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MODELOS EXPLICATIVOS DO EFEITO NEGATIVO DO DESEMPREGO NO BEM-ESTAR SUBJECTIVO

Existem três tradições teóricas, no que se refere à investigação do desemprego, no campo da saúde pública: i) a tradição biomédica, que se centra essencialmente nos mecanismos fisiológicos, que justificam a correlação entre circunstâncias físicas e os fenómenos biológicos (especialmente os fenómenos patológicos); ii) a tradição sociológica, que se baseia nos condicionantes materialistas que impedem e facilitam o desenvolvimento humano; e iii) a tradição psicológica, que estuda o indivíduo e os potenciais diferenciados (percepção, aprendizagem, motivação, entre outros) (Dooley, 2003).

Não obstante as diferenças entre estas perspectivas, as tradições têm servido de base para a construção de modelos novos e complexos que absorveram alguns elementos mútuos, nomeadamente o modelo da privação económica, o modelo da perda de controlo, o modelo do locus de controlo, o modelo do stresse, o modelo do suporte social, o modelo do envolvimento com o trabalho e o modelo das funções latentes. A integração das abordagens, parece atribuir um poder explicativo mais abrangente e clarificador da ligação entre o desemprego e os efeitos na saúde. Passemos assim, a abordar alguns dos modelos desenvolvidos nesta temática.

Alguns investigadores, têm considerado o stresse como a resposta do organismo aos acontecimentos que o desafiam (Cannon, 1929; Selye, 1946), enquanto outros investigadores destacam os processos cognitivos, considerando o stresse como o resultado da interacção entre a pessoa e o meio (Holmes & Rahe, 1967; Beck, 1993; Cox, 1978; Folkman, 1984; Lazarus & Folkman, 1984). Em relação à última perspectiva, French & Kahn (1962),

23 elaboraram um modelo teórico, que destaca a relação entre os estímulos psicossociais e o impacto na saúde, cuja fundamentação se enquadra na teoria do stresse. Os modelos explicativos têm desenvolvido esforços para analisar o papel importante do coping e do suporte social na mediação da reacção de stresse (Levi, 1997). No entanto, são poucos os estudos que têm incidido sobre o processo de coping durante o desemprego (Vinokur & Schul, 2002; Janlert & Hammarström, 2009).

As teorias do suporte social e rede social têm alguma proximidade conceptual com a perspectiva anterior. Esta abordagem diferencia entre dois mecanismos do suporte social, o efeito directo e o efeito protector. O modelo que adopta o primeiro efeito, reforça que a falta de rede de suporte social tem consequências imediatas sobre a saúde – a existência de contacto humano é considerado como uma necessidade fundamental, as reacções desfavoráveis surgem na sua ausência. De acordo com o modelo protector, o suporte social age como um escudo contra diferentes situações ou estímulos stressores, como por exemplo o desemprego.

Na investigação de House, Williams e Kessler (1986) estudou-se os efeitos da situação de desemprego no âmbito desta perspectiva. O estudo revelou um efeito modesto e selectivo do desemprego na integração e suporte social. Por outro lado, estes factores mostraram-se críticos na promoção da saúde, e têm um efeito atenuante ou protector do impacto do desemprego. No estudo qualitativo de Thomas, McCabe e Berry (1980), os resultados sugeriram, que durante a situação de desemprego, poderá ainda surgir um efeito positivo relacionado com o aumento de tempo dispendido com a família.

Fryer (1986) e Ezzy (1993), consideram importante analisar o significado atribuído pelo indivíduo à situação de desemprego, ou seja, a dimensão psicológica do desemprego.

24 Consideram que a privação financeira e as dimensões latentes elicitadas por Jahoda (1979, 1981, 1982, 1992) concorrem, em conjunto, para a restrição da agência pessoal que condiciona o modo como os indivíduos procuram compreender e lidar com a transição para o desemprego e com todas as restrições que lhes estão inerentes. Sendo assim, uma vivência negativa da situação de desempregado, seria explicada tanto pela ausência das funções psicológicas do trabalho como pela restrição da acção, consequência das dificuldades financeiras emergentes da condição de desemprego, tal como das normas, expectativas e representações sociais, que poderão limitar e desencorajar o papel activo que ele poderia desempenhar, no sentido de um maior controlo pessoal sobre os acontecimentos e sobre o seu próprio percurso de vida (Fryer, 1988).

No modelo vitamínico Peter Warr (1987) adopta a concepção de saúde mental como multifactorial e identifica cinco componentes básicas: bem-estar afectivo, competência pessoal, aspiração, autonomia e funcionamento integrado. Segundo ele, dessas cinco componentes é o bem-estar afectivo ou bem-estar psicológico que ocupa o papel central de forma a averiguar a saúde mental do desempregado. Entre os vários estudiosos que ressaltam a condição do bem-estar psicológico como indicador de saúde mental, destaca-se Warr (1987), que aborda a saúde mental, considerando predominantemente os seus aspectos positivos. Essa concepção de saúde mental possibilita a integração dos resultados da investigação psicossocial sobre o desemprego a um contexto teórico formulado no modelo

vitamínico de Warr. Nele está proposto, que o bem-estar psicológico do indivíduo (medida

central da saúde mental), dependerá de quanto o seu ambiente psicossocial lhe proporciona oportunidades de experiências positivas, como estas são percebidas e aproveitadas.

25 que os indivíduos podem modelar as influências ambientais de diferentes maneiras e explica os efeitos positivos observados com o abandono de um trabalho stressante ou com a reintegração no mercado de trabalho, e de igual modo, os efeitos negativos de um trabalho insatisfatório e as diferenças na saúde mental entre subgrupos de desempregados.

Por fim, são escassos os estudos que pretendem comparar e testar os diferentes modelos explicativos com um mesmo conjunto de dados, pelo que a literatura demonstra que seria ainda promissor tentar desenvolver novos modelos que explicam os mecanismos envolvidos nesta relação.

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CAPITULO 2 – O BEM-ESTAR SUBJECTIVO E O DESEMPREGO