2.2. A BASTECIMENTO DE ÁGUA EM P ORTUGAL
2.2.3. MODELOS DE GESTÃO E ENTIDADE GESTORA
O setor de serviços de água compreende as atividades de abastecimento de água às populações e também a drenagem e o tratamento das águas sendo essencial ao bem-estar dos cidadãos, à saúde pública, às atividades económicas e à proteção do ambiente. Dada a sua importância, o fornecimento às populações em quantidade, qualidade e a um preço socialmente justo devem ser parâmetros a ter em conta.
Historicamente tem-se verificado o progressivo alargamento dos modelos de gestão disponíveis, permitindo uma decisão mais indicada para cada situação por parte da EG. Contudo, subsiste a necessidade de inovação em matéria de modelos de gestão devido à crescente exigência de serviço públicos e aos pesados investimentos necessários para colmatar problemas financeiros.
Neste contexto justifica-se, não só a definição de soluções de gestão alternativas que contribuam para a eficiência e a sustentabilidade do setor, mas também a otimização de modelos existentes, quer a nível operacional quer a nível do seu enquadramento legal.
Com vista ao bom desempenho do setor existe um conjunto de princípios de onde se destacam a universalidade de acesso, a continuidade e a qualidade de serviço, a eficiência e a equidade de preços. (ERSAR,2011). Estes serviços são prestados por um universo de cerca de quinhentas EG, podendo ser de titularidade estatal ou municipal.
Nos casos de titularidade estatal, os modelos de gestão passíveis de serem utilizados face à legislação em vigor são:
o Gestão direta pelo Estado;
o Delegação pelo Estado em terceira entidade;
o Concessão pelo Estado em terceira entidade, como sucede com os sistemas multimunicipais concessionados.
Nos casos de titularidade municipal, os modelos de gestão passíveis de serem utilizados são:
o Gestão direta do serviço pelo município, como é o caso dos serviços municipais, dos serviços municipalizados e da associação de municípios;
o Delegação do serviço em empresa constituída em parceria com o Estado;
o Delegação do serviço pelo município em entidade integrada no respetivo setor empresarial, a que correspondem as empresas criadas pelos municípios, ou em freguesias ou associações de utilizadores;
o Concessão do serviço pelo município em empresa, como sucede com todos os sistemas municipais concessionados.
Apresenta-se, de seguida, o Quadro 2.3 com a informação anterior resumida para melhor compreensão do que se pretende transmitir.
Quadro 2.3 – Modelos de gestão de serviços utilizados no setor (ERSAR,2011)
MODELOS DE GESTÃO UTILIZADOS EM SISTEMAS DE TITULARIDADE ESTATAL
Modelo Entidade Gestora (EG) Tipo de parceria
Gestão direta Estado Sem parceria
Delegação Empresa pública Sem parceria
Concessão Entidade concessionária multimunicipal Parceria Público-Pública podendo evoluir para parceria Público-Privada
MODELOS DE GESTÃO UTILIZADOS EM SISTEMAS DE TITULARIDADE MUNICIPAL OU INTERMUNICIPAL
Modelo Entidade Gestora (EG) Tipo de parceria
Gestão direta
Serviços municipais Sem parceria
Serviços municipalizados Sem parceria
Associação de municípios Parceria Público-Pública
Delegação
Empresa municipal pública Sem parceria
Empresa Intermunicipal pública Parceria Público-Pública Empresa municipal ou intermunicipal de
capitais totalmente ou maioritariamente públicos
Parceria Público-Pública ou Parceria Público- Privada respetivamente
Junta de freguesia e associação de
utilizadores Parceria Público-Pública
Concessão Entidade concessionária multimunicipal Parceria Público-Privada
A abordagem no âmbito dos modelos de gestão visa assegurar os objetivos fixados na Estratégia e garantir a sustentabilidade económica e financeira do sistema, garantindo a recuperação integral do custo dos serviços, otimizando a gestão operacional, eliminando custos de ineficiência e contribuindo para o reforço e dinamização do tecido empresarial privado.
Os modelos de gestão futuros têm de incluir soluções alternativas que resolvam todos os constrangimentos atuais, apresentando-se na Figura 2.22 os seus principais objetivos.
Fig. 2.22 – Objetivos dos modelos de gestão (ERSAR,2011)
Os serviços de águas e resíduos têm sido classificados segundo as designações de “alta” e “baixa”, consoante as atividades realizadas. Esta classificação, que esteve no cerne da criação dos sistemas multimunicipais, maioritariamente responsáveis pela alta, e dos sistemas municipais, maioritariamente responsáveis pela baixa, corresponde, respetivamente, às atividades grossista e retalhista de abastecimento de água, de saneamento de águas residuais urbanas e de gestão de resíduos urbanos. A complexidade das soluções necessárias ao desenvolvimento desta atividade exige investimentos extremamente elevados, com elevados períodos de recuperação do capital e com uma elevada imobilização. Isto explica o facto de ser um setor com caraterísticas de monopólio natural, onde se registam custos de produção significativamente inferiores com um único operador para cada serviço e em cada região. Importa, assim, aplicar critérios comparáveis de avaliação de qualidade de serviço e definir princípios subjacentes à fixação do preço do serviço, independentemente do modelo de gestão adotado, de forma a atingir o nível de transparência e igualdade de tratamento dos diferentes tipos de solução.
Considera-se uma distinção entre as EG “típicas”, com o objetivo de captar, tratar e vender a água (EG em alta) a outras EG responsáveis pela distribuição em baixa (EG em baixa).
Como é possível constatar na Figura 2.23, o número de EG em baixa não sofreu grande alteração ao longo destes últimos anos, verificando-se uma diminuição do número de EG, de 363 para 359, de 2011
Otimização das “altas”
Fusão de sistemas existentes Otimização tarifária
Revisão de pressupostos das Concessões
Integração de sistemas em “baixa”
Integração plurimunicipal Adoção de modelos de gestão empresarial
Financiamento viável e garantido
Fundo de Coesão
Participação do setor privado Participação da banca comercial
Tarifas sustentáveis
Capacidade de amortização e geração de cash-flow
Tarifários uniformizados e socialmente aceitáveis
para 2012, devido essencialmente à avocação do controlo da qualidade da água em pequenas zonas de abastecimento de alguns municípios.
Fig. 2.23 – Evolução do número de EG em baixa (ERSAR, 2011)
Segundo a ERSAR, a distribuição das EG responsáveis pelo serviço de abastecimento de água em baixa em Portugal é conforme a da Figura 2.24.
Fig. 2.24 – Distribuição das entidades gestoras de serviço de abastecimento de água em baixa (ERSAR, 2011)