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2. DIDÁCTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA

2.1. LEITURA

2.1.5. MODELOS DE APRENDIZAGEM DA LEITURA

Para compreendermos melhor o processo de leitura, é importante examinarmos a forma como se desenvolve a sua aprendizagem e as estratégias inerentes aos modelos de leitura apresentados. Assim, tentaremos caracterizar as várias etapas por que a criança passa ao longo da aprendizagem.

Existem autores que apresentam investigações que tentam explicar o desenvolvimento da leitura: Perfetti et al. (1987) e Morais (1997) cit. por Cruz (2007:103) defendem que o mecanismo de reconhecimento de palavras escritas é um processo de natureza contínua.

Por sua vez, outros autores, como Marsh, Frith e Ehri caracterizam o desenvolvimento da aprendizagem da leitura, como sendo de natureza descontínua (Cruz, 2007:108).

Iremos ainda abordar o modelo de leitura proposto por Chall. Este enumera várias fazes, pelas quais passa todo o processo de leitura, desde a etapa inicial até à sua automatização (Cruz, 2007:108).

O modelo de Perfetti14 sustenta a ideia de que a aprendizagem e o aperfeiçoamento da

leitura não podem ser entendidos como uma sequência de etapas. Assim sendo, aprender a ler é antes um procedimento contínuo em que o sujeito aumenta o número e a qualidade das representações das palavras. Para o autor, existe uma relação directa entre o processamento fonológico e a eficácia da leitura, isto é, a compreensão da leitura é tanto maior quanto mais automatizados estiverem os processos fonológicos (Cruz, 2007:109).

O modelo de leitura proposto por Marsh e colaboradores15 defende que “qualquer

realização cognitiva é o resultado da interacção entre um organismo complexo e um

14Modelo proposto em 1985 (Cruz, 2007:109).

envolvimento complexo”. Afirmam ainda que a aquisição da leitura é um processo cognitivo e que, como todos os outros, desenvolve-se, passando por diversos estádios. Assim sendo, enumeram quatro estádios na aquisição da leitura (Cruz, 2007:112).

No primeiro estádio, “adivinhas linguísticas”, a criança consegue identificar palavras familiares, não por ser capaz de ler, mas sim por reconhecer determinadas pistas visuais e o contexto em que estão inseridas.

No segundo estádio, “rede de discriminação”, a criança estabelece comparações entre as palavras familiares e as palavras desconhecidas. Nesta fase, usam de modo intencional os indícios visuais (semelhanças entre as palavras). Desta forma, os alunos tornam-se capazes de reconhecer visualmente uma maior quantidade de vocábulos.

No terceiro estádio, “descodificação sequencial”, as crianças, para além de se apoiarem no contexto, começam a estabelecer correspondência entre os grafemas e os fonemas, na leitura de palavras simples.

No último estádio, “descodificação hierárquica”, os aprendizes tornam-se capazes de ler de forma fluente, usando regras de reciprocidade entre letras e sons, cada vez mais complicadas.

O modelo apresentado por Frith16 distingue três etapas de aprendizagem da leitura:

logográfica, alfabética e ortográfica. No entanto, antes de se introduzir a aprendizagem da leitura propriamente dita existe uma etapa designada de mágica ou simbólica (as crianças associam qualquer rabisco a palavras).

Na “etapa logográfica”, os aprendizes identificam um pequeno número de palavras que reconhecem através de vários indicadores visuais gráficos. A criança, ao ser constantemente confrontada com as mesmas palavras, escritas da mesma maneira, irá assimilando as suas características, o que fará com que a representação visual dessa palavra seja cada vez mais exacta.

A “etapa alfabética” diz respeito ao uso de uma estratégia alfabética, em que a criança é capaz de traduzir segmentos ortográficos em fonológicos. Desta forma, o aluno lê, tanto as palavras familiares, como as palavras menos comuns, através da correspondência grafo- fonológica.

Por fim, a “etapa ortográfica” corresponde a uma fase em que a leitura se torna eficiente e fluente devido à capacidade de associar os grafemas aos fonemas, de forma mais automática.

O modelo de Ehri17 sugere que a aprendizagem da leitura é distribuída por quatro

fases: pré-alfabética, alfabética parcial, alfabética total e alfabética consolidada.

A “fase pré-alfabética” caracteriza-se por os leitores conseguirem reconhecer palavras através de estímulos visuais e não pela associação da letra ao som.

16 O modelo de Frith, apresentado em 1985, é um dos modelos mais divulgados no mundo da investigação (Cruz, 2007:114).

17 O modelo de Ehri, proposto em 1995, é um dos modelos mais difundidos na investigação (Cruz, 2007:120).

Na “fase alfabética parcial”, as crianças lêem certas palavras, estabelecendo correspondência entre algumas letras e os seus respectivos sons.

Na “fase alfabética total”, os aprendizes conseguem associar todos os grafemas aos fonemas que lhe correspondem.

Por fim, a “fase alfabética consolidada” é a fase que corresponde à eficiência da leitura.

O modelo de Chall18 apresenta a leitura como um processo que se desenvolve durante

seis fases que vão desde a Fase 0 à Fase 5.

Na “Fase 0”19, denominada de “pré-leitura”, a criança adquire a linguagem oral e

desenvolve competências e habilidades através da sua interacção com o mundo que a rodeia. Essas são imprescindíveis para a aprendizagem formal da leitura e da escrita.

A “Fase 1”20, também designada de “leitura inicial”, tem como finalidade que a criança

adquira o código alfabético, usando as letras como transcrição de sons.

A “Fase 2”21, à qual é dado o nome de “consolidação e fluidez da descodificação”, é

caracterizada como a fase em que a criança torna automático o processo de leitura.

Na “Fase 3”22, a criança/adolescente utiliza a leitura como ferramenta para aprender

coisas novas, nesta fase o aprendiz “lê para aprender”.

Na “Fase 4”23, o jovem desenvolve uma leitura altamente eficaz, é capaz de ler e

compreender diferentes tipos de textos, sobre variados assuntos.

Na última fase, “Fase 5”24, a leitura é usada consoante as necessidades do sujeito,

nesta etapa a leitura apresenta-se “ao serviço do desenvolvimento pessoal e profissional do leitor.”

Depois de analisarmos os diferentes modelos apresentados pelos respectivos autores, podemos concluir que o desenvolvimento da leitura é um processo que se desdobra em várias fases, nas quais a criança utiliza diferentes estratégias para adquirir gradualmente esta competência. Desta forma, o aprendiz, antes do ensino formal, deverá possuir um conjunto de conhecimentos e competências básicas que são indispensáveis à aprendizagem. Ao longo do seu caminhar pela formação institucional, a criança/jovem irá adquirindo, de forma sequencial, a competência da leitura, iniciando-se pela simples aquisição do código alfabético e desenvolvendo-se até ser considerado um leitor fluente e competente que usará a leitura para seu benefício próprio.

18 Modelo apresentado em 1987.

19 Fase que compreende crianças dos 0 aos 6 anos. 20 Fase que inclui crianças com 6-7 anos.

21 Fase que engloba crianças entre os 7 e 8 anos. 22 Fase que reúne crianças entre os 9 e os 13 anos. 23 Fase que abrange jovens entre os 14 e 18 anos. 24 Fase que abarca indivíduos maiores de 18 anos.