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Modo de operação – Frota de Pesca e Calendário de Pesca

A pesca de mergulho de peixe e lagosta funciona de acordo com as marés. Esta pesca está condicionada aos períodos de maré “morta”, quando as correntes são mais fracas e a água menos turva, pelo que requer menor esforço físico (Anexo 2.1 – Tabela 2.1). A captura de holotúria, por ser fisicamente menos limitativa, decorre em todos os períodos

de maré. Durante a maré viva as embarcações de mergulho que não capturam holotúria, ou estão paradas ou pescam à linha.

Para além da limitação pelas marés, a caça submarina (em especial o mergulho para a captura de lagosta) tem um carácter fortemente sazonal, estando limitado aos meses frios e secos, de Março a Setembro por não ocorrer precipitação.

Num ciclo de maré de 14 dias existem dois períodos sensivelmente iguais, a “maré viva” e a “maré morta”. Todos os questionados (18 pessoas) referiram que o número de dias de mergulho numa maré depende de dois factores: o tipo de embarcação e as condições atmosféricas. Se as condições atmosféricas são propícias ao mergulho, os pescadores consideraram que num ciclo de maré existem 7,00 + 1,19 dias de pesca. Considerando que, num mês lunar (28 dias) existem 2 marés calcula-se cerca de 14 dias por mês de mergulho, caso as condições atmosféricas sejam propícias. Este valor corresponde ao resultado do calendário de pesca desenhado pelos mergulhadores (Anexo 2.1 – Tabela 2.1).

Em 52 dias de contagem do Esforço de Pesca houve 21 dias de contagem em dias propícios ao mergulho de acordo com a tabela de marés e calendário de pesca. No entanto, em 9 desses 21 dias menos do que 25% das embarcações estiveram activas. Verifica-se que, durante o período de estudo, em 43% dos dias de maré morta houve poucas embarcações a saírem para a pesca. Assim, o número médio de dias de mergulho num mês é de 6,01 (43% dos 14 dias contabilizados para um ciclo de maré).

Na área de censo (Figura 1) identificaram-se 22 embarcações de mergulho, das quais 6 são motorizadas e 16 com vela. Em Nhagondzo-Ponta Tsondzo existe uma embarcação motorizada. No Centro Sul I existe apenas uma embarcação à vela (Figura 3). A maioria das embarcações são lanchas de madeira à vela, e é no centro de pesca Sul I onde é possível encontrar mais embarcações de plástico reforçado com fibra de vidro (PRFV) motorizadas. As 6 embarcações motorizadas possuem motores cuja potência varia entre 15 hp e 40 hp.

5 1 6 1 3 5 7 16 0% 20% 40% 60% 80% 100%

Sul I Sul II Sul III Nhagondzo

(Ponta Tsondzo) Total Centro de Pesca U n id a d e s d e p e s c a ( % ) Vela Motor

Figura 3 – Distribuição dos modos de propulsão das embarcações de mergulho (%) de captura de lagosta,

peixe e holotúria, existentes no Estrato Inhassoro Sul e Nhagondzo-Ponta Tsondzo com indicação da frequência absoluta de ocorrência.

As embarcações de PRFV são em média maiores do que as embarcações de madeira (Tabela XVII). A maior parte das embarcações motorizadas usadas para mergulho foram adquiridas pelos sistemas de crédito criados no plano pós-emergência após as cheias de 2001 (Anexo 1 – Figura 1.1).

Tabela XVII – Comprimento médio, em m, das embarcações de mergulho no Estrato Sul de Inhassoro e

Nhagondzo-Ponta Tsondzo (erro padrão entre parênteses).

Embarcações Comprimento médio (m)

Madeira 4,92 (0,29)

PRFV 6,28 (0,32)

Total 5,24 (0,27)

Das 22 embarcações existentes em Inhassoro Sul, 12 operam exclusivamente a mergulho, enquanto que 10 operam também com linha de mão, o que indica que durante os períodos de maré viva ou com condições ambientais menos favoráveis também saem para o mar. Destas 22 embarcações, existem 2 que apenas capturam lagosta, ou seja só operam fora do período de veda, quando é também o período mais propício ao mergulho, e 5, todas à vela, que se dedicam exclusivamente à captura de holotúria durante todo o ano (Tabela XVIII).

Tabela XVIII – Modo de operação das embarcações de mergulho identificadas no censo realizado nos 4

centros de pesca (Sul I, Sul II, Sul III e Nhagondzo-Ponta Tsondzo, N-PT).

Modo de operação Sul I Sul II Sul III N-PT Total

Vela 1 3 5 7 16

Propulsão

Motor 5 0 0 1 6

Arte alternativa Linha de mão 4 0 5 1 10

Holotúria 1 1 1 2 5 Lagosta 1 0 1 0 2 Holotúria e lagosta 0 0 1 0 1 Grupo Específico A capturar peixe 4 2 2 6 14 Total 6 3 5 8 22

Cada embarcação leva em média 4,86 tripulantes, sendo a média de tripulantes das embarcações de Nhagondzo-Ponta Tsondzo bastante maior do que nos restantes centros (Tabela XIX). Por vezes um destes tripulantes não é mergulhador mas marinheiro e pesca à linha durante a actividade.

Tabela XIX – Média do número de mergulhadores por embarcação nos diferentes centros de pesca

(erro-padrão entre parênteses).

Centro de Pesca Tripulação média

Sul I 6,83 (0,65)

Sul II 6,00 (2,52)

Sul III 3,80 (0,20)

N-PT 9,00 (0,76)

Total 4,86 (0,44)

A arma de mergulho é propriedade dos pescadores, tal como a máscara e barbatanas, e é constituída pelas seguintes partes: o arpão, com uma barbela na extremidade, o corpo da arma, os elásticos e o fio (Figura 4).

Figura 4 – Partes constituintes da arma de caça submarina.

As armas utilizadas pelos mergulhadores de Inhassoro são de grandes dimensões (Tabela XX) e geralmente adaptadas artesanalmente com vários tipos de material. Os elásticos são feitos com borracha da câmara-de-ar dos pneus de bicicleta e a bóia para o peixe é, geralmente, um garrafão vazio fechado. Os mergulhadores em geral não utilizam fato nem lastro. Um equipamento geral é constituído unicamente pela arma, óculos, barbatanas e bóia (Anexo 2.2 – Figura 2.2.1).

Tabela XX – Dimensões médias, em mm, das várias partes constituintes (corpo da arma, arpão, elásticos,

barbela e fio) de 14 armas amostradas no Estrato Sul de Inhassoro, durante o período de estudo (erro- padrão entre parênteses).

Componente Dimensão Média (mm)

Comprimento 1182,6 (21,1) Corpo da arma Espessura 26,5 (0,5) Comprimento 1632,1 (40,4) Arpão Espessura 6,6 (0,2) Comprimento 380,7 (14,5) Elásticos Espessura 19,1 (1,1) Barbela Comprimento 69,8 (1,5) Fio (nylon) Comprimento 14785,7 (1004,1)

A comercialização do peixe de maior valor comercial é realizada, na praia após o desembarque, ou é comprado pelo proprietário da embarcação por um preço mais baixo. Neste caso, o proprietário ficará responsável pela sua conservação e posterior

Elásticos Corpo Arpão Fio Barbela Arpão

comercialização no distrito ou mesmo em outras províncias. O sistema mais comum é o proprietário ficar com metade do valor feito por cada pescador, ou seja, cada pescador vende o peixe individualmente, mas do valor conseguido, metade é do proprietário da embarcação, que pode ou não ser também mergulhador. Algumas embarcações possuem acordos de venda exclusiva ao processador existente em Inhassoro ou a intermediários, nos desembarques mais longínquos, e é uma actividade tradicionalmente realizada por mulheres. Por vezes é possível encontrar homens a negociarem, contudo apenas peixe de qualidade superior, que depois revendem na vila a mulheres ou é também transportado para outros locais no país.

Existe apenas um local de processamento localizado junto à vila que processa e comercializa peixe, lagosta e lula capturada em Bazaruto. Existem poucos locais em Inhassoro onde é possível armazenar peixe ou onde seja possível comprar gelo em grandes quantidades. Existem algumas pessoas, que têm acesso a electricidade e que prestam serviços de aluguer do seu congelador às peixeiras ou outros comerciantes de peixe fresco.

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