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Modificações ao longo dos últimos anos

1. Introdução

1.3. Desigualdades sociais, políticas e económicas das sociedades

1.3.5. Modificações ao longo dos últimos anos

Apesar de as crianças interiorizarem desde cedo quais as atitudes e o comportamento adequados ao seu género, muitos autores afirmam que estas diferenças sociais se têm esbatido nos últimos anos.

Ash (2001) confirma que a pesquisa feita durante a última década relativamente à equidade entre géneros em matemática e ciências, excepto biologia, indica que as diferenças estão a esbater-se. Apesar disso, a proporção relativa de mulheres a trabalhar em engenharia, informática e física continua a estar muito àquem da proporção de homens.

Em Portugal, de acordo com um relatório de 2001, publicado pelo Observatório das Ciências e Tecnologia, do Ministério da Ciência e Tecnologia, OCT/MCT (2001) a percentagem de mulheres que trabalha em investigação científica é 43,5%. Este valor, combinado com o crescimento do número de mulheres na investigação científica, coloca Portugal numa posição de destaque relativamente aos outros países da União Europeia. Nestes países, segundo Talapessy (1993), citado no relatório supracitado, predomina a estabilidade no número de mulheres cientistas desde os anos 80.

Este relatório indica que, apesar da equilibrada percentagem de mulheres na investigação científica, ainda se verificam algumas diferenças no que respeita à representação de homens e mulheres nas diferentes ciências, bem como na posição na carreira científica alcançada por cada género.

O elevado número de mulheres cientistas em Portugal é atribuído, no mesmo relatório, a aspectos políticos e sociais da sociedade portuguesa. Este relatório,

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citando o primeiro estudo sociológico feito à população universitária, realizado nos anos 60 por Sedas Nunes (1968), salienta que, apesar do número elevado de mulheres nos cursos tradicionalmente femininos, como a literatura ou as línguas, também existia uma percentagem surpreendentemente elevada, para os países desenvolvidos, de mulheres a estudar ciências naturais e exactas, particularmente matemática e biologia. Sedas Nunes explica este facto baseando-se na selectividade social do ensino superior português, que favorecia o acesso às universidades às camadas mais privilegiadas economicamente, independentemente do género. Recorde-se que antes de 1974, a sociedade portuguesa se encontrava altamente estratificada e a profissão cientista era praticamente inexistente. Durante este período, apesar de o acesso das mulheres ao ensino superior ser facilitado pelo seu status social, prevalecia uma selecção baseada no género no que respeita ao mundo do trabalho. A maioria dos professores eram mulheres, em todos os níveis de ensino, excepto no superior.

Este mesmo estudo scociológico revelou que a maioria das mulheres licenciadas em literatura, matemática ou biologia, no anos 60, optava pela profissão de professora em detrimento de uma profissão liberal ou técnológica.

Em 1974, o início da democracia contribuiu para a democratização do sistema educativo e professional, bem como para o desenvolvimento da ciência. Estas modificações deram às mulheres novas oportunidades de emprego, de tal forma que hoje os candidatos ao ensino superior e licenciados são sobretudo mulheres.

De acordo com Amâncio e Ávila (1995), citados neste relatório, um dos produtos destas mudanças históricas da sociedade portuguesa, nos últimos 20 anos, é o desenvolvimento da comunidade científica portuguesa, que se deve em parte ao contributo feminino. O elevado número de mulheres doutoradas desde os anos 80 revela o esforço que estas têm feito no sentido de progredir na carreira académica. Os mesmos autores salientam que, apesar do desenvolvimento da ciência em Portugal nas últimas décadas, esta contribuição se deve aos dois géneros. A contribuição das mulheres notabilizou-se, sobretudo nos anos 80, pelo esforço de recuperação, com vista a eliminar as disparidades. Todavia, esse

esforço e evolução não foram suficientes para evitar o seu posicionamento nas camadas mais alargadas da comunidade científica.

Segundo os mesmos autores, nem a posição social, nem os resultados individuais alcançados, justificam a posição das mulheres na ciência, pelo que referem a existência de barreiras invisíveis no acesso das mulheres às posições de topo de carreira das áreas científica e tecnológica, particularmente acentuadas nas áreas das ciências naturais e exactas.

Apesar desta diferença entre géneros se continuar a verificar, dados mais recentes revelam que em Portugal esta diferença tem vindo a esbater-se. Em 2001, a percentagem de mulheres que ocupava posições de topo de carreira era 17%, enquanto que em 1995 era apenas 6%. Em menos de uma década este número triplicou. Seria interessante apurar as percentagens actuais, contudo não foram encontrados dados mais recentes.

Reforçando esta ideia de atenuação das diferenças entre géneros, Kimmel (2004) salienta que já existem em vários países equipas femininas de diversas modalidades desportivas, incluindo aquelas modalidades que eram praticadas unicamente por rapazes. Já os meninos têm menos oportunidades de desenvolver actividades tipicamente associadas a meninas. É socialmente mais castrador para um menino brincar aos jogos das meninas, do que para as meninas brincar aos jogos de meninos.

Esta desigualdade na evolução dos estereótipos masculino e feminino até aos dias de hoje mantém-se na vida adulta, de forma que é socialmente aceitável que uma mulher saia de casa para trabalhar, continuando a cumprir os compromissos domésticos e familiares. Por seu lado os homens não conseguem deixar os seus empregos para se transformarem em “donos de casa”, sem deixarem de ser considerados efeminados.

Assim se compreende o facto de o género não traduzir simplesmente aquilo que é correcto ou errado, mas sim revelar as nossas definições culturais do que é correcto e apropriado, e que dependem da perspectiva dos adultos.

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Todas as crianças exprimem e antecipam as desigualdades entre géneros que se acabam por manifestar na vida adulta. Portanto, vão abordar-se as modificações ao longo dos últimos anos sobretudo nas camadas mais jovens da sociedade.

Diversos autores afirmam que, apesar de existirem diferenças entre géneros no que respeita à atitude perante a ciência e performance nas disciplinas científicas, estas diferenças têm vindo a atenuar-se nos últimos anos.

Outros desses autores são citados por Breakwell e Robertson (2001), os primeiros dos quais, Archer e Macrae, baseiam a sua convicção acerca desta diminuição das diferenças entre géneros nos resultados escolares obtidos por ambos os géneros nas disciplinas científicas (disciplinas de ciências exactas leccionadas nas escolas). Por sua vez Archer e McDonald, também citados por Breakwell e Robertson (2001), confirmam esta atenuação das diferenças nas entrevistas que fizeram a alunas com idades compreendidas entre 10 e 15 anos, sobre as disciplinas que gostavam mais e menos.

Um outro estudo também mencionado por Breakwell e Robertson (2001) foi o realizado por Colley et al., que fizeram um ranking das disciplinas preferidas de rapazes e raparigas.

Breakwell e Robertson (2001) concordam que se tem observado que as meninas gostam menos de ciência e que admitem ter piores resultados nas disciplinas científicas. Para além disto, pelo facto de terem noção deste pior desempenho em ciência do que os seus colegas do género masculino, acabam por manifestar atitudes negativas perante a ciência, envolvendo-se menos em actividades extracurriculares relacionadas com ciência.

Os autores duvidam desta atenuação das diferenças entre géneros e afirmam que só se poderá confirmar esta atenuação se se aplicarem e compararem os mesmos métodos, durante um período razoável de tempo e aplicados a amostras semelhantes.

Apesar de os estudos citados sugerirem a existência de uma correlação directa entre gostar das disciplinas científicas e a atitude que se tem perante a ciência,

Breakwell e Robertson observaram que isto não se verificava. Gostar de disciplinas científicas será determinado pela idade, cultura dos pares (isto é, o índice dos comportamentos sancionados pelos pares) e o liberalismo dos pais (uma medida da concordância dos pais com a igualdade de géneros). Por outro lado, a atitude perante a ciência em geral é fortemente influenciada pela opinião dos pais em relação à ciência e também depende da classe e do género.

Este estudo realizado por Breakwell e Robertson (2001) consistiu na realização de uma análise comparativa da diferente atitude perante a ciência, segundo o género dos alunos. Esta investigação incidiu sobre alunos com idades compreendidas entre os 11 e os 14 anos, nos anos lectivos 1987-88 e 1997-98, em 12 escolas públicas de seis regiões de Inglaterra e da Escócia. Durante o estudo pretendeu recolher-se informação relativa à atitude que os alunos tinham perante as disciplinas científicas, a atitude em relação à ciência em geral, actividades extra-curriculares e a auto-avaliação do desempenho nas disciplinas científicas.

Breakwell e Robertson viram as suas suspeitas confirmadas ao verificarem que a diferença de atitude perante a ciência não mudou significativamente durante esses 10 anos.

Aquilo que Breakwell e Robertson observaram de mais relevante para este estudo, tanto no ano lectivo 1987-88 como 1997-98, foi que as meninas gostavam menos das disclipinas científicas, acreditavam ter piores resultados nas disciplinas científicas do que os meninos, tinham atitudes mais negativas em relação à ciência em geral e participavam em menos actividades de ciência fora do contexto escolar. Estes investigadores enfatizam que não houve diferenças significativas nestas observações entre os dois anos lectivos estudados, o que sugere que não houve qualquer atenuação ou acentuação das diferenças entre géneros ao longo deste período de dez anos.

Contudo, Breakwell e Robertson não deixam de referir que (2001) este estudo incidiu apenas em auto-avaliações dos alunos e não considerou as classificações que os alunos efectivamente obtêm.

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Em contrapartida, Greenfield (1995) investigou a evolução ao longo de 30 anos da participação de alunos em concursos de projectos de ciência consoante o género e observou que, actualmente, as raparigas participam mais do que participavam há 30 anos, de tal forma que nos últimos 20 anos (de 1975-1995) a sua taxa de participação foi superior à dos rapazes. As alunas mais novas continuam a concorrer em maior número do que as raparigas mais velhas.

Esta maior participação, actualmente, por parte das raparigas é confirmada pelos professores e júris do concurso que enfatizam o surpeendente entusiasmo das raparigas que concorrem ano após ano, mesmo aquelas que não são alunas excelentes às disciplinas científicas.

No que respeita à escolha desses projectos, incialmente, tanto rapazes como raparigas preferiam apresentar assuntos de Ciências da Vida, mas os rapazes tinham e continuam a ter um maior interesse do que as meninas pela Física, Ciências da Terra, Matemática e Informática.

Apesar disso, em 1995 as raparigas já apresentaram mais projectos de Física do que 20 anos antes, o que revela que o interesse das raparigas em ciência estará a aumentar.

Uma outra diferença entre os dois géneros observada porGreenfield (1995) foi as raparigas prepararem menos projectos baseados em investigações experimentais do que os rapazes, preferindo dedicar-se às pesquisas bibliográficas.

Existe, como se vê, ainda alguma controvérsia relativamente à atenuação ou manutenção das diferenças de resultados e atitude perante a ciência entre rapazes e raparigas.

1.4. Avaliação do impacto dos museus e centros interactivos de

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