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Segundo Castro (2003), o termo extensão rural denota um processo onde ocorre uma ação da fonte(profissionais, técnicos, administradores, instituição), que tem por objeto o outro (receptor) que recebe a ação, sobre o qual se descarrega o conteúdo que a fonte deseja transmitir. Primeiramente, a extensão pressupõe a intenção que se encontra na fonte, mas que não necessariamente se encontra no receptor (agricultor). Também é baseada na percepção de uma necessidade que está presente em quem realiza a extensão, mas muitas vezes não é percebida pelo recebedor da ação, sendo assim o dever da fonte “ajudar” a essa população muitas vezes excluída e sem instrução.

Em muitos casos este poder se revela na intervenção na realidade do outro, mesmo que este outro não tenha solicitado tal intervenção. A fonte cria mecanismos de transmissão dos conhecimentos os quais consideram adequados de forma que o receptor se convença de que esta intervenção é o melhor para sua realidade.

Sintetizando os modelos ou paradigmas da extensão propostos por Castro (2003)9, pode-se dizer que os mesmos concebem de maneira diferente a ação do extensionista e a população beneficiada com os serviços de assistência técnica e extensão rural, ou seja, seus atores e receptores, assim como a relação que se estabelece entre ambos, conforme descrito a seguir.

9 Os três modelos propostos por Castro são proposições teóricas, podendo estar presente ou não nas empresas de ATER, de acordo com seu contexto estrutural, político, institucional, dentre outros fatores.

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1.3.1 A extensão como participação

Concepção mais próxima da representação etimológica, a fonte possui informações que deseja compartilhar com quem tem interesse e acredita que estas podem ser universalmente compartilhadas. Nesse caso, não se apropriam do conhecimento e o reconhece como livre e acessível, sendo o papel da fonte o de intermediação.

Em relação ao conteúdo valorizado, a fonte o considera útil e capaz de melhorar de alguma forma a realidade de quem o recebe. Considera os receptores como autônomos, com capacidade de discernir o que é melhor para sua realidade, o que os permite optar pelas alternativas que consideram mais convenientes.

Em relação à atitude básica da extensão, trata-se de uma aliança onde se comunicam experiências e conhecimentos de interesse mútuo. A forma social pode ser individual ou projetos para amplos setores da população.

Tem caráter unidirecional, porém não enxerga o receptor como limitado, mas possuidor da capacidade de selecionar o que lhe convém, eliminando o caráter assistencial e messiânico. Não lhe interessa convencer ou persuadir, mas sim oferecer uma alternativa viável. Segundo Castro (2003:53): Si tuviéramos que sintetizar con pocas palabras los

estados de ánimo de los participantes, emplearíamos los términos alegría, regocijo, para la fuente, y contagio para los receptores.

1.3.2 A extensão como serviço

Concepção que mais se aproxima do profissional liberal. Nesse paradigma a fonte se reconhece como portadora do conhecimento que carece o receptor. Esta modalidade tem um caráter de troca, onde o receptor busca solucionar seu problema e procura um especialista em busca da informação adequada. A fonte não é intermediária da situação, mas sim possuidora de uma resposta efetiva, sendo o receptor responsável em executá-la. O conteúdo é valorizado para ambas as partes e não é de interesse da fonte difundi-lo a todo mundo, mas somente aplicá-lo de maneira especifica. É uma resposta técnica para solucionar problemas específicos.

A fonte estabelece uma relação diretamente proporcional com os receptores, quanto mais valorizados são, mais valorizarão os receptores. A atitude básica desta modalidade é uma

48 resposta dada a quem procura e que no mínimo deve por em prática o que lhe foi transmitido. Se os resultados não saírem como o esperado, considera-se que o receptor provavelmente tenha executado algo de maneira incorreta.

A forma social adotada é especializada, podendo ser individual ou grupal, com pouca improvisação e com aplicação de soluções certas e concretas. Tem um caráter unidirecional e assistencial do conhecimento. A fonte se limita a informar as soluções disponíveis para problemas específicos estabelecendo uma relação contratual onde ambas as partes estabelecem compromissos mútuos. O receptor é visto como um cliente, um usuário do serviço. A fonte não busca persuadir, mas se limita a informar as opções disponíveis.

Sintetizando los estados de ánimo, aplicaríamos los términos seriedad, competencia, para la fuente y confianza para los receptores (CASTRO, 2003:55).

1.3.3 A extensão como intervenção

De acordo com Castro (2003), o modelo de extensão como intervenção é frequente nos organismos públicos. Neste caso, a fonte se divide na instituição e nos seus agentes. Além de ter o domínio das informações, acredita que suas bases científicas são incontestáveis, não estando disposta a discutir os conteúdos transmitidos.

Em relação aos receptores, existem os beneficiários diretos de suas ações, no caso os agricultores, e os beneficiários indiretos, como a sociedade em geral. Essa distinção é importante, pois a fonte se sente “obrigada” a lutar pelo bem estar comum e executar políticas de Estado, programas e propostas cujas verdades científicas são incontestáveis. O conteúdo transmitido é hipervalorizado e muitas vezes supera a importância dos membros da relação.

A ação extensionista se torna um imperativo categórico independente do que pense os receptores, sendo estes obrigados a ser persuadidos. Tem um caráter unidirecional, assistencial e messiânico. O “querer fazer algo” dos agentes se esbarra na realidade e muitas vezes causam desestímulos nos agentes que acreditam em sua “boa intenção”.

Ahora sí es posible hablar de intervención (ya no de asistencia ni de participación) y el agente es facilitador en cuanto la fuente o institución se convierten en el fundamento y origen de toda política y realización en el sector, a través de mensajes, como dijimos anteriormente, incuestionables. La fuente está convencida de la utilidad de sus orientaciones, entre otras razones, porque se asienta en experiencias desarrolladas con éxito en otros lugares (CASTRO:2003:56)

49 A atitude básica desse modelo se materializa em programas e projetos que devem ser executados e se por acaso, não alcançam os resultados alcançados, as responsabilidades são atribuídas às partes. Esta modalidade está intimamente relacionada com a lógica mercadológica, transformando a realidade numa dinâmica de transação reduzida a quantitativos sobre os quais são originados projetos do governo de curto, médio e longo prazo.

Sintetizando como lo hicimos en los casos anteriores, si tuviéramos que representar esta modalidad con pocas palabras, hablaríamos de deber y obligación para la fuente y de acatamiento para los receptores (CASTRO, 2003:57).

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2 A ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL NO BRASIL

Neste capítulo será apresentada a revisão histórica da extensão rural, suas origens no mundo e no Brasil. As principais referências utilizadas são dos autores Caporal, Peixoto, Pettan, Mussoi e Rodrigues pelo detalhamento da história dos serviços de extensão rural e pela contribuição teórica que suas publicações têm para tema.