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4 A COMPANHIA INTEGRADA DE DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA DE SANTA CATARINA – CIDASC

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2.3 Modelo Gerencial

De acordo com Mendes (2012), o modelo gerencial (New Public

Management ou Nova Gestão Público), tem como pressuposto fundamental

a adoção de ferramentas de gestão utilizadas na iniciativa privada para solucionar os problemas de eficiência na gestão pública. Segundo Abrucio (1997), o modelo gerencial foi uma resposta ao esgotamento do modelo burocrático weberiano, e veio na forma de um conjunto de padrões gerenciais para a administração pública, que se disseminou amplamente, primeiramente nos países de língua anglo-saxã (Grã-Bretanha, Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia), em seguida, gradualmente, pela Europa e Canadá.

Pollitt e Dan (2011) fazem uma relação do que afirmam ser o pacote que contém os conceitos e práticas do modelo da New Public Management, quais sejam: grande ênfase em desempenho, especialmente, no que diz respeito à mensuração de resultados; preferência por arranjos organizacionais enxutos, horizontalizados, pequenos, especializados e descentralizados; substituição generalizada das relações hierárquicas como

dispositivo principal de coordenação; inserção de mecanismos de mercado, como concurso público, tabelas de classificação dentro setor público, remuneração atrelada ao desempenho; ênfase no tratamento dos usuários como clientes; utilização de mecanismos para permitir o direito de escolha dos clientes; e utilização de técnicas genéricas de melhoria da qualidade.

Abrucio (1997) destaca de forma enfática que, mesmo com as diversas críticas ao modelo gerencial, não há contestação dentro do debate internacional de que esse modelo veio preencher um vácuo teórico e prático, originado pelo distanciamento do modelo burocrático weberiano frente às necessidades da sociedade. Continua o autor, afirmando que as experiências têm demonstrado a grande capacidade que possui o modelo gerencial de se adaptar, absorvendo as críticas a si dirigidas e se mostrando plural quanto às concepções que o abrigam. Como contraponto, Secchi (2009) coloca que o modelo gerencial compartilha com o burocrático a perspectiva wilsoniana de distinção entre política e administração pública, além de resultar em maiores responsabilidades para o governante em termos de seu papel sobre o resultado das políticas públicas.

Por outro lado, Petrescu et al (2010) afirma que, além da burocracia, o único modelo que, de fato, estabeleceu um paradigma próprio na administração pública foi a Nova Gestão Pública, que se desenvolveu a partir do final da década de 1970, e que tem imperado em muitos países. No entanto, tanto Abrucio (1997) quanto Secchi (2009), argumentam que o modelo gerencial não se apresenta, de fato, como um modelo de ruptura. Secchi (2009) conclui isso ao perceber que ambos os modelos guardam a valorização da função controle dentro de suas concepções.

Abrucio (1997) coloca que as aplicações do modelo gerencial têm sido discutidas por toda parte, destacando que questões como avaliação de desempenho e controles orçamentários e dos serviços públicos tem provocado revisões nas estruturas administrativas de diversos países. No Brasil, segundo Klering, Porsse e Guadagnin (2010), o primeiro movimento de reforma rumo a uma perspectiva gerencial se deu através da edição do Decreto-Lei nº 200 em 1967, que efetivou a transferência de atividades do governo para a administração pública indireta, por meio de autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista.

De acordo com Abrucio (1997), o modelo de Estado que figurava antes de 1970, no Brasil, era marcado por: inspiração keynesiana na área econômica, por conta da preocupação com a manutenção do emprego e a atuação pública em áreas estratégicas de mercado (petróleo e telecomunicações); presença do conceito de estado provedor e garantidor como dimensão social, o chamado Welfare State; e funcionamento interno

balizado pelo modelo burocrático weberiano, baseado na impessoalidade, neutralidade e racionalidade do aparato estatal.

O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso orientou-se para a consolidação da administração pública gerencial. Essa reforma tinha por pressupostos: a definição precisa dos objetivos que o administrador público deveria atingir, isto é, metas claras; garantia de autonomia na gestão dos recursos humanos, materiais e financeiros colocados a sua disposição, para atingir os objetivos contratados; e o controle ou cobrança a posteriori dos resultados, ao contrário do modelo burocrático (BRASIL, 1995). Essas mudanças fizeram com que o Brasil passasse a caminhar, desde então, na direção da consolidação do modelo gerencial em sua estrutura administrativa.

Tratando das reformas da administração pública, Carapeto e Fonseca (2006) argumentam que a questão central que deve justificá-las não é a falta de eficiência, mas a discussão das funções atribuídas ao Estado. Essa colocação parece apropriada para que se faça a correta distinção entre reformas para simples melhoria da eficiência administrativa e reformas de cunho conceitual que dão novos contornos às responsabilidades do Estado. Assim sendo, Abrucio (1997) defende que as discussões sobre a necessidade de reformas administrativas, foram as verdadeiras razões para o surgimento do modelo gerencial, não propriamente as políticas de governos neoliberais, como afirmam alguns críticos.

Ao tratar da realidade de Portugal, Mendes (2012) afirma que algumas das críticas a respeito do Welfare State disseram respeito à desumanização da burocracia e ao aumento da despesa pública, principalmente em épocas de estagnação. Analisando outros autores, Mendes (2012) também situa o surgimento da administração pública gerencial no contexto da necessidade de se dar resposta aos problemas desse sistema social em que o Estado atuava como provedor das necessidades sociais da população.

Da mesma maneira, Kissler e Heidemann (2006), apontam que, na Alemanha, nos últimos dez anos, o modelo que inspirou as reformas de modernização da máquina estatal foi todo baseado na New Public

Management, ou seja, na concepção gerencial. Nessa mesma linha, Petrescu

et al (2010) propõem que o papel da gestão pública é utilizar as ferramentas e técnicas gerenciais de modo eficiente e efetivo. Pensamento que se alinha com a observação apresentada por Secchi (2009), segundo a qual o modelo gerencial caracteriza-se por atribuir ao cidadão a alcunha de cliente dos serviços públicos.