• Nenhum resultado encontrado

Momentos formadores – oportunidades de mudança

CAPÍTULO III – PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE EDUCADORES DE

3. Domínios de análise dos percursos experienciais

3.1 Momentos formadores – oportunidades de mudança

Os momentos formadores reconhecidos pelos educadores são situações em que identificam mudanças em suas maneiras de pensar, agir e sentir. São momentos que reconhecem que as estruturas mentais que consideravam válidas para realização de suas atividades não respondem a conflitos e confrontos atuais, necessitando de uma nova organização mental e estrutural. Estes momentos sofrem influências externas, de pessoas e de contextos colaborativos (empatias), corroborando à ideia da importância do aprendizado (Dominicé, 1988). Estes acontecimentos são considerados como “momentos charneiras” para a aprendizagem, pois segundo Cavaco (2009), são instantes de rupturas, em que o indivíduo considera outras possibilidades, reconhece a necessidade de mudança nos modelos e conceitos enraizados em si. A autora considera complexos e conflituosos esses momentos que resultam da ação de tentar esquecer situações e modelos anteriores, a respeito disso esclarece que os novos esquemas não se compõem evasivamente, necessitando uma certa continuidade com as experiências que já possuem. A respeito disso Mona relata seu trabalho na Aldeia Indígena onde confrontou-se com outra cultura, outra língua. Reconhece que os conhecimentos que possuía sobre a cultura indígena

não correspondiam a realidade, acrescenta que foi uma experiência gratificante, porém, difícil, e afirma “com eles aprendi a conhecer muito mais sobre a sociedade dos ‘brancos’, do que

sobre eles”, esse momento constituiu-se para Mona um divisor de água, um “momento-

charneira”, confrontou as ideias que possuía sobre a cultura indígena com a realidade social em que viviam e percebeu que precisava rever alguns conceitos engessados, desconstruir e reorientar seus conceitos sobre a diversidade.

Nos relatos dos educadores, aparecem outros momentos considerados importantes que aconteciam em horários chaves no interior da escola. Segundo Mona, Adria e Sara, os diálogos ocorriam espontaneamente e eram direcionados para a necessidade de compartilhar situações diversas ocorridas no cotidiano escolar, situações que envolviam processos de aprendizagem, problemas de relacionamentos entre os educandos e, por vezes, casos relacionados com os educadores. Neste sentido, Adria destaca que “era no intervalo que aconteciam os maiores

momentos de troca de experiências entre os educadores”. Mona também descreve outras

situações em que compartilhava detalhes de sua atuação como educadora e dos problemas vivenciados em sala de aula. Essas conversas e bate-papos ocorriam geralmente nos finais de semanas (visitas domiciliares e telefonemas entre os colegas), cujos diálogos giravam em torno do mundo escolar. Essas informações serviam como indicadores da realidade vivida em sala, de forma coletiva. Para corroborar às observações acima, encontramos sentido na concepção de Cavaco (2002), quando refere importância às experiências vividas nos locais de trabalho. No momento de narrar os episódios marcantes das trajetórias de vida dos educadores entrevistados, é valido lembrar os depoimentos de Adria, que mesmo com o sofrimento vivenciado pela perda da mãe, e de Sara com a perda do pai e do marido, encontraram pessoas amigas e professores que as ajudaram a ultrapassar esses momentos difíceis, mostrando que a vida deve continuar. Nessa linha de raciocínio, Dominicé (1988) define que “os momentos considerados de charneira são momentos de regulação. Reorientam a existência segundo uma decisão largamente amadurecida, que pode impor-se bruscamente” (p. 152). Os acontecimentos trágicos narrados constituem-se em episódios que fazem parte da formação, pois ao admitir essas perdas, considerando que esses eventos são infortúnios que fazem parte do ciclo da vida, vai designar sua maneira de lidar com situações limites. Para Dominice (2006), esse processo permite “uma outra via de formação consiste em se autorizar à exploração de caminhos diferenciados, e muitas vezes contraditórios, por meio dos quais nos colocamos à prova da vida” (p. 353).

Os momentos proporcionados pelas formações institucionalizadas verificadas como pertencentes a processos de formação continuada, foram contextos testemunhados como ricos em troca de experiências e de descobertas. Os educadores ressaltaram que as aprendizagens associadas à motivação através de conteúdos específicos consolidam-se através do ingresso na universidade, esse contexto pressupõe aquisição de conhecimento e autonomia de escolha no que permite acesso a uma qualificação e posterior exercício a uma profissão. Mona lembra que na ocasião de seu ingresso na universidade, a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional- 9394/96 estava entrando em vigor, refere “as discussões eram calorosas fruto de

novo contexto da República Democrática e a nova LDB-9394/96, trazia consigo todos os sonhos de uma educação de qualidade que atendesse realmente a diversidade”, segundo Mona

foram momentos em que considerava mudanças e a nova maneira de fundamentar sua prática. Nesse sentido, Adria também menciona que o curso de Letras e Psicologia foram contextos que proporcionaram momentos de aprendizagens, “a metodologia utilizada pelos professores

favorecia a troca de conhecimento através do debate”, essas discussões a faziam reorganizar

seu pensamento e considerar a associação de novos padrões e conceitos para implementar sua prática profissional. A esse respeito Bela acrescenta “as aulas do curso de Teologia e Filosofia

eram dinâmicas, tínhamos que ler e socializar o entendimento do livro, cresci muito”, para Bela

foram momentos em que estabelecia a ideia de novos posicionamentos acerca da construção do conhecimento. Sara refere sobre o curso de Artes Plásticas, “o processo de cinco anos foi de

bastante construção”. Esclarece que a universidade na ocasião não possuía um quadro completo

de professores para o curso de artes, recorda que os próprios alunos escultores e artistas natos auxiliavam os professores com técnicas. Os momentos de formação nas universidades, nas instituições escolares, nas pós-graduações são reconhecidos como formadores, os educadores entrevistados testemunham que as discussões no interior desses locais, as trocas com os pares, o diálogo e a parceria com propostas pedagógicas foram válidos. Fortaleciam as práticas em sala de aula, e proporcionavam outro sentido a formação. A esse respeito, a universidade é caracterizada segundo Dominicé (1988), como um espaço de exercício de autonomia, de oportunidade de nos exprimirmos, de elaborarmos nossa opinião e onde a criatividade deve ser aguçada, “neste aspeto, a Universidade tem um papel fulcral” (p. 151). Os longos anos de estudos nesse espaço intelectual onde as condições de aprendizagem suportam raras passagens relacionais e emocionais, deve reconhecer a possibilidade dos múltiplos sentidos que compreende esse tempo universitário de formação contínua (Dominicé, 1988). A dimensão simbólica do espaço universitário é forte e seu saber as vezes é acompanhado de sonhos e fantasias. A esse respeito Dominicé (1988) assegura “as evocações da passagem pela

Universidade nos textos biográficos, mostram bem que o saber não se adquire sem um investimento muito global e sem uma mobilização de tudo que foi anteriormente aprendido” (p. 153).

Documentos relacionados