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A Lei de Molinari relaciona o consumo de cimento por metro cúbico com o traço utilizado para os concretos. A figura 4.21 mostra o comportamento verificado para os concretos com agregados reciclados e naturais.

FIGURA 4.21 - Consumo de cimento por metro cúbico de acordo com o traço empregado.

A análise da figura 4.21 revela que os concretos com agregados reciclados seguiram a mesma tendência de comportamento dos concretos produzidos com agregados naturais, no que se refere à relação entre o consumo de cimento e o traço empregado.

A realização deste trabalho possibilitou a análise de algumas variáveis que interferem no desempenho do concreto produzido com agregados reciclados graúdos de concreto. Estas análises permitiram o estabelecimento de algumas considerações sobre o efeito da substituição de agregados graúdos naturais por reciclados de concreto, na produção de novos concretos.

Com relação à trabalhabilidade e coesão do concreto, verificou-se considerável prejuízo com o aumento do teor de substituição de agregados naturais por reciclados. Embora o agregado reciclado utilizado fosse menos lamelar que o natural, sua textura superficial extremamente rugosa e porosa influenciou o comportamento do concreto no estado fresco. Para a produção dos concretos foi necessária a utilização de maior quantidade de argamassa para os traços com maior incorporação de agregados reciclados. Em massa, a quantidade de argamassa ideal determinada para os teores de substituição de 0%, 25%, 50%, 75% e 100%, foi de 54%, 58%, 60%, 62% e 64%, respectivamente.

A perda de abatimento verificada para os concretos com agregados reciclados secos após uma hora de mistura foi da ordem de 22% em média. Em relação aos concretos de referência, o decréscimo no abatimento foi cerca de 20% mais elevado para o mesmo período. Deve-se ressaltar que os ensaios foram realizados com valores de umidade relativa do ar elevados, com medidas apresentando médias superiores a 70%, e temperaturas médias em tomo de 21°C. Possivelmente com temperaturas mais altas e umidade do ar mais baixa, condições bastante comuns em várias regiões do Brasil, as perdas de abatimento seriam bem mais altas. Portanto recomenda-se a adoção de certas precauções quando da utilização de agregados reciclados secos na produção de novos concretos, no que se refere à trabalhabilidade dos mesmos.

As resistências à compressão foram cerca de 15% a 30% menores para os concretos com agregados reciclados em relação aos concretos com agregados naturais. As maiores reduções foram observadas para os traços mais ricos, onde observou-se que a ruptura

ocorreu nos agregados reciclados, em virtude da baixa resistência dos mesmos. Desta forma, os traços mais pobres, 1:6,5, revelaram-se economicamente mais adequados à produção de concretos com agregados reciclados. As resistências não diminuíram significativamente, para valores iguais de m, conforme se aumentou a porcentagem de agregados reciclados incorporados aos concretos, o que talvez possa ser explicado pelo fato de que os concretos com teores mais altos de agregados reciclados foram produzidos com quantidades mais altas de argamassa.

Os agregados reciclados foram obtidos de um concreto de baixa resistência, por isso também apresentavam baixa resistência, fato comprovado pelas reduções observadas nos concretos mais pobres, com algumas resistências abaixo inclusive das verificadas para o concreto de origem. Porém, mostraram que podem ser utilizados para a produção de concretos com resistências bem superiores às verificadas para o concreto de origem, muito embora essa não seja uma alternativa economicamente vantajosa.

A resistência à compressão não variou em virtude da utilização de agregados reciclados no estado seco ou saturado, com exceção do teor de substituição de 25%, onde os valores de resistência dos concretos com agregados secos foram significativamente mais elevados.

A evolução da resistência à compressão mostrou significativa variação em função da utilização de agregados reciclados. O desenvolvimento das resistências foi maior no período compreendido entre os 3 e os 7 dias para os concretos com agregados reciclados, em relação aos concretos com agregados naturais. As diferenças no desenvolvimento das resistências foram mais acentuadas para os traços com maior incorporação de agregados e com maior teor de substituição de agregados naturais por reciclados. Tal comportamento pode ser devido à textura superficial rugosa e porosa dos agregados reciclados.

Com consumos de cimento mais baixos, as resistências à compressão dos concretos com agregados reciclados ficaram mais próximas às resistências dos concretos de referência. Parece mais interessante portanto, para a utilização de agregados reciclados, a produção de concretos com consumos de cimento inferiores a 300 kg/m3, pelo menos para agregados cujos concretos de origem sejam de baixa resistência, que parece ser o caso da maioria dos agregados disponíveis para reciclagem.

Verificou-se que a relação entre a resistência à compressão e a relação água/cimento dos concretos com agregados graúdos reciclados de concreto aproxima-se bastante de uma reta, apresentando uma menor tendência de inclinação em relação à horizontal do que a sugerida pela Lei de Abrams e verificada para os concretos com agregados graúdos naturais. Isso deve ocorrer porque a redução da relação água/cimento nestes casos não é tão vantajosa, com o agregado reciclado limitando a resistência do concreto produzido com relações água/cimento mais baixas.

Quanto à relação entre o traço e a relação água/cimento, verificou-se que a Lei de Lyse, conforme utilizada no Brasil, parece ser válida para os concretos com agregados reciclados de concreto, podendo ser representada por uma reta. A relação entre o consumo de cimento por metro cúbico e o traço empregado para os concretos com agregados graúdos reciclados de concreto seguiu a mesma tendência de comportamento verificada para os concretos com agregados naturais, portanto a Lei de Molinari parece ser válida também para os concretos com agregados reciclados, muito embora o consumo de cimento não tenha sido calculado através da massa específica do concreto no estado fresco.

De um modo geral, conclui-se que os agregados graúdos reciclados de concreto são perfeitamente adequados à produção de novos concretos, principalmente concretos não estruturais e de baixa resistência. A utilização de agregados reciclados secos parece não interferir sensivelmente nas propriedades dos concretos, em relação aos concretos com agregados reciclados saturados. A única precaução recomendada diz respeito à perda de abatimento dos concretos com agregados reciclados secos. No escopo desta pesquisa, as curvas de dosagem utilizadas no método do IPT mostraram-se adequadas à dosagem dos concretos com agregados reciclados de concreto.