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2 MÉTODO

2.1 Modelo de estudo

Sob novo olhar de conceber a pesquisa investigativa, no qual a produção de conhecimento é tida como prática social e o papel fundamental do pesquisador é ajudar no processo de refletir, agir e avaliar de seus participantes para a busca de solução de problemas, o presente trabalho define-se como pesquisa-ação.

Durante seu desenvolvimento, por meio de interação reflexiva, analisa-se o que se tinha como proposta e o que foi alcançado, os acertos e desacertos, a percepção e expectativas dos participantes. As oportunidades e limitações da situação são reconhecidas e revisadas e se discute as contradições e as mudanças produzidas.

A esse respeito, Costa (2007, p. 19) pontua que “sempre que se produz um novo conhecimento também se inventa um novo e peculiar caminho.”.

Vale ressaltar que tal modelo metodológico traz em seu âmago o movimento que Meirieu (2002) afirma encontrar nas questões educacionais: não existem certezas, trabalha-se com as dúvidas e apoia-se em tentativas, buscando-se o melhor.

E foi o que se observou ocorrer no desenvolvimento da presente pesquisa: em função das situações, ações aleatórias e improvisadas surgiam, sem que se pudesse prever seus resultados. Ao menor sinal de

satisfação/insatisfação, alterava-se os planos, revia-se as convicções e repensava-se os métodos. É o que o autor defende ser o “prazer de inventar”, que permite trabalhar junto, envolver-se em aventura na qual não se é capaz de controlar nem de imaginar os efeitos que produzirá.

Outro ponto relevante a se considerar é que o modelo investigativo adotado vai de encontro às ideias das chamadas parcerias colaborativas entre pesquisador e professores.

Ressaltando a importância da pesquisa colaborativa para o campo da formação continuada do professor, Horikawa (2008, p. 27), defende que ela mostra-se como forma de desenvolver a formação em serviço e “se opõe à perspectiva de transmissão de teorias ou de implantação de novas metodologias de ensino, tão ao gosto dos projetos estatais de formação.”.

Na visão da autora, este tipo de pesquisa contribui para a aproximação escola/academia, estabelecendo compromisso desta última de se engajar na busca das soluções para as problemáticas existentes no cotidiano escolar.

Outro fato apontado por Horikawa (2008) é que tal pesquisa tende a romper com a desconfiança dos docentes em relação aos pesquisadores, pois se atêm a observação e não à intervenção.

Como descrito anteriormente, preocupação com a eventual recusa das professoras existiu também nesta pesquisa, porém, felizmente, tal fato não ocorreu. Importante parceria se firmou entre pesquisadora e professoras, que puderam reconhecer-se como agentes de transformação.

Na pesquisa-ação-crítico-colaborativa, assim chamada por Jesus (2005), a construção de conhecimento é fruto da relação reflexiva e colaborativa das pessoas envolvidas, que analisam os problemas, planejam as ações estratégicas e avaliam os efeitos das mudanças ocorridas. E são incentivadas a partilhar pontos de vista, valores e perspectivas. Seu objetivo é “Investigar a transformação da prática educativa dos profissionais do ensino, a partir da pesquisa e reflexão crítica da ação pedagógica, pela via da formação continuada em contexto, [...]” (JESUS, 2005, p.5).

Esta pesquisa ação, de caráter qualitativo, embasa-se em Barbier (2003); Trivinos (1987); Thiollent (1986); Lüdke e André (1986); Barnes (1995) e Minayo (2.000).

Optou-se pela pesquisa ação, porque pesquisa e ação caminham juntas, já que se propôs alcançar a modificação da prática docente, no que diz respeito aos dispositivos didáticos utilizados pelas professoras.

Thiollent (1986) explica que:

Pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 1986, p.14).

Ainda, segundo o autor, alguns dos aspectos que configuram este tipo de pesquisa é que há ampla interação entre pesquisador e pessoas (professoras da escola, no caso desta pesquisa) implicadas na situação investigada e o objetivo de esclarecer os problemas não é colocado pelas pessoas, mas sim pela situação social e pelos próprios problemas nela encontrados. Além disso, as ações são acompanhadas e se busca aumentar o conhecimento do pesquisador e o nível de consciência das pessoas nelas envolvidas.

Segundo Barbier (2003), a natureza da pesquisa-ação é uma forma diferenciada de se fazer pesquisa em ciências sociais:

A pesquisa-ação torna-se a ciência da práxis exercida pelos técnicos no âmago de seu local de investimento. O objeto da pesquisa é a elaboração da dialética da ação num processo pessoal e único de reconstrução racional pelo ator social. (BARBIER, 2003, p. 59).

No caso da presente pesquisa, a situação social que se quer ver transformada é a atuação docente, tomando como ponto de partida o processo de tomada de consciência da prática docente no presente. Neste tipo de pesquisa, o foco está voltado ao plano de ação prática e embasado em dados coletados. Obtém-se como resultado, “maior conhecimento e compreensão, bem como melhor prática” (BARNES, 1995, p. 157).

Estruturada dentro de seus princípios geradores, nas palavras de Franco (2005), a pesquisa-ação é eminentemente pedagógica, configurada como ação que cientificiza a prática educativa, a partir de princípios éticos que visualizam a contínua formação e emancipação de todos os sujeitos da prática. E o pesquisador apresenta-se como praticante social que intervém em uma determinada situação com o fim de verificar se um novo procedimento pedagógico é eficaz ou não.

A pesquisa qualitativa, de acordo com Lüdke e André (1986, p.11), “tem o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento”. Os dados coletados neste tipo de pesquisa são predominantemente descritivos, obtidos por meio do contato direto do pesquisador com o ambiente estudado.

Segundo Minayo (2001, p. 21-22), a pesquisa qualitativa “trabalha com o universo de significados, motivos, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”. O significado que os sujeitos dão às situações e à sua vida são pontos de convergência de atenção especial pelo pesquisador.

Ainda a respeito da pesquisa qualitativa, Triviños (1992) mostra que, neste tipo de pesquisa, muitas informações colhidas não podem ser quantificadas e necessitam de uma interpretação mais ampla do que o simples dado objetivo. Nela, insere-se o campo do contexto, lugar comum entre os pesquisadores educacionais, que valorizam o espaço natural no qual os indivíduos realizam suas ações e desenvolvem seu modo de vida.

Na pesquisa qualitativa existe uma sequência para realização da investigação, assim como na pesquisa quantitativa. A sequência parte da escolha do assunto ou problema a ser estudado, dirige-se para a coleta e finaliza com a análise dos dados. Porém, não há uma rigidez em suas etapas de desenvolvimento. Dentre algumas flexibilidades, as informações coletadas, muitas vezes, exigem busca de novos dados e novos caminhos devem ser trilhados, durante o percurso da investigação.

Outro fator diferencial da pesquisa qualitativa é que a determinação da população e da amostra se dá por representatividade do grupo maior dos sujeitos que participarão do estudo. A amostragem é intencional, pois considera, dentre outras especificidades, quais sujeitos serão essenciais, de acordo com a visão do investigador.

No aspecto da liberdade de realização dos estudos na pesquisa qualitativa, Triviños (1992) afirma que os limites devem fazer parte da exigência científica de todo trabalho, no qual concerne a estrutura, consistência, originalidade e nível de objetivação, que são capazes de merecer a aprovação dos cientistas num processo intersubjetivo de apreciação.

A presente pesquisa configura-se em estudo longitudinal que acompanhou as professoras-participantes em sua ação pedagógica durante os dois semestres de 2009. Constou, ainda, da descrição e da interpretação dos resultados obtidos por coleta e comprovação dos dados.

Partindo de entrevista semiestruturada e conduzindo as interações reflexivas nos momentos de visionamento das filmagens das aulas, sua proposta implica a possibilidade de conhecer, por meio da fala das professoras, os saberes adquiridos ao longo da auto formação, bem como, os dispositivos didáticos que aplicam no processo de ensino e o que dizem a respeito de propostas de mudanças em suas intervenções.