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3. MODELOS DE CUIDADOS DE ENFERMAGEM À PESSOA COM DIABETES

3.2. Modelo em Uso e Modelo Exposto

A conceção de Nightingale acerca do ambiente como o foco dos cuidados de enfermagem, e sua advertência aos enfermeiros, referindo que não é suficiente saber apenas sobre as doenças para ajudar os doentes a recuperar, constituíram as primeiras tentativas de diferenciação entre os focos de enfermagem e de medicina. O domínio biomédico das práticas, disciplinarmente mais desenvolvido e socialmente mais poderoso, predominou sobre o que tinha sido iniciado por

Nightingale e dirigido ao core da enfermagem: a saúde, a higiene, o ambiente e o cuidado, (Meleis, 2007 e Silva, 2011).

As teorias que evoluíram do domínio da prática médica dirigida a fenômenos médicos, sinais, sintomas, cirurgia, medicamentos, e doenças. Foram as primeiras a fornecer documentação do contexto clínico aos alunos, o que era medicina e cirurgia. O domínio médico, com as suas teorias biomédicas, ditou os procedimentos que possam ter sido realizados por enfermeiros, numa perspetiva de cuidados de enfermagem.

A era de total dependência da prática dos enfermeiros no modelo biomédico, negligencia o utente como foco central de cuidados e como um ser humano. Ao mesmo tempo, negligencia o meio ambiente como vital no cuidado da pessoa doente e no processo reparador. Isto é bem descrito por Norris (1982) citada por Meleis (2007, p.138),

“O conhecimento de enfermagem, devido à sua estreita aliança dos enfermeiros com

a medicina, tem sido tradicionalmente orientada para os sintomas. Os sintomas representam processos cujos produtos finais são a insuficiência dos sistemas corporais a menos que haja intervenção médica. Segue-se que a maior parte da avaliação de enfermagem tem sido um processo de identificação de um problema traçando-o em à volta do modelo biomédico, se se considerar do ponto de vista de uma falha do organismo humano. Grande parte da intervenção de enfermagem surgiu a partir de tentativas de auxiliar ou complementar a intervenção médica e medidas para prevenir ou reduzir o desconforto causado pela patologia ou tratamento médico”.

O modelo biomédico tem vindo a dominar os procedimentos de prestação de cuidados à pessoa, família e comunidade, apesar de se assumir o conceito holístico de saúde. De facto, “em muitas das organizações de saúde predomina a abordagem clássica de organização de trabalho, em que as ações de enfermagem desenvolvem-se em conformidade com uma prescrição de técnicas e com uma hierarquização acentuada entre os que decidem e os que executam”, (Moniz, 2000, p.247). A ERS no seu relatório (2011), refere que, no caso da DM, o principal interesse dos prestadores de cuidados aparenta centrar-se no controlo glicémico, como indicador clínico, enquanto que, a implementação da educação para a saúde conforme determinam as circulares normativas e técnicas da DGS, mais especificamente, a circular normativa nº 14/2000 de 12 de dezembro, não tem sido realizada na dimensão desejável. Os enfermeiros conhecem o conceito e sabem como realizar a prática humanizada mas ainda não aplicam esse conhecimento a todas as situações, atribuindo a responsabilidade a fatores externos a si mesmos (Oliveira et al., 2013). Na sua maioria, as atividades exercidas pelos enfermeiros

são predominantemente de índole curativa e existindo alguma dificuldade quanto à autonomia (Silva, 2011).

No contexto da prestação de cuidados de enfermagem, as decisões que os enfermeiros tomam podem ser classificadas pela sua qualidade e pelo impacto das ações baseadas nas decisões. O objeto da tomada de decisão dos enfermeiros no processo de cuidar (modelo em uso), deverá estar relacionado com o objeto de estudo da própria disciplina (modelo exposto) como refere Silva (2006). Quanto mais diminuído for este hiato, entre o modelo em uso e o modelo exposto, mais visíveis serão os cuidados.

O modelo biomédico pressupõe que o doente seja um elemento passivo, cumpridor de “ordens” médicas, tendo em conta o diagnóstico e terapêutica. Nesse modelo a pessoa é vista como uma executora que deve obedecer ao que lhe é solicitado, não participando ativamente nas decisões que lhe dizem respeito (Machado, 2009). A não adesão à terapêutica é vista como resultado direto de um desvio da personalidade do doente (Pais-Ribeiro, 2007).

A evolução do modelo de prestação de cuidados tem sido apontada em diversos documentos, nomeadamente na Declaração de Alma-Ata (1978) onde se pode ler que é direito e dever dos povos participar individual e coletivamente no planeamento e na execução de seus cuidados de saúde, e corroborada com a ideia do Plano Nacional de Saúde de 2012-2016, nomeadamente no Eixo Estratégico – Cidadania em Saúde (2012, p.4),

“O cidadão é o centro do Sistema de Saúde, significando que o Sistema de Saúde se

deve organizar com a missão de responder às suas necessidades, satisfação e legítimas expectativas enquanto indivíduo e enquanto elemento de uma comunidade, e nos seus diversos papéis: ativo e saudável, doente, utilizador dos serviços, consumidor, cuidador, membro da família e da comunidade, para a máxima responsabilidade e autonomia individual e coletiva (empowerment)”.

Meetoo e Gopaul (2005) referem que os profissionais de saúde que adotam o modelo do empowerment na prestação de cuidados à pessoa com diabetes, têm a perceção de que estas ficam capacitadas e bem informadas sobre a diabetes, e que estão conscientes dos seus direitos. A filosofia do empowerment representa claramente uma mudança de atitude da pessoa com diabetes e do profissional de saúde. Na Figura 3 esquematiza as principais diferenças dos dois modelos.

FIGURA 3 – Modelo Biomédico versus Modelo Empowerment

Neste sentido, tem vindo a crescer a importância atribuída à filosofia da promoção da saúde e do movimento de empowerment. O modelo de empowerment sugere um conjunto de mais-valias, quer ao nível da melhoria na qualidade de vida da pessoa e da sua capacidade de tomada de decisão, quer na redução da dependência dos profissionais de saúde. Através da utilização deste constructo promove-se o desenvolvimento de uma cultura participada na área da saúde.