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De maio a julho de 2018 foi aberta a Consulta Pública de número 10, que visa a obtenção de subsídios ao aprimoramento das regras aplicáveis à micro e minigeração distribuída - GD.

A consulta tem como principal objetivo a discussão de uma metodologia sobre a forma de compensação da energia gerada pela GD que permita um crescimento sustentável dessa forma de geração.

Atualmente, todo excedente de energia gerada é compensado integralmente em forma de créditos. Apesar de esses créditos serem representados por uma componente de energia, ou seja, em kWh, eles equivalem ao “preço cheio” da energia paga pelo consumidor. Portanto, o acessante em seu caráter de agente gerador, passa a usufruir do benefício de não contribuir com a tarifa de transporte, encargos e perdas.

Obviamente, o mercado de GD no Brasil passou a ser muito atrativo para investidores, que usufruindo do benefício de se utilizar os créditos em outras unidades consumidoras associado ao elevado valor agregado dos créditos, passaram a oferecer energia a um preço inferior ao de mercado e, mesmo assim, terem um lucro considerável.

Esse cenário fica evidente quando observadas as projeções da GD no Brasil. O número de Unidades Consumidoras (UCs) que fazem uso da GD previstas tem sido inferior ao esperado, no entanto a potência instalada esperada tem sido superior à esperada (ANEEL - AGÊNCIA

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NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2018c). Ou seja, as UCs tem sido mecanismos para geração de créditos que são negociados em outras UCs não possuidoras de GD.

A CP 10/2018 se mostra preocupada com um possível desalinhamento entre a forma de compensação vigente em relação à atual realidade da GD. Entende-se que o crescimento da potência de GD instalada no Brasil apresenta um ritmo que merece reavaliação de seus impactos sobre os demais consumidores e de sua viabilidade econômica.

Sabe-se que os impactos causados pelas GDs com compensação local, como por exemplo, as do tipo rooftops, são menores do que os impactos causados por GDs com compensação remota, como por exemplo, fazendas solares de até 5 MW, sobretudo em termos de uso da rede.

Portanto, a CP 10 propõe que se realize a análise de maneira separada para esses dois modelos - compensação local e compensação remota - de micro e minigeração. A CP ainda sugere seis alternativas diferentes de compensação da energia elétrica para cada um desses dois modelos, cada uma considerando a remuneração de componentes diferentes da Tarifa de Uso (TUSD) e da Tarifa de Energia (TE).

A Figura 21 mostra as diferentes alternativas propostas para compensação de energia.

Figura 21 - Diferentes alternativas propostas para compensação de energia da GD Fonte: Consulta Pública nº 10/2018 (2018)

As alternativas variam desde se considerar a compensação de energia injetada na rede por todas as componentes da TUSD e TE – Alternativa 0 – assim como é atualmente, até se considerar apenas a parcela de energia da TE – Alternativa 5.

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A CP em questão traz um exemplo hipotético onde se observa um decréscimo no percentual de ganho do investidor/acessante que usufrui da GD. No exemplo apresentado na CP, observa-se um decréscimo de 62% na economia que seria obtida para o cenário mais pessimista para o investidor, a Alternativa 5. Vale a pena ressaltar que esse resultado desconsidera o consumo simultâneo, ou seja, aquele que é utilizado no mesmo momento de sua geração, evitando assim, a exportação dessa parcela à rede de distribuição.

A ideia é que o processo se dê em três etapas (ANEEL - AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2018c):

 Cálculo dos impactos da alternativa sob a perspectiva do consumidor que instala micro ou minigeração (payback);

 Determinação da projeção da quantidade de GD em virtude da alternativa adotada;  Quantificação dos impactos positivos e negativos da difusão da GD para o setor.

A decisão a se tomar é, sem dúvidas, delicada, pois envolve diversos fatores. Observa-se que uma maior atratividade para os investidores em GD pode ocasionar impactos negativos para os demais consumidores, aqueles que não fazem uso da GD, uma vez que o preço da energia tenderia a subir. Essa possível elevação nos preços pode ser justificada pela necessidade de manutenção da receita da distribuidora aliada à redução do mercado pagador, o que provocaria um aumento das tarifas percebidas por todos os usuários.

Além disso, é difícil determinar com precisão como o incremento das GDs se daria, como por exemplo, qual seria a forma de instalação (rooftop, fazendas ou outras) e se o tipo de compensação seria local ou não. Esse desenvolvimento determinará se a instalação de GD reduzirá ou aumentará o fluxo de energia nos alimentadores da distribuidora e/ou na rede básica, influenciando assim diretamente as perdas na distribuição e/ou transmissão, se o uso que a distribuidora faz do sistema de transmissão aumentará ou diminuirá, se o investimento em melhorias será postergado ou adiado, entre outros fatores.

Portanto, determinar a melhor alternativa para que se mantenha a atratividade da GD e o desenvolvimento do mercado aliados com os benefícios para o setor como um todo não é uma tarefa trivial.

Para resolver esse problema, a CP 10/2018 propõe uma divisão em duas etapas: a primeira que mantenha um nível de atratividade relativamente alto e que permita uma evolução da GD que

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possibilite a consolidação do mercado; e uma segunda em que os benefícios que a GD traria para a rede fossem capturados pela sociedade. Assim, seria adotado um cenário inicial em que a GD seria instalada com condições vantajosas para si, de modo a possibilitar a sua consolidação. Posteriormente, após determinado nível de penetração, adotar-se-ia um outro cenário regulatório em que a sociedade começaria a coletar os benefícios das GD.

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