• Nenhum resultado encontrado

José Mourinho, um dos treinadores mais vencedores dos últimos anos no futebol, citado por AMIEIRO et al. (2006, pp.98), externa que "a interpretação de um Modelo de Jogo, não de uma forma individual mas sim coletiva, é a base de sustentação da forma da equipe e das oscilações individuais da forma de cada jogador". GAITERO (2006) expressa que é necessário invocar um Modelo de Jogo porque é impossível agir de forma coerente se não existir um objetivo futuro, que conduz os jogadores. Expressa ainda que o futuro já existe, só que visto agora apresenta-se impreciso e obscuro, sendo que à medida que nos aproximamos dele, os seus contornos tornam-se mais nítidos, o Modelo de Jogo permite traçar com rigor a direção que conduz a esse futuro. Gaitero finaliza

20

dizendo que a existência de um modelo de mundo adequado, permite que os jogadores aprendam com antecedência antes de serem obrigados a agir.

Figura 2 - Exemplo de pressing: (a) situação hipotética de jogo; (b) possíveis linhas de passe para o portador da bola; (c) pressing em ação.

O Modelo de Jogo é constituído, essencialmente, por princípios que se articulam entre si e que dão uma certa forma de jogar, com determinados padrões de comportamento em diferentes momentos tanto ofensivos, como defensivos (OLIVEIRA, 2003a). Assim, para facilitar a compreensão do futebol em nível tático, é importante

21

realizar um processo de abstração, que é o processo no qual concentram-se as atenções no que de fato é relevante para o problema e ignora o que é irrelevante. A abstração resulta na redução de conteúdo ou do fenômeno observável. Isso significa representar o problema com o que é importante "sem que lhe sejam retiradas as interações que lhe conferem a essência" (RAMOS, 2009, pp.22). Pela abstração, surgiram diferentes concepções do andamento do jogo para as equipes, nas quais as principais são Modelo Dualista e Modelo de Quatro Momentos (objeto de estudo desta tese).

2.5.1 Modelo dualista

Até início dos anos 2000, o Modelo Dualista era mais aceito e trabalhado na literatura. Nessa organização, o jogo apresenta dois estados opostos e complementares: ofensivo e defensivo. RAMOS (2009, pp.22) expressa que sob essa visão, "o jogo desenvolve-se segundo um quadro de luta permanente pela posse de bola". Uma equipe encontra-se no estado ofensivo se ela tiver a posse de bola e está no estado defensivo quando está sem a bola mas à procura da sua posse. Como consequência do Modelo Dualista, uma equipe no estado ofensivo deve atacar por ter a posse de bola e não ter a bola implica em defender (BAYER, 1994). A Figura 3 apresenta o Modelo Dualista por meio de uma Máquina de Estados6. Observa-se na Figura 3 que uma equipe fica no estado

defensivo enquanto a posse de bola for da equipe adversária e só há transição para o estado ofensivo quando a equipe passa a ter a posse de bola, que permanece neste último estado enquanto a bola estiver em sua posse.

Figura 3 - Representação do Modelo Dualista

6 Máquina de estados: é um modelo matemático de sistema com entradas e saídas discretas. Pode assumir

um número finito e pré-definido de estados. Cada estado resume somente as informações do passado necessárias para determinar as ações para a próxima entrada.

22 2.5.2 Modelo de quatro momentos

Nos últimos anos um outro modelo passou a ser mais aceito do que o Modelo Dualista. Vários autores e treinadores consideram o futebol como tendo quatro momentos, ampliando o Modelo Dualista. Os quatro momentos nessa visão são: organização defensiva, transição ataque/defesa, organização defensiva e transição defesa- ataque (FRADE, 1985; OLIVEIRA, 2003b; AMIEIRO, 2005). Veja Figura 4.

Figura 4 - Modelo de Quatro Momentos

O momento de transição defesa-ataque é caracterizado pelos comportamentos que se devem adotar durante os segundos imediatos à conquista da bola (mudança de atitude defensiva para ofensiva), estando às equipes desorganizadas para as novas funções, sendo o objetivo aproveitar a desorganização adversária e arranjar espaço para proveito próprio (AZEVEDO, 2011). O Modelo de Quatro Momentos tem, atualmente, bastante aceitação. AZEVEDO (2011) cita que diversos treinadores (Van Gall, J. Mourinho, J. Ferreira, V. Frade, J. Valdano, entre outros) evidenciem o Modelo de Quatro Momentos no futebol, que abriu uma nova perspectiva tática para analisar e atuar no jogo.

Observe que o estado ofensivo do Modelo Dualista foi dividido em dois momentos, chamados “organização ofensiva” e “transição defesa/ataque”; assim como o estado defensivo do modelo dualista foi dividido nos momentos “transição ataque/defesa” e “organização defensiva”. Se uma equipe tem a posse de bola ela estará ou no momento de “organização ofensiva” ou de “transição defesa/ataque”. Analogamente, se a posse de bola é da equipe adversária, a equipe estará ou no momento de “organização defensiva” ou de “transição ataque/defesa”.

FERREIRINHA (2008) expõe que, em termos táticos, a transição defesa-ataque tem de ter uma relação íntima com a organização ofensiva, assim como a transição ataque-

23

defesa tem que ter uma relação próxima com a organização defensiva. Nesse sentido, GARGANTA e PINTO (1998) expressam que todos os jogadores devem participar das transições, por meio de uma rápida mudança de atitude mental. Quando a equipe perde a posse de bola, os jogadores devem converter-se imediatamente em defensores, independentemente de estar no momento “organização defensiva” ou “transição ataque- defesa”; quando a equipe recupera a posse de bola, os jogadores devem converter-se em atacantes, independentemente de estar no momento “organização ofensiva” ou “transição defesa-ataque”.

CARVALHAL (2006) afirma que é no aproveitamento de transições, bem como das bolas paradas, que ocorrem grande parte dos gols. OLSEN (1988) analisou cinquenta e dois jogos da Copa do Mundo FIFA de 1986 e verificou que 50% dos gols resultaram de recuperação da posse de bola, ou seja, foram feitos durante uma fase de transição. OLIVEIRA (2006) afirma que muitas das sequências ofensivas positivas e gols acontecem nos momentos de transição e identifica o porquê: as equipes não estão organizadas defensivamente.

Documentos relacionados