• Nenhum resultado encontrado

2.2 Comunicação Organizacional: uma disciplina em desenvolvimento

2.2.1 Modelos de Comunicação Organizacional

Utilizando um enfoque diferente dos encontrados usualmente em pesquisas, Putnam, Phillips e Chapman (2004) enfocam a teoria da comunicação como central e equivalente ao ato de organizar, posicionando a comunicação como produtora das organizações e não vice e versa. Ao assumirem esta proposta, segundo os autores, surge uma série de sete metáforas: conduíte, lente, linkage, performance, símbolo, voz, e discurso. Esta

proposta toma a comunicação como figura e a organização como fundo e, segundo os autores, pretende não oferecer uma ampla revisão da literatura, mas “revolver” esta literatura.

(Continua...)

Metáfora Principais Pressupostos

Conduíte

• Caracterizam-se por utilizar termos como: enviar, intercambiar, transmitir, comutar;

• As mensagens são transmitidas por toda a organização; a comunicação e um conduíte;

• Comunicação é fácil sem esforço e linear;

• Receptores passivos e reativos;

• Mensagens fluem de uma fonte a um receptor.

Lente

• A organização é o “olho”;

• A lente filtra, protege e salvaguarda a transmissão;

• Estudos concentram-se em distorção, busca e aquisição da informação e acessibilidade;

• Emissores e receptores são agentes passivos no processo;

• A informação é incompleta: “telefone sem fio”;

• A pesquisa em comunicação está na formulação da estratégia, da imagem, e sobre a interação entre os stakeholders, como a organização processam e interpretam a informação externa e qual a influência.

Linkage As organizações são redes múltiplas que se sobrepõem com fronteiras permeáveis; Os estudos deslocam o foco da transmissão para a conexão: a comunicação é o conector

que une as pessoas e as organizações como uma rede de relacionamentos;

• Os integrantes estão entrelaçados, a comunicação produz as organizações.

Performance

• As organizações emergem como ações coordenadas, legitimando as suas próprias regras, estruturas e ambientes por meio da interação social;

• A comunicação produz a organização, assim como a organização produz a comunicação;

• A ênfase está na interação e no significado, a visão interativa da comunicação organizacional é o ponto focal para a pesquisa;

• A realidade organizacional nasce na performance comunicativa, desenvolvida pelas narrações da história organizacional, a comunicação é uma interação de mão dupla, pedra fundamental das organizações numa ação-reação-ajuste em um processo co- produtivo, onde a comunicação surge coletivamente e não por meio da experiência cognitiva do indivíduo.

Símbolo • Os autores que posicionam a comunicação como símbolo centram os estudos na cultura, e na construção, manutenção, identificação e comprometimento organizacional, folclore e significados compartilhados;

• A comunicação funciona como a criação, a manutenção, e a transformação de sentidos, a comunicação é interpretada pela produção de símbolos;

• Os indivíduos atuam simbolicamente através de narrativas, rituais, ritos e metáforas

• A comunicação e a organização relacionam-se como um processo de produção, com símbolos produzindo textos.

Voz

• postula estudos enfocando diferentes orientações para as questões do falar, do ouvir, e do fazer diferença;

• Conecta as questões do poder e significação com a comunicação;

• A comunicação funciona simultaneamente para exprimir e suprimir a voz;

• Focaliza a comunicação como expressão ou supressão das vozes dos membros da organização;

• O foco é a atenção sobre a habilidade dos membros tornarem suas experiências ouvidas e entendidas e sobre a existência de uma linguagem apropriada de expressão e sobre a possibilidade de os outros ouvirem, sobre os valores, estruturas e práticas que suprimem a voz: poder e ideologia, maneiras pelas quais os grupos podem usar a comunicação para controlar a organização.

(Conclusão)

Metáfora Principais Pressupostos

Discurso

Na metáfora do discurso, a comunicação é uma conversação. Aborda tanto o processo como a estrutura;

• Refere-se tanto a ação coletiva, quanto à realização conjunta: o diálogo entre os parceiros, as configurações, o contexto e os processos micro e macro. O discurso refere- se à linguagem;

• As organizações são entendidas como interações seqüenciais entre as pessoas. As organizações também podem ser vistas como textos. Textos são conjuntos de eventos estruturados ou padrões ritualizados de interação, que transcendem conversações imediatas.

Fonte: Proposição da autora baseado em Putnam, Phillips e Chapman (2004).

Quadro 1: Metáforas da comunicação.

Ao concluir a sua abordagem, os autores refletem sobre as implicações desta análise para os estudos organizacionais. Ao adotar uma ou mais metáforas como base, os autores sugerem avaliar as contribuições e omissões que cada perspectiva metafórica impõe e apontam três questões para reflexão: em primeiro lugar reconhecem que as metáforas da lente e do conduíte são as principais maneiras pelas quais os acadêmicos organizacionais tratam a comunicação, que segundo os autores “limitam não apenas a maneira como a comunicação é entendida, mas também como as organizações se estruturam”. Os autores salientam que estudar a linguagem como um artefato da cultura ou a comunicação como um instrumento organizacional “limita a complexidade e a completude, tanto da comunicação quanto da organização”.

Em segundo lugar, os autores apontam referenciados em Barnard (1968) e Weick (1979), que os “estudos levam a crer que comunicação e organização são coisas equivalentes”. Em terceiro lugar, os autores identificam uma crise no campo da comunicação organizacional, assim como no dos estudos organizacionais. Esta crise é referida pelos autores como uma crise de representação, onde a comunicação não mais reflete e espelha a realidade, mas é “formativa, no sentido de criar e representar o processo do ato de organizar” (PUTNAM; PHILLIPS; CHAPMAN, 2004, p.110).

Diversos autores abordam questões semelhantes. Dentre os quais destacamos a pesquisa de Casali (2006).

Em estudo recente, na elaboração de um marco teórico para a análise da comunicação organizacional, Casali (2006, p. 42) aponta que é possível reunir diferentes concepções de comunicação organizacional sob duas noções básicas: “comunicação nas

organizações” e “comunicação como organização”. Estas duas dimensões pondera a autora, “não são excludentes”, ao contrário, “são complementares”. Ao se analisar o universo da comunicação organizacional a autora alerta que: “[...] o universo da comunicação organizacional vai além da simples integração destas perspectivas. Afinal, todo sistema é maior do que a soma de suas partes” (CASALI, 2006, p. 42).

O modelo proposto por Casali (2006), que norteará esta pesquisa, é resultado de uma pesquisa, cujo objetivo foi elaborar um marco teórico para a análise da comunicação organizacional nos processos envolvendo organizações em fusões e aquisições internacionais e será o tema apresentado no item a seguir.