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As diferenças entre os Estados europeus variam consoante o seu conjunto complexo de dimensões legais e organizacionais, dos quais resulta um sistema que reflete a forma diferenciada de atribuição dos serviços sociais ou transferências de recursos do Estado, na garantia dos direitos sociais. Neste sentido, podemos distinguir entre vários modelos, nomeadamente: o modelo nórdico, do qual fazem parte a Dinamarca, a Finlândia, a Suécia e Países Baixos; o modelo anglo-saxónico, composto pela Irlanda e pelo Reino Unido; o modelo central, que incluí a Áustria, a Bélgica, a França, a Alemanha e Luxemburgo; e o modelo mediterrânico constituído pela Grécia, Itália, Portugal e Espanha.

O Modelo Nórdico caracteriza-se pela elevada despesa pública na área da proteção social, assim como pelos elevados impostos que financiam os serviços públicos de proteção universal e de carácter redistributivo, cujo acesso resulta de um direito de cidadania, sendo por isso classificado como modelo redistributivo institucional. Para além disso, neste modelo, a política social é dirigida à maximização das capacidades de independência individual, em que a promoção do emprego surge como sustentação económica da solidariedade em geral, sendo designado também como o regime social-democrata.

No que diz respeito ao desafio demográfico, respetivamente à prossecução de elevadas taxas de natalidade, os ordenamentos pertencentes a este modelo concedem um apoio estatal universal a todas as famílias, prestando especial atenção à igualdade entre géneros, quer na vida profissional quer na vida doméstica. Assim, as suas soluções para o problema da natalidade passam pela implementação de políticas públicas sociais que promovam os interesses dos indivíduos e não das famílias como unidades; e pela implementação de formação profissional, permitindo uma conciliação entre a vida profissional e a vida familiar e, facilitando ainda o regresso à vida ativa após o gozo das licenças parentais.

Por sua vez, o modelo anglo-saxónico pauta-se por uma tradição de atribuição assistencialista em relação aos benefícios sociais, justificada nos casos de carência de meios. Logo, possui uma natureza de garantia de última instância, colocando nos rendimentos da atividade económica a base em que assenta o acesso à prestação, sendo por isso, um modelo residual de política social. Sob outra perspetiva, neste regime liberal, o Estado encoraja o funcionamento do mercado, quer diretamente segundo esquemas privados de segurança social, quer indiretamente através de benefícios sociais.

Face aos desafios da reduzida natalidade, não são implementadas políticas familiares explícitas e abrangentes. Assim, este modelo caracteriza-se por um nível de suporte familiar baixo, adotando, maioritariamente, políticas públicas centradas, com eficiência, na luta contra a pobreza das famílias e das crianças, tendo por base a lógica que o Estado não deve interferir nas opções de vida individuais. Por outro lado, um dos principais objetivos é a garantia de igualdade de oportunidades para todas as crianças, promovendo políticas públicas na área da educação, bem como políticas públicas ligadas à flexibilidade do mercado de trabalho, permitindo um regresso fácil dos

Uma reflexão a partir do regime jurídico português

progenitores ao mundo laboral, após o gozo de direitos associados à parentalidade.

Por seu turno, o modelo continental também designado por modelo alemão qualifica-se por assentar, principalmente, em prestações atribuídas em função das contribuições para o sistema. Assim, trata-se de um modelo de mérito, no qual quanto maior a contribuição, maior a proteção. De outro ponto de vista, este regime denomina-se corporativo, uma vez que os benefícios atribuídos estão relacionados com o estatuto socioprofissional e com a estrita intervenção do Estado, apenas nos casos de incapacidade de suporte dos riscos sociais por outras instituições

Naquilo que diz respeito às políticas de incentivo à natalidade e à proteção familiar, estes ordenamentos jurídicos implementam políticas públicas que se caracterizam por um nível intermédio de apoio às famílias, sendo que esta proteção varia de acordo com a situação laboral dos progenitores. Por outro lado, estas são conjugadas com medidas nas áreas da fiscalidade, bem como, nas áreas laborais e sociais.

Segundo outra perspetiva, apesar de estes ordenamentos fomentarem políticas de conciliação entre a vida profissional e a vida familiar, traduzindo-se em medidas como: horários adaptados e vantajosas licenças parentais, os instrumentos familiares continuam a ser caracterizados pela sua subsidiariedade, assim como, pela promoção de uma visão tradicional dos papéis de pai e mãe no seio familiar, designadamente, o homem/provedor e a mulher/cuidadora. Por último, as suas soluções passam também por ajudas específicas no âmbito da luta contra a pobreza das crianças, através de um complemento de rendimento.

Por fim, o modelo mediterrânico carateriza-se pelo fortalecimento da família e assente num bem-estar social que afete o máximo de obrigações de assistência à mesma e pela forte influência dos princípios de pensamento social da Igreja Católica, como de pensamento e ações do corporativismo. Logo, este modelo pauta-se pelo seu carácter híbrido e por dualismos na proteção social.

No que diz respeito às políticas públicas de natalidade e de apoio à família, estes ordenamentos, à semelhança do que ocorre nos países que pertencem ao modelo continental, seguem maioritariamente políticas que não incentivam, de forma eficiente, a partilha de responsabilidades parentais. Esta desigualdade de género deve-se à forma como a sociedade encara os papéis de homem/provedor e de mulher/cuidadora, bem como pelos apoios públicos prestados, que por seu turno, tendem a continuar focados, em grande medida, na participação da mulher na vida familiar.

Para além disso, nestes ordenamentos evidencia-se a ausência de uma forte aposta em políticas públicas que constituam uma alternativa aos cuidados prestados pela família. Assim, carecem de desenvolvimento as políticas associadas aos equipamentos e serviços públicos, tais como creches; jardins- de-infância e centros de ocupação de tempos livres. Ainda assim, são fomentadas políticas que promovem licenças e subsídios parentais.

Bibliografia

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Social Policy: an introduction;

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CORREIA, Mónica - Políticas de incentivo à natalidade, maternidade e parentalidade nos 27 países da União Europeia. Lisboa: Faculdade Nova de Lisboa. 2011. 101f. Dissertação de Mestrado, pp.30; 39; 51 e 58. Disponível na internet: http://run.unl.pt/handle/10362/13982;

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Anexo 3

Texto 2: Medidas de incentivo à natalidade nas Regiões Autónomas dos