• Nenhum resultado encontrado

Momentos antecedentes ao deslumbramento pela leitura

Antes de nos aventurarmos neste deslumbramento pela leitura consideramos necessário compreender as competências e comportamentos das crianças face os vários

30

descritores em avaliação de modo a, posteriormente, compreendermos até que ponto os mesmos foram, ou não, alvo de evolução à medida que este trabalho foi sendo elaborado. Esta análise retrata os resultados referentes aos meses de fevereiro e março de 2016 sendo possível através da tabela I (Anexo IV) de observarmos que antes de se iniciar o trabalho investigativo que está na génese deste deslumbramento pela leitura, o grupo de crianças da sala dos 3 anos manifestou competências ainda muito tenras e pouco significativas perante os vários indicadores de análise delineados.

A partir das várias observações e registos criados neste sentido (anexo III), a relação entre estas crianças e os livros, bem como o prazer pela atividade literária revelou- se ser quase nula, tendo-se tornado uma grande preocupação ao constatar o pouco cuidado e desinteresse das mesmas na exploração dos livros e da área da biblioteca. Isto porque, sempre que, no início da manhã, se selecionavam as áreas de interesse para onde pretendiam ir esta nunca era uma hipótese, sentindo-se inclusive alguma resistência perante este espaço o que poderá significar não terem compreendido a sua verdadeira essência.

Um exemplo da não compreensão deste espaço é, por exemplo, a M.T. que apesar de sempre ter demonstrado pouca vontade de ir para esta área, no decorrer de uma das manhãs escolheu-a. No entanto a sua escolha deveu-se somente ao facto de ainda estar com sono e ter visto neste local e nas almofadas aí presentes o local para o efeito: “Tinha sono e aqui tem as almofadas para eu deitar.”. Com a seguinte observação foi rapidamente compreendido que o motivo que levou a M.T. a selecionar a área da biblioteca não se deveu ao facto de ver nesta um espaço de interesse para ser explorado mas sim, ter almofadas que lhe iriam permitir descansar do cansaço que estava a sentir. (anexo III: Registo de observação número 2)

Perante isto, apesar de associar este espaço a conforto, a criança revela ainda não ter compreendido o objetivo principal do mesmo e inclusive não o ver como uma área lúdica como as restantes, relacionando-a com uma ação à qual muitas vezes as crianças fogem e consideram aborrecida: o ter de dormir quando existem tantas brincadeiras por concretizar e coisas por descobrir.

Outro exemplo desta desmotivação perante a relação com a leitura foi a M.C. que, face o incentivo por parte dos adultos para que o grupo explorasse a área da biblioteca acabou por ceder, mas apenas com o intuito de agradar. (anexo III: Registo de observação número 1). Isto porque, o que inicialmente parecia um aspeto positivo revelou-se o inverso, uma vez que, pouco tempo depois de estar nesta área e, apesar de inicialmente o

31

tentar disfarçar, a criança em causa começou a chorar, constatando-se o desinteresse e sentimento de frustração por estar neste local.

Para dar mais realce a esta situação podemos ainda mencionar o momento em que o D.R. e o R.S. foram para esta área e que, apesar de não demonstrarem o mesmo comportamento que a criança anteriormente mencionada, foi possível concluir que apesar de ambas estarem a folhear os livros, esta ação não estava a representar qualquer significado ou aprendizagem uma vez que, após alguns minutos iniciais mais atentos, ambas começaram a dispersar, olhando mais tempo para o seu redor do que para a atividade que estavam a realizar. Para além de estarem desatentas e não observarem o seu conteúdo, a recorrência com que mudavam de livro sem chegar ao final do mesmo foi uma constante. (anexo III: Registo de observação número 3)

Perante estas situações, é portanto, possível constatarmos que o grupo estava pouco envolvido com a leitura e exploração dos livros, não demonstrando qualquer relação prazerosa com esta atividade, bem como de arranjar formas de usufruir do espaço destinado para o efeito, vendo a biblioteca como um local à parte das restantes áreas sem qualquer interesse.

Neste sentido, o facto de o grupo não ter curiosidade para explorar os vários contos que tinham à sua disposição, pode ter interferido com o desenvolvimento da sua capacidade simbólica e de interpretação de símbolos gráficos, uma vez que não abrindo um livro, não analisando o seu conteúdo e, inclusive não sentir curiosidade de ver as imagens do mesmo quando o adulto conta uma história, acaba por condicionar a verificação deste indicador e o desenvolvimento desta competência.

Por sua vez, no que diz respeito à capacidade de fazer uma melhor e mais alargada leitura do mundo que rodeia o grupo, isto apenas se verifica associado no que diz respeito ao projeto de sala, nunca estando em momento algum agregado à curiosidade perante a leitura e as descobertas e aprendizagens que dai poderiam surgir.

Assim sendo, ao comunicarem todas as dúvidas que vão invadindo o seu “pequeno mundo” constatava-se que, apesar de a grande maioria das crianças já se conseguir exprimir com alguma facilidade, tendo inclusive facilidade para adquirir novo vocabulário e boa capacidade para articular e pronunciar corretamente a maioria das palavras, ainda serem visíveis muitas fragilidades relativamente à utilização das formas / conjugações verbais, sendo frequente aplicarem as frases na 3ª pessoa do singular, assim como uma presença muito acentuada do “ser” e do “ter”, sendo recorrente ouvirmos, de algumas das crianças, expressões como: “eu já fazi” ou “eu já dizi”.

32

Outro aspeto de evidenciar é a coerência do discurso no sentido em que, apesar da facilidade de articulação e pronúncia das palavras, demonstravam ainda uma competência bastante tenra no que diz respeito à articulação das frases, sendo recorrente o uso de expressões como, por exemplo: “e depois”, bem como de misturarem situações passadas com as do presente.

3.2. Sessões de intervenção tendo por base o Carrossel de Histórias