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De acordo com a definição tida em conta, foram desenvolvidas várias teorias explicativas da síndrome de burnout.

Foi através do interesse de perceber os efeitos do burnout nos profissionais de ajuda que foram realizadas diversas investigações com o intuito de construir um instrumento de avaliação psicológica que pudesse comparar e abranger amostras cada vez maiores. Estas investigações resultaram na construção do “Inventário de Burnout de Maslach” (MBI), que possibilitou a identificação de três dimensões diferentes do burnout (Maslach & Jackson 1982; cit in Maslach, 1998). Este modelo aparece como multidimensional por identificar o burnout como uma síndrome psicológica caracterizada pelas seguintes dimensões: (a) a exaustão emocional, que refere sentimentos de se ser totalmente excedido pelas exigências do trabalho e pela falta de recursos emocionais para lidar com a situação; (b) despersonalização (ou cinismo) refere uma resposta de desinteresse, negativo ou excessivo relativamente a outra pessoa; e a falta de realização pessoal (ou eficácia) que é entendida como o declínio dos sentimentos de competência e da obtenção de sucesso e realização com a profissão (Maslach & Jackson 1982; cit in Maslach, 1998). Assim, em concordância com este modelo, Maslach (1998) refere que o burnout é definido como uma experiência

Capítulo II

34 individual de stress que se desenvolve num contexto complexo de relações sociais e compreende a concepção do sujeito sobre si mesmo e sobre os outros.

A exaustão emocional representa a resposta basilar de stress (Maslach, 1998), ocorre quando o sujeito percepciona que não tem condições para lidar com as exigências do seu trabalho e manifesta-se por um estado de esgotamento emocional/psicológico e físico. De acordo com Lima e colaboradores (2007), esta dimensão refere-se à diminuição dos recursos emocionais internos provocada por comportamentos interpessoais. Os sujeitos sentem-se com falta de energia para enfrentar as exigências do trabalho, sem fontes de recompensa profissional, exaustos, cansados, com falta de entusiasmo e com diminuição de recursos emocionais e físicos. Delbrouck (2006) refere que a exaustão emocional pode assumir a aparência de frieza e distanciação face ao doente. Maslach e Leiter (1997) afirmam que a exaustão é a primeira reacção ao stress provocado pelas exigências do trabalho ou a grandes mudanças. Geurts, Schaufeli e De Jonge (1998; cit. Oliveira, 2008) refere que para muitos autores esta é a dimensão chave da síndrome de burnout. Contudo, Maslach (2003) menciona que embora seja um critério necessário para o diagnóstico da síndrome de burnout não é o único e não reflecte os aspectos básicos que os indivíduos estabelecem com a sua ocupação.

De acordo com Maslach (2003) e Maslach e colaboradores (2001) os estudos têm evidenciado uma correlação significativa entre a exaustão e despersonalização, pensando-se assim, que esta última aparece como resposta à exaustão emocional excessiva. A despersonalização manifesta-se, assim, como uma defesa inconsciente resultante do trabalho directo com o outro, sendo que o outro passa a ser observado como objecto e não como um ser humano (Delbrouck, 2006; Gil-Monte, 2003; Santos, 2010). Reflecte, também, o desenvolvimento de atitudes frias, negativas e insensíveis perante os utentes de um serviço e colegas de trabalho, sendo que estas manifestam-se em desumanização e por vezes hostilidade. Esta dimensão, segundo Maslach (1998), representa a componente interpessoal do burnout. Esta dimensão é percepcionada como uma tentativa de colocar alguma distância entre si próprio e os utentes. As pessoas com níveis elevados de despersonalização diminuem o tempo que passam no local de trabalho e diminuem também o seu desempenho ao mínimo (Oliveira, 2008).

Por último, a dimensão falta de realização pessoal, que representa a componente de auto-avaliação do burnout. Segundo Maslach e Leiter (1997), esta dimensão é caracterizada por um sentimento crescente de ineficácia profissional, em que a cada

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35 novo projecto apresentado ao trabalhador, este o percepciona como sendo demasiado exigente. Também Frasquilho (2005) refere que o trabalhador vê-se como incompetente e o seu êxito no trabalho e sentimento de competência decrescem. Nesta dimensão existe a tendência para o trabalhador se auto-avaliar pejorativamente, para se sentir triste consigo próprio e para não se sentir satisfeito com o seu trabalho (Santos, 2010).

O modelo geral explicativo de burnout formulado por Maslach, Jackson e Leiter (1996; cit in Maslach, 1998) considera que o burnout é produto de exigências, como o conflito pessoal, e a sobrecarga de trabalho, juntamente com a diminuição do controlo, do suporte social, da autonomia, da perícia e do envolvimento na tomada de decisões, levando ao aparecimento da exaustão emocional, despersonalização e falta de eficácia profissional. Este modelo refere, ainda, que as dimensões estão inter-relacionadas, sendo que a exaustão crónica pode originar despersonalização, mas também pode mediar a relação entre factores organizacionais e a despersonalização. Relativamente à falta de eficácia pessoal, esta surge como uma consequência da exaustão, ou da despersonalização, ou de ambas. Isto quer dizer, que é difícil que a pessoa se sinta realizada, quando se sente exausta ou quando tem de ajudar pessoas pelas quais nutre um sentimento de hostilidade (Oliveira, 2008).

Numa abordagem diferente, Golembiewski e Munzenrider (1988; cit in Cooper et al, 2001; Maslach, 1998) focalizaram-se no modelo de Maslach e criaram um modelo que defende que as diferentes dimensões emergiam ao mesmo tempo, contudo não de uma forma independente, resultando em oito fases diferentes de burnout. O aparecimento destas dimensões segue uma sequência progressiva ao longo do tempo. Neste modelo, a despersonalização é a primeira fase do burnout, seguida da falta de realização pessoal e por fim da exaustão emocional, ao contrário do que defende o modelo de Maslach, Jackson e Leiter (1996; cit in Maslach, 1998), onde surge primeiramente a exaustão emocional, que leva posteriormente à despersonalização e, consequentemente, à falta de realização pessoal. Segundo Mirvis e colaboradores (1996; cit in Fiadzo et al., 1996; cit in Queirós, 2005, p. 41) “as fases agrupam-se em três grupos que classificam o grau de severidade do burnout”, sendo que as fases 1,2,3 reflectem baixo burnout, as fases 4 e 5 indicam um nível intermédio de burnout e as fases 6,7,8 indicam burnout elevado (Queirós, 2005). Fiadzo e colaboradores (1996; cit in Queirós, 2005) referem que a definição de alto ou baixo burnout efectuada por Golembiewski tem por base pontes de corte, sendo que, para a dimensão despersonalização valores maiores ou iguais a 19 são considerados altos, enquanto que,

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36 para a realização pessoal, valores menores ou iguais a 26 são considerados baixos e por fim, para a exaustão emocional valores maiores ou iguais a 24 são considerados altos.

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