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2.4 Questões Básicas sobre Tarifação

2.4.3 O Price Cap e a Regulação Incentivada

2.4.3.4 Modelos Normativos A Experiência Internacional

Os itens seguintes discorrem sobre o estado da arte dos modelos normativos. Para isso, são analisadas sucintamente algumas experiências de países que utilizam modelos que se aproximam do modelo brasileiro. Os modelos normativos têm sido utilizados principalmente em alguns países da América Latina e alguns poucos países da Europa. No entanto, as características e abrangência de

aplicação dos modelos divergem de um país para outro, o que é analisado brevemente a seguir.

a) Chile

De acordo com o estabelecido no marco regulatório chileno, a cada quatro anos se efetuam as revisões tarifarias das empresas distribuidoras de energia elétrica. O modelo chileno utiliza a abordagem do VAD – Value-added of distribution. O primeiro passo das revisões tarifarias é classificar as empresas por Áreas Típicas (um total de 6 áreas), através das quais se tentam formar grupos de empresas similares quanto a custos. De cada Área Típica se seleciona uma empresa representativa, que serve como ponto de partida para o desenho da empresa modelo, e cujos custos unitários (Custos de Rede por kW/mês e Custos Comerciais por Cliente/mês) são aplicados a todas as empresas da Área Típica ao qual representam39. O modelo de cálculo dos custos operacionais utilizado no Chile, denominado de Empresa Modelo, se aproxima muito do que é utilizado aqui no Brasil. A diferença básica no processo é que a empresa modelo é calculada em conjunto com a base de remuneração a partir do Valor Novo de Reposição, utilizando-se ativos-modelo, abstraindo-se dos ativos existentes.

b) Argentina

Na Argentina, em virtude da autonomia conferida às diferentes províncias, as mesmas exercem jurisdição sobre seu território, e por isso regulam as atividades de distribuição elétrica desenvolvidas dentro de cada uma. Existem duas metodologias atualmente utilizadas para o cálculo dos custos operacionais admitidos: a) Top-Down: parte-se dos custos realizados pela empresa no último exercício, anterior ao novo período tarifário, eliminam-se todos aqueles custos que não correspondem ao negócio regulado e se efetua uma análise de eficiência histórico e comparativo com outras empresas mediante o uso de indicadores       

39 Baseado no documento técnico “Definición de Áreas Típicas. Bases de Cálculo de las

Componentes del Costo del Valor Agregado de Distribución”. Comisión Nacional de Energía. Gobierno de Chile. Año 2003.

parciais, e em alguns casos funções de custos. Adicionalmente, se efetuam adaptações por maiores exigências de qualidade, e b) Bottom-Up: corresponde à metodologia da Empresa de Referência. Mediante este sistema, os custos reconhecidos são obtidos a partir da construção de uma empresa eficiente operando na área da empresa real e sujeita às restrições que enfrenta a empresa.

c) Peru

Os custos operacionais são calculados aplicando-se as metodologias de Empresa Modelo (Bottom-Up e Top-Down). Neste caso efetuam-se dois estudos de maneira independente. Um que calcula os custos mediante a aplicação de

Benchmarking, e outro que efetua um desenho de empresa modelo eficiente.

Finalmente, os custos reconhecidos corresponderão ao mínimo estabelecido entre os estudos. A exemplo do Chile, também no Peru a receita é dada pelo VAD –

Value-added of distribution, sendo a empresa modelo calculada em conjunto com a

base de remuneração a partir do Valor Novo de Reposição, utilizando-se ativos- modelo.

d) El Salvador

É utilizada a metodologia de Empresa Modelo, na qual se dimensionam as atividades de operação e manutenção e as atividades de gestão comercial de forma a prestar o serviço de maneira eficiente. Estas atividades se desenvolvem levando em conta as regras vigentes, as normas de qualidade de prestação do serviço e a estrutura topológica da rede. Parte-se de uma análise de processos e frequências de realização das atividades, depois se determinam os recursos aplicáveis e seu custo de mercado. Os custos surgem de valorizar a preços de mercado todas as tarefas nas quais incorre uma empresa eficiente. Adicionalmente, as empresas do país que possuam escala similar são comparadas entre elas como uma forma expeditiva de detectar ineficiências na atribuição de recursos40.

      

e) Guatemala

A regulação da Guatemala contempla a determinação dos custos operacionais baseados na estrutura de uma empresa eficiente41. Os mesmos se

classificam em custos de consumidores ou serviço ao cliente (comerciais), custos de operação, custos de manutenção e custos administrativos ou gerais. Na última revisão tarifária (período 2003/2008) aplicou-se uma metodologia que partiu da estrutura e custos da empresa real, incorridos no último exercício tarifário. A partir desta base efetuaram-se reengenharias baseadas na análise de processos e frequências ótimas necessárias para realizar as atividades de Operação, Manutenção, Serviço ao Cliente e de Apoio e Gestão, mediante as quais se cumpra com a prestação eficiente do serviço de distribuição. Depois se determinaram os recursos necessários e os custos dos mesmos. Tais custos são calculados a partir dos valores de mercado dos recursos utilizados. No caso dos custos de pessoal, empregaram-se os valores de uma pesquisa de remunerações do mercado trabalhista de Guatemala.

f) Suécia

Na Suécia utiliza-se um modelo normativo denominado de “Network

Performance Assessment Model – NPAM”. Esse modelo foi implementado

formalmente desde 2003 para as 259 concessionárias existentes, sendo que sua utilização se iniciou por fases desde 1999. O NPAM é usado para se obter uma “rede modelo”, independente dos custos históricos. Por isso, ele dá uma medida de desempenho “absoluto” de acordo com parâmetros técnicos. Para avaliar o desempenho “relativo” são utilizados modelos de eficiência baseados no DEA. O NPAM é essencialmente uma função de custos baseada em um conjunto grande de dados de cada área de concessão. Ele fornece funções de custo que estimam a base de capital em função de variáveis como linhas e transformadores. Os custos operacionais são estimados como função do número de clientes (para custos administrativos) e da base de capital (para operação e manutenção). O custo final       

envolve a remuneração, as despesas operacionais, os custos “pass-through”, as perdas de energia e fatores de ajuste pela qualidade do serviço.

g) Espanha

O modelo utilizado na Espanha, chamado de “BULNES”, é conceitualmente parecido com o da Suécia e consiste em desenvolver uma rede de referência sendo, portanto, uma rede otimizada. A figura 1 mostra o fluxo de informações utilizado no modelo.

Figura 1 – Fluxo de informações do BULNES Fonte: Nota Técnica nº 343/2008-SRE/ANEEL

Basicamente, o modelo define funções de custo, tendo como resultado final a receita total, envolvendo a remuneração e as despesas operacionais.

2.4.3.4.1 A Experiência Brasileira

O modelo de empresa de referência foi aplicado no Brasil durante o primeiro ciclo de revisões tarifárias das concessionárias de distribuição de energia elétrica, entre 2003 e 2006. Por meio da Resolução nº 234/2006, foi definida a sua aplicação também para o segundo ciclo de revisões tarifárias, com início em 2007. No entanto, foram propostos diversos aperfeiçoamentos do modelo de forma a aproximá-lo mais da realidade brasileira. O modelo consiste basicamente em calcular os custos com base em frequências e tempos de execução de tarefas previamente definidas e, diferentemente de outros países que utilizam o mesmo

conceito, aqui só é utilizado para definir custos operacionais. Os aperfeiçoamentos propostos pela Resolução Normativa nº 234/06, e descritos nesta Nota Técnica, tiveram como diretriz o levantamento de informações reais das empresas, bem como a modelagem mais detalhada de diversos processos, de forma a retratar melhor a realidade das concessões no Brasil.