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1. INTRODUÇÃO

2.3 Estratégias de Internacionalização

2.3.2 Modelos do Paradigma Eclético

O paradigma eclético advém da discussão sobre a alocação de recursos em um país estrangeiro por meio de investimentos estrangeiros diretos ou da exportação de bens e serviços. Esta abordagem é embasada nas vantagens de localização dos países e nas vantagens de propriedade das empresas (DUNNING, 1977). Uma empresa nacional ao servir o mercado interno pode adotar diversas maneiras de crescimento, como diversificação horizontal, por meio de novas linhas de produtos, e verticalmente, ao investir em novas atividades ou adquirir empresas existentes. Não obstante, há a opção de explorar mercados estrangeiros, que expõe a empresa à concorrência do país de destino, ainda desconhecida. Logo, esse movimento requer a posse de vantagens de propriedade adicionais

suficientes para superar os custos de servir um mercado distinto daquele do país de origem (HIRSCH, 1974).

A posse de vantagem de propriedade (ownership) face às empresas estrangeiras é o primeiro passo à internacionalização considerado nos Modelos do Paradigma Eclético, por recursos que, pelo menos durante certo período, são exclusivos. O segundo se refere ao uso destes recursos, os quais se constituem em vantagens, em vez de cedê-los ou vende-los (internalization) e o terceiro abrange o interesse da empresa em utilizar as vantagens de propriedade em conjunto com alguns inputs, como recursos naturais, fora de seu país de origem (location) (DUNNING, 1977). As iniciais das palavras em inglês formam a sigla OLI, amplamente utilizada para explicar o paradigma eclético. Quanto mais específicas forem as vantagens de propriedade, maior é o estímulo para internaliza- las e quanto mais atrativo for o mercado estrangeiro em comparação ao nacional, maior a probabilidade de a empresa internacionalizar-se. Ainda, são levados em consideração a economia e outras características do país de origem e de destino, o tipo de produto que se pretende produzir e a estratégia organizacional (DUNNING, 1977;1980).

Especificamente, as vantagens de propriedade podem ser de três tipos. O primeiro se refere à posse de certa propriedade que nenhuma outra empresa da região possui, como acesso ao mercado, e matéria-prima, economias de escala, patentes e competências empresariais. A segunda advém do desfrute de uma estrutura empresarial mais desenvolvida do que novos entrantes ou, até mesmo, de empresas já existentes que desejam atuar em uma nova área. Isso se justifica devido à experiência administrativa, acesso a recursos mais baratos, conhecimento de mercado e custo marginal zero ou mais baixos do que aqueles que serão suportados pela concorrência. A terceira vantagem é uma extensão da segunda e é específica a empresas multinacionais, pois operar em vários ambientes diferentes capacitam-nas a usufruir das melhores características de cada país, bem como evitar riscos (DUNNING, 1977).

Além disso, ao considerar que a função de uma empresa é a de transformar inputs em outputs mais valiosos, Dunning (1980) diferenciou os inputs em dois tipos. O primeiro se refere aos inputs que estão disponíveis da mesma maneira a todas as empresas, independentemente de seu tamanho ou nacionalidade e que são específicos à sua localização, isto é, devem ser usufruídos em sua origem. São exemplos os recursos naturais, mão de obra, proximidade dos mercados consumidores, ambiente legal e comercial, legislação e cenário político. O segundo tipo de inputs são propriedades

específicas da empresa, algumas desenvolvidas por ela, como tecnologia e habilidades organizacionais, outras compradas, como patentes, marcas, direito de uso exclusivo de determinada matéria-prima ou de explorar um mercado específico.

Independentemente do país de origem, os inputs do segundo tipo são valiosos mesmo fora da localização específica, pois as empresas podem explorá-los e, ainda assim, incorrer em custos mínimos de transferência e, ao menos que elas os vendam ou cedam seus direitos de uso, eles são exclusivos por determinado período de tempo. Ainda, as multinacionais desfrutam de algumas vantagens adicionais, como a habilidade em se envolver em políticas de precificação internacional, mover ativos líquidos entre áreas para se proteger de flutuações na economia, redução do risco pela diversificação de portfólios e do impacto de greves industriais e pela possibilidade de acoplamento de unidades de produção específicas (DUNNING, 1977; 1980; 1988).

Pela posse de vantagens de propriedade, determina-se quais empresas irão suprir certa parcela do mercado estrangeiro, enquanto o padrão de localização explica se a empresa irá suprir esse mercado por meio de exportação ou produção no local. Ademais, a internalização das vantagens de propriedade possibilita a capitalização das imperfeições de mercado. Isto ocorre quando os custos de transação são elevados, há dificuldades em se manter interdependência nas relações econômicas entre as empresas e as informações sobre o produto ou serviço não estão disponíveis de imediato ou são caras para se adquirir. A internalização também é preferida no momento em que a posse de recursos inutilizados, tais como capacidade de produção, podem ser explorados a custos marginais mais baixos (DUNNING, 1980; 1988).

O modelo do Paradigma Eclético tem sido muito usado por diferentes áreas como Negócios Internacionais e Gestão de Negócios, sobre o qual tanto críticas quanto elogios foram feitos ao longo dos anos. Com a ascensão dos países emergentes, alguns autores colocam a necessidade de rever o modelo para fazer adequações diante da realidade desses países. O entendimento das variáveis que levam ao processo de internacionalização apontados pelo paradigma eclético junto às políticas públicas de incentivo à inovação pode ajudar no fortalecimento das empresas de países emergentes e ao aumento das suas atividades de inovação (STAL; CAMPANARIO, 2011). Por fim, mesmo diante dos benefícios de se internacionalizar, Dunning (1977) ressaltou que existem custos da mesma forma que oportunidades e considerou que se os mercados se tornam

menos imperfeitos, os ganhos de internacionalização são reduzidos. Ressalta-se, por fim, que uma das bases do modelo do Paradigma Eclético foi a teoria dos custos de transação.