvimental, (2) inclusão, (3) integração, e (4) coordenação. O enquadramento desenvolvimental engloba as práticas e estruturas do sistema de IP, que deverão focar a família como centro da intervenção, com o objetivo de minimizar os seus stressores e de a fortalecer através de relações de parceria entre os profissionais e os pais. Os princípios de inclusão, integração e coordenação têm como objetivo a participação plena e significativa da criança e sua família nas vivências a todos os níveis do sistema comunitário em que se inserem (Guralnick, 2001, 2005).

Este foco na família e nas interações entre os seus constituintes, leva Guralnick (2001, 2005) a salientar os padrões de interação familiar que mais influenciam o desenvolvimento da criança, para que os profissionais atentem à análise dos mesmos com o intuito de os otimizar: (1) qualidade das transações pais-criança, que requer que os pais demonstrem sensibilidade e responsividade evitando serem diretivos nas trocas com a criança; (2) qualidade das experiências proporcionadas pela família à criança, que implica a disposição de diferentes materiais e a inclusão da criança em diversas rotinas e experiências de acordo com os seus interesses e necessidades; (3) condições de saúde e segurança proporcionadas pela família à criança, que vão desde a proteção contra eventuais perigos aos cuidados de higiene (Guralnick, 2011).

As interações pais-crianças são muitas vezes afetadas por contingências do meio, ou por características da família ou da criança, comprometendo assim o bom desenvolvimento da mesma. A estas condições Guralnick nominou de stressores, salientando que o sistema de IP deve atentar a presença dos mesmos a fim de disponibilizar o apoio e recursos necessários à sua eliminação ou atenuação. Mais uma vez, elaborou categorias para os stressores de forma a serem de mais fácil identificação (2001, 2005, 2011). Os stressores referentes à criança são: (1) necessidade de informação sentida pela família; (2) alterações das relações interpessoais e familiares; (3) necessidade de recursos; (4) ameaças à autoconfiança da família e seus papéis, provenientes da cumulação de stressores das categorias anteriores. Os principais stressores referentes à família, comumente designados por fatores de risco ambiental, são: (1) doença mental dos pais; (2) rede de apoio ausente ou ineficaz; (3) falta de recursos financeiros; (4) problemas na relação conjugal (Guralnick, 2005). É comum, a cumulação de fatores

16 stressores nas famílias multidesafiadas que as equipas de intervenção precoce acompanham, deixando nas mãos dos serviços de IP uma responsabilidade e desafio ainda maiores na promoção do desenvolvimento da criança e da sua família. Para que uma intervenção tenha, de facto, efeitos a longo prazo, pretende-se que envolva um leque diferenciado de serviços, tendo sempre como base o desenvolvimento da criança e o dos seus pais, alterando os padrões interativos e de atitudes, e criando assim a oportunidade de aumentar os seus níveis de conhecimento (Guralnick, 2005). Importa agora compreender quais os principais componentes estruturais e as relações entre as várias fases do modelo desenvolvimental sistémico (Guralnick, 2005) (ver Tabela 1):

Tabela 1: Componentes estruturais do modelo desenvolvimental sistémico, adaptado de Guralnick (2005)

Despiste e Sinalização

- Salienta a importância do despiste precoce. É porém de difícil execução devido à falta de coordenação de serviços, insuficientes meios de despiste e de critérios de sinalização. - A criação de um programa eficiente de sinalização exige um extraordinário nível de cooperação entre todos os intervenientes relevantes no processo (criança, família e comunidade), para que a tomada de decisão ocorra o mais cedo possível.

Monitorização ou Vigilância

- Para crianças e famílias que, à partida, não satisfazem os critérios de sinalização, mas que por terem alguma situação de risco, vão sendo monitorizadas, evitando assim que uma criança mal sinalizada venha a manifestar dificuldades posteriormente.

Ponto de Acesso

- Quando o problema é identificado a criança e a sua família são encaminhadas para o local onde se iniciará o acompanhamento. O ponto de acesso é definido após a verificação de três etapas: (1) recolha e organização de toda a informação necessária; (2) distinção do problema em termos de risco biológico e ambiental ou atrasos desenvolvimentais e incapacidade; (3) organização de avaliação interdisciplinar ampla, ou encaminhamento da família para um programa de prevenção.

Avaliação interdisciplinar

abrangente

- Fundamental para obter um perfil geral de desenvolvimento das crianças, avaliar os aspetos de funcionamento da família e outras informações dos seus contextos. Contudo, por ser um processo demorado, deve-se iniciar, de forma preliminar, um programa de intervenção precoce com a família, até se dar a possibilidade de avaliação.

Elegibilidade

- As decisões de elegibilidade são feitas com base nos critérios definidos da comunidade da criança, colocando-se duas questões importantes: (1) a necessidade de existirem profissionais suficientes, que garantam que as crianças que não cumprem os critérios de elegibilidade permaneçam em monitorização e vigilância, participando num programa de prevenção; (2) o estabelecimento de critérios de elegibilidade consistentes entre todos os serviços de Intervenção Precoce da comunidade.

Avaliação dos stressores

- A intervenção inicia-se mal as famílias entram nos serviços de IP ou nos programas preventivos, mas esta intervenção será ajustada após a avaliação dos stressores da criança e da família.

- Esta fase é aquela que reflete mais claramente os princípios dos serviços de intervenção precoce: por um lado, evidencia o quadro de desenvolvimento global, com foco na família; por outro, prepara o terreno para a natureza individualizada da IP que se poderá seguir, testando a sensibilidade às diferenças culturais na formação de parcerias pais-profissionais. - Se esta fase não for bem realizada, toda a intervenção poderá estar comprometida porque a avaliação de fatores de risco é a chave para finalmente se apoiar as famílias nas suas necessidades específicas, de forma a poderem desenvolver padrões familiares de interação de mais qualidade.

- A ausência de stressores deve ser considerada uma força e constar no plano de intervenção.

Desenvolver e implementar um

- A parceria pais-profissional deve colaborar com o intuito de construir um plano que especifique as redes de apoio da família, os apoios sociais e serviços necessários face aos fatores de risco já identificados na fase anterior.

17 Este modelo não deve ser considerado estanque e estático, mas antes adaptado às realidades desde que não se percam a estrutura e os princípios base (Guralnick, 2005).

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