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2.2 ELEMENTOS CHAVE DO PROCESSO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA

2.2.1 Modelo de Gestão

O termo gestão deriva do latim gestione que significa gerir, gerência, administração. Gerir significa planejar, organizar, administrar e controlar recursos visando conduzir a empresa na consecução dos seus objetivos. Portanto, gestão significa conduzir a organização a alcançar os resultados desejados (OLIVEIRA;

PEREZ JUNIOR; SILVA, 2007).

Complementarmente, Teles e Vartanian (1998) destacam que:

[...] o modelo de gestão, que, de forma explícita ou não, sempre existe numa empresa, é constituído de princípios permanentes que orientam a atuação dos gestores, procurando potencializá-la. O ponto de partida do modelo de gestão é, logicamente, o conjunto de crenças e valores dos donos ou principais executivos da empresa (TELES; VARTANIAN, 1998, p. 62).

Parisi, Almeida e Pereira (1999) definem o modelo de gestão como um conjunto de escolhas dos líderes da organização com base nas suas crenças e valores, que determinam o comportamento da organização frente às mudanças ambientais em busca dos seus objetivos. A esse respeito, é preciso mencionar que as principais características das empresas, as crenças e valores dos proprietários e dos seus principais gestores, que moldam o modelo de gestão, interferem na cultura organizacional. Segundo Lerner (2007):

Cada empresa possui características próprias que podem facilitar ou dificultar o ritmo que ela imprime à condução do negócio. Essas características definem a maneira de administrar, ou seja, no seu conjunto elas formam a cultura organizacional, moldada pelo seu modelo de gestão, que, em linhas gerais explica, por exemplo, o jeito como a empresa administra e como nela as atividades são executadas (LERNER, 2007, p.

16).

Nesse contexto, o modelo de gestão tona-se peculiar para cada organização e pode ser conceituado como um conjunto de princípios e definições que decorrem de crenças específicas e traduzem o conjunto de ideias, de crenças e de valores dos principais executivos, impactando assim todos os demais subsistemas empresariais (FIGUEIREDO; CAGGIANO, 1997). Para Cameron e Quinn (1999), as empresas devem buscar harmonizar seus valores com os valores do ambiente externo. Desse modo, a cultura de uma empresa deve procurar estar de acordo com a cultura do meio em que atua.

Para os autores, a cultura de uma organização, traduzida pelo seu modelo de gestão, movimenta e se modifica conforme as pessoas que atuam na empresa, principalmente provocando nos gestores a busca por novas maneiras para se adaptar às mudanças do meio no qual a empresa atua. Nesse sentido, o modelo de gestão como principal influenciador da cultura organizacional deve permitir e promover uma cultura capaz de adaptar-se às mudanças ambientais.

São constantes as mudanças no ambiente no qual a empresa está inserida, e devido a esse fato as empresas necessitam de um modelo de gestão dinâmico e apto para responder a essas mudanças. Diante desse cenário, cabe ressaltar também que o modelo de gestão torna-se um instrumento facilitador no cumprimento da missão e no alcance dos objetivos da empresa (NASCIMENTO; REGINATO, 2007).

Como já referido, o sistema empresa é formado por subsistemas que são gerenciados pelo modelo de gestão. Esse fato explica como empresas do mesmo setor e formadas por subsistemas semelhantes, gerenciados com a finalidade de atingir os objetivos propostos pela organização, obtêm resultados diferentes. Isso ocorre porque não só a missão, como também as crenças e valores dos principais líderes da organização, interferem na execução das funções desses subsistemas;

afetando, assim, a eficácia dessas organizações e, consequentemente, a dinâmica ao responder as mudanças ambientais (PIRES, 2005).

Segundo Nascimento e Reginato (2007), o modelo de gestão deve gerenciar a forma como os elementos da organização interagem entre si e com o ambiente externo, e também como essa integração deve ocorrer. A ação organizacional é orientada pelos princípios dos mais importantes líderes da organização, ou seja, pela percepção destes em relação aos cenários políticos, sociais e econômicos e na maneira como esses cenários refletem a forma como a empresa se manterá competitiva.

De acordo com Parisi e Nobre (2001), os valores e crenças dos principais líderes da organização, traduzidos em princípios, formam o modelo de gestão da empresa, cujas características condicionam a atuação dos gestores e, consequentemente, dos subsistemas sob sua responsabilidade. Desse modo, percebe-se que os princípios são as fontes primárias do modelo de gestão e refletem como a empresa deve ser gerida. A partir dos princípios, surgem as normas que são preceitos ou regras, que estabelecem condições para que os elementos da organização se integrem e constituam a ação organizacional.

Autores como Parisi e Nobre (2001) apresentam em suas ideias os princípios que devem nortear um modelo de gestão: poder e responsabilidade; estilo, que é determinado pela forma de relacionamento entre os gestores e os recursos humanos; postura requerida para o desempenho do gestor; amplitude do processo de gestão, que define a estrutura de planejamento e controle; critério de avaliação e desempenho, que deverá estar baseado no objetivo da gestão; ritual de relacionamento entre acionistas e gestores, incluindo a definição dos níveis e formas de interações entre gestores e acionistas, tanto para assuntos programados como para os fatos extraordinários; e regras para os sistemas de informação, abrangendo as definições gerais para garantir as informações necessárias, a fim de apoiar o processo de gestão e de avaliação de desempenho organizacional e dos gestores.

Para Guerreiro (1989), os objetivos que podem ser elencados para um modelo de gestão são:

• reduzir o risco do empreendimento;

• estabelecer uma estrutura que dê suporte requerido para suas atividades;

• orientar os esforços através de um estilo e de uma filosofia de trabalho que criem atitudes construtivas;

• adotar um clima motivador de engajamento de todos em torno dos objetivos da empresa; e

• certificar-se de que a empresa está ou não cumprindo a sua missão, se os produtos, recursos e esforços estão sendo executados de acordo com o planejado e, havendo desvios, certificar-se de que houve a correção exigida.

Nesse contexto, é possível dizer que o modelo de gestão pode ser um fator que induz ou restringe o crescimento organizacional e, dependendo da forma como ele for constituído, pode ser um indutor ou um redutor dos conflitos. Isso ocorre a partir da compreensão de que as pessoas possuem seus próprios valores e objetivos e de que a essência das suas decisões as levam a ter ações e comportamentos próprios de acordo com seus interesses individuais. Dessa forma, a empresa necessita direcionar o caminho que pretende seguir e definir quais serão os princípios que deverão ser priorizados ou respeitados para tanto.

Desse modo, o modelo de gestão, a partir das premissas que o estabelecem, tem capacidade de determinar a extensão em que os conflitos de interesse ocorrem em uma organização, uma vez que esta é formada essencialmente por pessoas, cada qual com suas expectativas, crenças e valores. Esse fato pode ocasionar desvios entre os objetivos dos atores que conduzem o modelo de gestão, ou seja, entre o principal e o agente.

A seguir, será abordado o tem “conflito de interesse”.

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