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Embora seja difícil haver um processo de integração completamente voltado apenas para o setor econômico, este âmbito diferencia-se dos demais quanto a seu estudo, por possuir teorias que o classificam em diversos modelos, em uma trajetória de aprofundamento das relações entre os atores.

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SILVA, Karine de Souza. De Paris a Lisboa: Sessenta anos de integração européia. In: SILVA, Karine de Souza (Org.). Mercosul e União Européia: o Estado da arte dos processos de integração regional. Florianópolis: Modelo, 2010. p.72. De forma sucinta, uma definição de OI amplamente aceita pela doutrina foi elaborada durante o trabalho de codificação do direito dos tratados, resultando na Convenção de Viena de 1969, sendo uma OI conceituada como “uma associação de Estados, estabelecida por meio de tratado, dotada de uma constituição e de órgãos comuns, possuindo personalidade jurídica distinta da dos Estados-membros” (In: 25 In:FITZMAURICE, Gérald. Annuaire de la Comisión du Droit International, 1956-II, p.106, 101, art 3.)

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EUROPA. Sínteses da legislação da UE: Glossário. Disponível em: < http://europa.eu/legislation_ summaries/glossary/eu_union_pt.htm> Acesso em: 24 mai 2011.

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DIEZ, Thomas; WIENER, Antje. Introducing the Mosaic of Integration. In: DIEZ, Thomas; WIENER, Antje (orgs.). European Integration Theories. 2. ed. Nova Iorque: Oxford, 2009. p. 1-24.

Nesse sentido:

Dispõe-se (...) de um conjunto de aportes teóricos que permitem caracterizar a integração como um processo em marcha, de crescente interdependência, originado de distintas e diferentes unidades constitutivas, criando um novo sistema inter-relacionado e em formação, cujo exemplo mais avançado é a União Européia. Estas incursões teóricas partem da teoria das uniões aduaneiras, desenvolvida por Jacob Viner em 1950 e aplicada por diversos autores.28

Dentre os pesquisadores que desenvolveram a teoria de Viner29, destaca-se o teórico Bela Balassa, que elaborou cinco modalidades para diferenciar a intensidade e os graus da integração econômica. Estas cinco categorias seriam: zona de livre comércio, união aduaneira,

28

In: OLIVEIRA, Odete Maria. Velhos e novos regionalismos: uma explosão de acordos regionais e bilaterais no mundo. Ijuí: Ed. Unijuí, 2009. p. 49.

29

A teoria sobre as uniões aduaneiras e as zonas de livre comércio tem seus primeiros estímulos a partir de 1950, com os estudos do economista Jacob Viner, centrados nas condições sob as quais a alocação dos recursos mundiais é melhorada pela criação de acordos regionais. Desde que Viner usou, primeiramente, as expressões "criação de comércio" e "desvio de comércio", a teoria percorreu um longo caminho. Conforme explica o prof. Viner, na medida em que uma união aduaneira discrimina contra fornecedores mundiais de baixo custo e causa importações com perda, existe "desvio de comércio", em que os fluxos de comércio, que são interrompidos entre a união aduaneira e os países mundiais, são assumidos por produtores menos eficientes da área integrada, os quais não eram capazes de competir com os produtores mundiais em situação de não discriminação, como a que existia antes da formação da união aduaneira. Contrariamente, na medida em que a união aduaneira liberaliza o comércio dentro do grupo e causa uma redução da produção ineficiente dentro da área, temos uma "criação de comércio. Viner considera que, para que a união aduaneira possa beneficiar os participantes, a "criação de comércio" deve superar o "desvio de comércio", de modo que, no balanço, a formação da união desloca fontes de suprimento para custos mais baixos, mais do que para custos mais altos. Ver: LOPES PORTO, M. C. Teoria da integração e políticas comunitárias: face aos desafios da globalização. 4. ed. Coimbra: Almedina, 2009. p. 215-232.

mercado comum, união econômica e união econômica total. Sendo que, normalmente, cada uma das etapas compreende a realização do estágio anterior30.

A primeira fase, denominada de zona de livre comércio, caracteriza-se pela formação de uma área entre dois ou mais países, dentro do qual se suprimem paulatinamente os entraves aduaneiros e de outras índoles que gravam o comércio de seus produtos. O objetivo desta fase é a eliminação dos obstáculos fiscais para um incremento recíproco das trocas comerciais. Para a conformação de uma zona de livre comércio, não há necessidade de transferência de parcelas de soberania para uma entidade superior aos Estados.31

A união aduaneira é definida pela formação de uma área onde, além da supressão paulatina dos entraves aduaneiros, ocorre a realização de uma política comercial comum e também o estabelecimento de uma tarifa externa comum, com relação a terceiros países. Já o mercado comum é uma união aduaneira que incorpora dentro de seu âmbito de atuação as liberdades fundamentais do mercado, isto é, a livre circulação não apenas de bens, mas também de todos os outros fatores de produção (pessoas, serviços e capitais), harmonizado totalmente (ou coordenando) as políticas macroeconômicas.32 Conforme salienta o professor de direito da integração Raul Granillo Ocampo, “[...] trata-se de uma categoria que implica uma concessão maior de soberania do que uma zona de livre comércio ou uma união aduaneira, e que traz implícita a noção de supranacionalidade.”33

30

OLIVEIRA, Odete Maria. Op. cit., p. 52.

31

OCAMPO, Raul Granillo. Op. cit., p.30. “Uma grande quantidade de autores, acrescenta uma sexta modalidade, denominada área ou zona de preferência ou de intercâmbio preferência, categoria nova que se insere como primeira modalidade, por ser de laços menos estreitos [...]. Nessa etapa, dois ou mais países dão a suas respectivas produções um tratamento, em matéria aduaneira, preferencial [...] que não se traduz em eliminação de tarifas e direitos alfandegários, e sim na outorga do que normalmente se conhece como margem de preferência, que não é outra coisa senão uma vantagem econômica concedida aos países da zona.” In: OCAMPO, Raul Granillo. Op. cit., p. 28.

32

LOPES PORTO, Manuel Carlos. Op. cit., p. 232.

33

A união econômica, por sua vez, consolida-se quando os Estados- membros de um mercado comum unificam suas políticas internas. Ou seja, passam a coordenar suas áreas monetária, fiscal, industrial, agrícola etc. Segundo Bella Balassa, na união econômica coordena-se a supressão de restrições aos movimentos de mercadorias e fatores de produção com certo grau de harmonização de políticas econômicas nacionais. A união monetária, por sua vez, implica estabelecer, como mínimo, câmbios fixos e conversibilidade obrigatória das moedas nacionais, com o propósito de impedir que os Estados modifiquem unilateralmente as condições de câmbio, alterando o valor de suas moedas.34 No caso da União Europeia, a união econômica e monetária entrou em vigor em 1993 com o Tratado de Maastricht.35

A união econômica total

[...] representa a forma de integração mais completa a altamente sofisticada, além da coordenação e unificação das economias nacionais dos Estados membros, o bloco econômico contará com um Parlamento comum, uma política exterior e defesa e de interior e justiça também comuns. Como exemplo desse tipo de união total cita-se as federações como os Estados Unidos.36

Atualmente, a União Europeia representa o bloco econômico em estágio de integração mais avançado, demonstrando já alguns elementos desta última etapa acima descrita. Importa salientar que o estudo da integração econômica estruturado por Bella Balassa relaciona-se à compreensão do caso europeu quando se verifica neste a ocorrência de algumas das fases de integração definidas por este autor, ou semelhantes a estas, no sentido de comporem uma integração progressiva. Todavia, conforme já mencionado, é importante destacar que o desenvolvimento da integração econômica na organização europeia se deu de forma autônoma sem a estrita sequência dos passos elencados por Balassa,

34

Ver: BALASSA, Bella. Hacia una Teoria de la Integración Econômica, em Integración de America Latina, Fondo de Cultura Económica, México, 1964, p. 3-14.

35

OLIVEIRA, Odete Maria. Op. cit., p. 56.

36

ocorrendo conjuntamente com a integração política. Para entender este processo, tão diferenciado dos demais, foram utilizadas e desenvolvidas diversas teorias, como será abordado em seguida.