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4. Realização da Prática Profissional

4.1. Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem

4.1.3. Realização

4.1.3.9. Modelos de Ensino nos Jogos Desportivos Coletivos

Graça e Mesquita (2009) referem que o tratamento didático do jogo nas aulas de EF é frequentemente descurado e, consequentemente, para ser educativo e emancipatório, o ensino do jogo deveria conduzir à melhoria das capacidades de jogar, entender o jogo, relacionar-se com os intervenientes do mesmo, focando a cooperação, oposição, autonomia e interdependência.

O ensino do jogo ao longo do tempo tem sofrido algumas alterações no sentido de dar relevo à compreensão do jogo e à tomada de decisão tática (Mesquita, 2000, cit. por Graça & Mesquita, 2009). No entanto, ainda não foram apresentados resultados irrevogáveis que demonstrem a superioridade destas abordagens (Rink, 1996, cit. por Graça & Mesquita, 2009), talvez devido ao facto de ter sido realizada separação entre o ensino da técnica e o ensino da tática. Desta forma, deveríamos considerar a técnica como incluída no ensino da tática (Mesquita, 2000, cit. por Graça & Mesquita, 2009).

Rink (2001, cit. por Graça & Mesquita, 2009) foi ainda mais longe, referindo a importância das características do aluno e da adequação do conteúdo de aprendizagem como preponderantes na validade e pertinência dos modelos de abordagem para o ensino do jogo.

Assim, é necessário que o professor se descentralize de si próprio passando a situar-se no aluno, criando um melhor clima de aprendizagem. No entanto, o professor não deve deixar de delinear objetivos da prática nem deixar de ter expectativas em relação aos níveis de aprendizagem dos alunos (Graça & Mesquita, 2009).

Neste capítulo farei uma pequena referência aos modelos nos quais me baseei para lecionar o voleibol e o futsal, sendo estes centrados na compreensão do jogo e na subordinação das aprendizagens técnicas à necessidade de as utilizar em jogo, favorecendo a cooperação, a inclusão e a competição.

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Começando por me referir à modalidade de voleibol, a primeira modalidade coletiva que ensinei na escola, embora não tenha seguido o modelo na íntegra, procurei basear o meu método de ensino no modelo de abordagem

progressiva ao jogo no ensino do voleibol (Mesquita, 2006, cit. por Graça &

Mesquita, 2009). Assim, sendo o objetivo deste modelo a criação de oportunidades de prática equitativas para todos, foi necessário a concretização de tarefas que envolvessem as dimensões cognitiva, social e motora, para proporcionar aos alunos competências técnicas e táticas que lhes permitissem evoluir.

Este modelo propõe o ensino do voleibol em quatro etapas, passando pelas formas de jogo 1x1, 2x2, 3x3, 4x4 até ao 6x6. Desta forma, depois da AD dos alunos foi possível dividi-los em dois níveis, colocando-os a trabalhar os conteúdos referentes à primeira etapa de aprendizagem (para os alunos de nível inferior) e à segunda etapa de aprendizagem (para os alunos de nível superior).

Para o trabalho dos conteúdos de cada etapa foi necessário realizar tarefas de diferente tipologia. Neste caso, foram utilizadas tarefas de aquisição, para a familiarização com o objeto de jogo, tarefas de estruturação, para o encadeamento de ações e tarefas de adaptação, para o trabalho do jogo de oposição, provocando no mesmo modificações por representação (colocando regras que facilitem a obtenção do ponto) ou por exagero (provocando regras que dificultem a ação do jogador), tal como é preconizado pelo modelo (Graça & Mesquita, 2009).

Na minha opinião, a UD de voleibol foi concretizada com sucesso pois conferiu aos alunos conhecimentos tanto a nível técnico, mas principalmente a nível tático, pois foi feito um trabalho intensivo das opções que estes deveriam tomar em jogo.

No caso do futsal, o modelo utilizado foi adaptado do MED de Siedentop (1987, cit. por Mesquita & Graça, 2009), que teve como objetivo o ensino de uma modalidade de uma forma mais lúdica e oferecendo uma maior autonomia aos alunos, proporcionando-lhe a vivência de uma mini época desportiva. A aplicação deste modelo foi feita apenas no terceiro período pois achei pertinente que os alunos estivessem numa fase na qual não seriam necessárias tantas

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intervenções minhas a nível de controlo de turma, permitindo-lhes uma maior aplicação das suas responsabilidades.

Os alunos foram distribuídos por equipas nas quais trabalharam ao longo de toda a UD que estava dividida em pré-epoca e época desportiva. Inicialmente foram apresentados problemas por parte dos alunos, pois não estavam de acordo com as equipas, no entanto, a questão da tolerância foi muito trabalhada ao longo da modalidade, fazendo com que os alunos compreendessem que o importante não era serem todos jogadores profissionais de futsal, mas sim utilizar os pontos positivos de cada aluno na realização das diferentes tarefas.

Penso que neste caso, a maior vitória conseguida foi a nível dos capitães das equipas que se revelaram capazes de desempenhar o seu papel como líderes. A escolha dos capitães foi feita por mim, tentando colocar os alunos que normalmente destabilizavam mais as aulas, conferindo-lhes assim uma maior responsabilização.

O facto de os alunos assumirem papéis de árbitro e oficiais de mesa também foi um aspeto positivo, principalmente para as alunas com mais dificuldades técnicas e táticas no futsal, pois foi-lhes dada oportunidade de desempenhar um papel no qual obtivessem sucesso.

Penso que a experiência do MED foi muito benéfica tanto para mim como para os alunos, principalmente no domínio cognitivo e social. No entanto, penso que este modelo também trouxe algumas dificuldades, principalmente na transmissão de conhecimentos durante o jogo e na melhoria das capacidades motoras, pois estando a aula organizada de forma a colocar os alunos em diferentes papéis, a minha atuação muitas vezes foi de nível organizacional quando deveria ter sido mais direcionada para a melhoria das competências técnicas e táticas dos alunos.

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