6.2 AVALIAÇÃO DAS CARTILHAS NA ÁREA DO CIDADÃO
6.2.5 Modelos de Comunicação Pública da Ciência
Este item, considerado de grande relevância para a pesquisa por se tratar da resposta de um dos objetivos específico da mesma, apresenta os resultados da análise das cartilhas (aplicação da questão 5 do roteiro de questões) referentes a identificação dos modelos de comunicação pública da ciência (Modelo de déficit cognitivo (DC), modelo contextual (C), modelo de expertise leiga (EL) e modelo de participação pública (PP).
Destaca-se que, para realizar o enquadramento das cartilhas nos respectivos modelos de comunicação pública da ciência (CPC), fez se necessária a leitura integral das mesmas, tendo como base os pressupostos presentes em Lewenstein (2003) e também, a observação das seguintes características, que estão diretamente relacionadas às questões anteriores que compõe o Roteiro de Questões: a) A cartilha se destina a um público em específico? B) O conteúdo das cartilhas possui um tom informativo / instrutivo?
Feita a leitura e observado os detalhes apontados acima, as cartilhas foram enquadradas em um (ou mais de um, como observado na sequência) modelo de comunicação pública da ciência.
O quadro síntese, a seguir, apresenta a distribuição das cartilhas, de acordo com o modelo de comunicação pública da ciência em que estão enquadradas:
Quadro 14 - Enquadramento das cartilhas nos modelos de comunicação pública da ciência. Modelos de Comunicação ´Pública da Ciência Quantidade/ Percentual
Título das cartilhas
Modelo de Déficit Cognitivo.
3 (25%) 1)“Escolha bem o seu pescado” 2) “Guia de alimentos e vigilância sanitária”;
3)“O que vale a pena saber sobre a propaganda e o uso de medicamentos: a informação é o melhor remédio”.
Modelo Contextual 6 (50%) 1) “Alimentação saudável: fique esperto”;
2) “Cosméticos infantis”;
3) “A turma do Zequinha em: uso correto dos antibióticos;
4)“Alisantes e formol: o que você precisa saber”;
5)“A Saúde passa por aqui: conheça a ANVISA”;
6)“Conversando sobre saúde.”; Modelo de Expertise Leiga 0 Modelo de Participação Pública 0 Elementos híbridos (identificação de mais de um modelo de CPC)
3 (25%) 1) “Rotulagem funcional obrigatória: manual de orientação aos
consumidores”;(DC/EL)
2)“O que devemos saber sobre os medicamentos” (DC/C)
3) “Guia de bolso da saúde do viajante” (C/PP)
Identificou-se que, o modelo de comunicação pública da ciência com maior predominância dentre as 12 cartilhas analisadas é o modelo contextual, presente diretamente em 6 cartilhas (que corresponde a 50% da amostra). Ressalta-se que o supracitado resultado causou surpresa, pelo fato de em uma leitura prévia, ter-se inferido um maior enquadramento no modelo de déficit cognitivo, pelo fato das cartilhas, num primeiro momento, apresentarem predominantemente informações com teor instrucional. Todavia, realizando uma leitura atenta e crítica dos referisos materiais, e associando o conteúdo textual com as imagens, pode-se identificar direcionamentos de público alvo em algumas destas.
Sendo assim, as cartilhas enquadradas no modelo contextual foram as seguintes: 1) “Alimentação saudável: fique esperto”;
2) “Cosméticos infantis”;
3) “A turma do Zequinha em: uso correto dos antibióticos”; 4) “Alisantes e formol: o que você precisa saber”;
5) “A Saúde passa por aqui: conheça a ANVISA”; 6) “Conversando sobre saúde.”.
Deve ser destacado que, dentre as sete cartilhas enquadradas no modelo contextual, cinco são direcionadas ao público infanto-juvenil (as cartilhas 1, 2, 3, 5 e 6), o que nos permite inferir que há um interesse por parte da Anvisa em promover ações de educação e promoção da saúde direcionadas a este público alvo.
No que diz respeito às características do modelo contextual, deve ser lembrado que o mesmo, por se dirigir a audiências específicas, considera que as especificidades de cada grupo devem ser valorizadas, isto é, os materiais produzidos com um direcionamento específico devem possuir características que facilitem a identificação e assimilação dos indivíduos pertencentes ao grupo que se almeja atingir.
Sendo assim, no caso das sete cartilhas enquadradas neste modelo, em especial, as cartilhas direcionadas ao público infantojuvenil, pressupõe-se que, foi levado em consideração na elaboração dos materiais, peculiaridades inerentes a esse grupo as seguintes especificações: linguagem simplificada e disposta textos curtos, uso de ilustrações e recursos narrativos (histórias em quadrinhos, recurso utilizado nas cartilhas 3, 5 e 6), ambos com a pretensa finalidade de atrair a atenção do referido público alvo.
Em relação às cartilhas que se enquadram especificamente no modelo de déficit cognitivo, três (correspondendo a aproximadamente 25% da amostra total) apresentam
características informativas, sendo estas:
1) “Escolha bem o seu pescado”;
2) “Guia de alimentos e vigilância sanitária”
3) “O que vale a pena saber sobre a propaganda e o uso de medicamentos: a informação é o melhor remédio”.
Ao articular o conteúdo das referidas cartilhas com as características do modelo de déficit cognitivo, identificou-se que as mesmas foram elaboradas com base nos seguintes princípios: transmissão linear das informações, na qual um especialista (no caso a Anvisa) objetiva fornecer orientações a um público geral, com a finalidade se suprir suas possíveis ‘lacunas cognitivas” a respeito de um determinado assunto.
Outro argumento que consolida o enquadramento das referidas cartilhas no modelo de déficit cognitivo, é o fato das mesmas, com certa recorrência, fazer uso de verbos no modo imperativo, especialmente o “deve”, o que indica um tom de autoridade.
No entanto, deve ser ressaltada a ocorrência de alguns casos (três no total, correspondendo a aproximadamente 25% da amostra total), nos quais foram identificados mais de um padrão de comunicação pública da ciência em uma cartilha. Vejamos esses casos a seguir:
1) A cartilha “Rotulagem funcional obrigatória: manual de orientação aos consumidores” apresenta predominantemente características que a enquadram no modelo de déficit cognitivo, entretanto, também incorpora uma caraterística do modelo de expertise leiga, ao considerar a incorporação da medida caseira dos alimentos (uma forma popular de se aferir a quantidade das porções) como um elemento imprescindível nas tabelas de informação nutricional dos rótulos de alimentos.
2) A cartilha “O que devemos saber sobre os medicamentos” apresenta características predominantes que enquadram seu conteúdo no padrão do modelo de déficit cognitivo, haja vista seu teor instrucional e informativo, que visa sanar as “lacunas” do público em relação às questões referentes ao consumo de medicamentos, porém, o fato de conter tópicos voltados a grupos específicos (gestantes, crianças, jovens e idosos respectivamente) também a enquadra como modelo contextual;
3) A cartilha “Guia de bolso da saúde do viajante” apresenta elementos de dois modelos de comunicação pública da ciência (contextual e participação pública),
pelo fato de fornecer orientações que são dirigidas a um público em específico (viajantes), ou seja, uma característica do modelo contextual e também, por possibilitar que os leitores participem de atualizações futuras no conteúdo, mediante o envio de críticas e sugestões ao email informado no final da cartilha (PP). Isto posto, ressalta-se que, dentre as cartilhas analisadas, esta foi a única que apresentou essa possibilidade de participação do público.