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Modelo para pesquisa de barreiras à atividade de inovação no setor elétrico brasileiro

3 PROPOSTA DE UM SISTEMA DE INDICADORES E PRÁTICAS DE INOVAÇÃO PARA O SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO

3.7 Modelo para pesquisa de barreiras à atividade de inovação no setor elétrico brasileiro

A partir das considerações dos autores analisados na revisão da literatura selecionou-se um conjunto de possíveis barreiras à inovação no setor elétrico, apresentado no quadro 22.

Quadro 22 – Conjunto de fatores que prejudicam a atividade de inovação

Fatores que prejudicam a atividade de inovação

FP1 Falta de informação sobre tecnologia FP2 Falta de infraestrutura

FP3 Fraca proteção aos direitos de propriedade intelectual FP4 Falta de informações sobre mercado

FP5 Falta de oportunidade para cooperação FP6 Riscos econômicos excessivos

FP7 Falta de pessoal qualificado

FP8 Dificuldade no controle dos gastos com inovação FP9 Resistência a mudanças na empresa

FP10 Centralização da atividade de inovação em outra empresa do grupo FP11 Custo elevado do investimento

FP12 Falta de fontes apropriadas de financiamento

FP13 Prazo muito longo do retorno do investimento na inovação Fonte: Elaborado pelo autor.

Para o melhor entendimento de cada um dos obstáculos listados no Quadro 22, é apresentadauma rápida fundamentação para cada um deles com o intuito de justificar sua inclusão na pesquisa.

a) Falta de informação sobre tecnologia: As tecnologias são revolucionárias, pois abrem alternativas para as empresas permitindo a exploração de aspectos de informatização, inovação organizacional e rompimento com a lógica tradicional de automação. A forma como os executivos e empregados responderam às alternativas de automação ou informatização propostas pelas novas tecnologias determinará se haverá uma nova concepção da organização, do seu trabalho e de poder. “Há ocasiões em que novas tecnologias representam a parte mais importante de uma inovação, e por isso se destacam e atraem considerável atenção” (DÁVILA; EPSTEIN; SHELTON, 2007, p. 54).

b) Falta de infraestrutura: Para Tidd, Bessant e Pavitt (2008), não adianta ter sistemas de Gestão da Inovação bem desenvolvidos se o contexto organizacional não for favorável. Para os autores, essa questão envolve a

criação de estruturas e processos organizacionais que permitam que a inovação prospere. A empresa deve garantir a infraestrutura e elementos estruturais adequados.

c) Fraca proteção aos direitos de propriedade intelectual: Para Tidd, Bessant e Pavitt (2008), em alguns casos, ainovação pode ser comercializada por licenças ou venda de direitos de propriedade intelectual, em vez do desenvolvimento de produtos, serviços ou processos. Santos (2007), por sua vez, afirma quea questão da proteção à propriedade intelectual, vista por meio da implantaçãoo de um rígido controle na utilização de marcas e patentes, é um dos pilares sobre o qual repousa o modelo de acumulação da economia global. O autor destaca que esse instrumento de proteção do inventor tem sido questionado de várias maneiras desde a revolução industrial, e acrescenta que a propriedade intelectual deveria ser o mecanismo capaz de proteger a invenção em nossa sociedade, e, assim, assegurar o progresso da ciência e da tecnologia para o bem da humanidade.

d) Falta de informações sobre mercado: Segundo Lima e Kuhl (2010, p.5), “as informações sobre o mercado têm por objetivo auxiliar na análise dos aspectos do mercado, e em particular, o comportamento e as necessidades dos clientes”. Estes podem aportar informações valiosas para alimentar o processo de inovação na organização. Para Coral e Geisler (2008), as organizações inovadoras devem extrair informações do mercado para responder com maior rapidez às suas necessidades e antecipar-se à concorrência.

Nesse sentido, as necessidades e expectativas dos clientes devem ser identificadas, disseminadas e incorporadas ao planejamento da organização. A falta dessas informações torna-se problemática para os processos de inovação, e, dessa forma, também se constitui obstáculo.

e) Falta de oportunidade para cooperação: A cooperação permite que as empresas tenham acesso a informações, recursos, mercados e

tecnologias, de forma a combinar competências e aumentar seus conhecimentos.Para Lima e Kuhl (2010, p. 6), as dificuldades em desenvolver, manter e utilizar as relações com parceiros passam a ser um obstáculo, já que, de alguma forma, as inovações estão relacionadas com clientes, e/ou fornecedores, e/ou parceiros e até mesmo com concorrentes. Já, para Davila, Epstein, Shelton (2007, p. 119) “desenvolver, manter e utilizar relações fortes com organizações parceiras pode representar uma grande vantagem competitiva para qualquer empresa.”.

Algumas empresas mais inovadoras estenderam seus processos de desenvolvimento de novos produtos e serviços, também,aos fornecedores e clientes. Elas possuem sistemas para identificar e mobilizar recursos externos. Nesse sentido, afirmam Coral e Geisler (2008, p. 19) “a cooperação externa é indispensável”.

f) Riscos econômicos excessivos: Os riscos econômicos são elevados em consequência dos gastos despendidos no processo de inovação. Eles podem ser amplificados, se o processo de inovação redefinir os produtos da empresa para um mercado desconhecido para ela, ou se um novo padrão para o produto for inserido, no mercado, pela concorrência.

g) Falta de pessoal qualificado: Em relação a esse fator, Tigre (2006, p. 168) afirma que “para absorver e gerar novos conhecimentos, as empresas pioneiras necessitam contar com quadros técnicos qualificados em diferentes áreas”. Já para Kuhl e Lima (2010), o obstáculo, nesse caso, pode estar concentrado na falta de pessoal com capacidade inovativa, ou ainda na falta de pessoal qualificado para lidar com inovações, além da necessidade de saber lidar com novas tecnologias.

Tiwari e Buse (2007), destacam que outro grande obstáculo enfrentado pelas organizações esta relacionado à falta de pessoal qualificado, principalmente a falta de engenheiros e técnicos experientes.

h) Dificuldade no controle dos gastos com inovação: Para Bes e Kotler (2011), a estratégia de inovação deve definir, com base no orçamento total para a inovação, a parcela de recursos financeiros a ser investida em cada tipo e nível de inovação. Para os autores, a alocação do orçamento será utilizada como guia para a aprovação de projetos, quando for o momento de implementar a estratégia. Tidd, Bessant e Pavitt (2008), por sua vez, afirmam que os gestores reconhecem que a eficácia da alocação de recursos para inovação depende menos da robustez das técnicas de tomada de decisão, que dos processos organizacionais dos quais fazem parte.Um estudo de McKinseyQuarterly (2008/ 2010) destaca que somente 24% das empresas definem seu orçamento de inovação.

i) Resistência a mudanças na empresa: Tidd, Bessant e Pavitt (2008) destacam que parte do problema na adoção de estratégias inovadoras surge por falta de atenção, no estágio de planejamento, às dimensões da mudança proposta. Para os autores, a questão da gestão da mudança cultural e da superação da resistência à inovação precisa ser mais bem trabalhada nos grupos e equipes. As dificuldades de implementação podem ser reduzidas, envolvendo-se todos aqueles que estão sujeitos a serem afetados pela mudança em algumas de suas formulações estratégicas.

Segundo Fleury e Fleury (1997), a mudança no padrão cultural, quando ocorre, pode ser de dois tipos: revolucionária, quando novos valores incorporados à organização são antagônicos aos anteriores, gerando um processo radical de destruição dos elementos simbólicos e redefinição completa das práticas organizacionais; ou gradual, quando os novos valores propostos são complementares aos existentes e ampliam as alternativas para solução de problemas.

j) Centralização da atividade de inovação em outra empresa do grupo: Para Sbragia et al. (2006), quando a empresa opta pela implantação de uma área formal de P&D, deve decidir quanto ao grau de centralização das atividades.

Na estrutura centralizada, há uma única unidade de P&D que presta serviço para toda a empresa, ao passo que, na descentralizada, cada divisão tem sua unidade de P&D (SBRAGIA et. al, 2006). A integração das atividades relacionadas ao processo de inovação contribui para o sucesso organizacional. No entanto, a centralização excessiva, mesmo com integração, torna-se um obstáculo (MORISON, 2001; LIMA; KUHL, 2010).

Concluem Sbragia et al. (2006) que, no modelo centralizado, a grande vantagem é a concentração de recursos e pessoas em um único centro, diminuindo os custos totais com P&D. No descentralizado, por sua vez, a vantagem principal é o fato da P&D ficar mais próxima dos mercados locais, podendo atender melhor a suas necessidades, com maior rapidez e precisão.

k) Custo elevado do investimento: O investimento necessário para que se alcance inovações é elevado. Portanto, os elevados custos da inovação podem ser um empecilho, já que a maioria das empresas não possui recursos suficientes para isso e, em muitos casos, os gastos efetivos são maiores que os previstos. Podem ser obstáculos, também, porque não existem garantias de que o retorno supere os custos e, nesse caso, as empresas precisam minimizá-los, para não incorrer em prejuízos futuros que comprometam sua posição no mercado, ou até mesmo sua condição de sobrevivência (LIMA; KUHL, 2010).

l) Falta de fontes apropriadas de financiamento: A escassez das fontes apropriadas de financiamento é um problema, já que “contar com recursos econômicos adequados ao tamanho do projeto é uma necessidade óbvia, embora às vezes esquecida.” (DAVILA; EPSTEIN; SHELTON, 2007, p. 94). A principal fonte de financiamento são os resultados gerados pela própria organização, mas na falta desses, precisa-se recorrer a fontes externas e, nesse caso, a escassez, tanto em quantidade, quanto em disponibilidade, passa a ser um obstáculo.

m) Prazo muito longo do retorno do investimento na inovação: Para Bes e Kotler (2011), a avaliação do retorno do investimento é aplicável a quase todos os tipos de inovação– desde o aprimoramento de um processo até o projeto ou lançamento de um novo produto ou serviço. Os riscos econômicos também estão associados ao tempo que uma inovação leva para ser implantada, a partir de sua ideia inicial. Como não existem garantias do retorno sobre o investimento, os riscos econômicos associados ao processo tornam-se entraves, que se agravam quanto maior for o tempo necessário para o desenvolvimento do processo de inovação. Em muitos casos de inovações radicais, o risco é o fator extremo, já que não existe possibilidade de se “voltar atrás”, ou seja, a mudança gerada não permite, em caso de insucesso, que a empresa volte ao estado anterior à inovação.