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4. RESULTADOS

4.2. Monitoração do pré-abate e insensibilização

A Tabela 3 mostra as diferentes distâncias percorridas dos 10 lotes de 100 animais avaliados, o tempo de transporte e categoria animal. Nota-se que a distância máxima foi de 450 km e que o tempo máximo de transporte dos lotes observados foi de 23 horas, sendo que cinco lotes eram da categoria de machos castrados, três lotes de machos inteiros e dois lotes de fêmeas.

Nota-se, na Tabela 4, que nenhum lote foi classificado dentro da categoria excelente, 30% dos lotes de animais foram classificados dentro da categoria aceitável e 70% classificados nas categorias inaceitável e grave. A categoria que mais vocalizou foram os machos castrados. As vocalizações não causam perdas diretas, mas são indicadores comportamentais de excitação dos animais, devido ao tipo de manejo e a falta de capacitação dos funcionários.

Tabela 3. Caracterização dos lotes de animais submetidos às diferentes

monitorações de bem-estar animal quanto à categoria animal, tempo de transporte e da distância percorrida entre a origem e o estabelecimento de abate, Sinop/MT, 2010. Lotes Distância percorrida (km) Tempo de transporte (h) Categoria animal

Lote 1 450 23 Machos castrados

Lote 2 450 23 Machos castrados

Lote 3 80 1 Machos castrados

Lote 4 40 2 Machos castrados

Lote 5 250 23 Machos castrados

Lote 6 220 6 Machos inteiros

Lote 7 280 8 Machos inteiros

Lote 8 280 8 Machos inteiros

Lote 9 120 3 Fêmeas

Lote 10 360 11 Fêmeas

Tabela 4. Resultado da monitoração de vocalização durante o manejo pré-abate,

no corredor de acesso, quanto à classificação de bem-estar animal para os 10 lotes de avaliados. Sinop/MT, 2010.

Categoria animal Excelente Aceitável Não aceitável Grave Total

Machos castrados 0 1 3 1 5

Machos inteiros 0 2 1 0 3

Fêmeas 0 0 2 0 2

Total de animais 0 3 6 1 10

Rebagliati et al. (2007) em um trabalho desenvolvido em dois frigoríficos na Argentina, observaram, quanto a vocalização que 85,7% dos eventos foram classificados como excelentes e aceitáveis, em outro estabelecimento 41,1% tiveram essa mesma classificação.

Pela Tabela 5, observa-se que a maior parte dos animais (cinco lotes) foi classificada dentro da categoria aceitável, 50% dos lotes foram classificados nas categorias inaceitável e grave. A categoria animal que apresentou maior número de quedas e escorregões foram os machos castrados (cinco lotes animais). Os escorregões e quedas estão relacionados não apenas ao manejo inadequado, mas também ao tipo e manutenção das instalações e equipamentos, bem como a presença de matéria fecal que torna o piso escorregadio.

Tabela 5. Ocorrência de quedas e escorregões durante o manejo pré-abate, no

corredor de acesso, quanto à classificação de bem-estar animal para os 10 lotes de avaliados. Sinop/MT, 2010.

Categoria animal Excelente Aceitável Não aceitável Grave Total

Machos castrados 0 2 1 2 5

Machos inteiros 0 2 1 0 3

Fêmeas 0 1 1 0 2

Total de animais 0 5 3 2 10

Rebagliati et al. (2007) encontraram valores de quedas e escorregões muito acima dos observados neste estudo, ou seja, 100% e 94,2% dos eventos foram não aceitáveis e graves. Os autores consideram estas variáveis de grande importância como prováveis produtoras de contusões e hematomas.

O manejo apropriado e gentil, associado à adequação das instalações é capaz de promover a marcha progressiva dos animais sem que os mesmos sejam excessivamente estimulados e, portanto, sem as consequências de uma marcha desordenada, condição de excelência para a avaliação de bem-estar. Conforme se observa nas Tabelas 6 e 7, essa condição não foi observada em nenhum dos lotes analisados, por outro lado verifica-se também que em 90% das vezes constatou-se condição inadequada, sendo 60% delas com ocorrências graves.

Rebagliati et al. (2007) observaram que a maioria das corridas foram classificadas como aceitável nos dois frigoríficos analisados, diferindo deste trabalho. Porém, houve uma maior porcentagem de animais que se chocaram contra as estruturas, recebendo a classificação grave, sendo vaiáveis de grande importância no aparecimento de lesões nas carcaças, assim como o observado neste estudo.

Conforme se verifica nos dados da Tabela 8, a utilização do bastão de eletrochoque para a condução dos animais na seringa foi inaceitável em 70% dos lotes, sendo que em um desses observou-se condição grave. Portanto, em apenas 30% das vezes a avalição foi considerada aceitável. O uso do condutor elétrico pode ser observado desde o embarque e acomodação no caminhão, durante o transporte, no desembarque e manejo dos animais, até o box de insensibilização. Consequentemente, há ainda um longo caminho a ser percorrido nesse sentido, objetivando corrigir práticas arraigadas, eliminar vícios e capacitar adequadamente todos os envolvidos.

Tabela 6. Frequência da ocorrência de reações de fuga (corridas) dos animais no

corredor de acesso, durante o manejo pré-abate, classificadas de acordo com a condição de bem-estar animal para os 10 lotes avaliados. Sinop/MT, 2010.

Categoria animal Excelente Aceitável Não aceitável Grave Total

Machos castrados 0 0 1 4 5

Machos inteiros 0 0 2 1 3

Fêmeas 0 1 0 1 2

Total 0 1 3 6 10

Tabela 7. Frequência de choques dos animais contra as estruturas e instalações

do corredor de acesso, durante o manejo pré-abate, classificada de acordo com a condição de bem-estar animal para os 10 lotes avaliados. Sinop/MT, 2010.

Categoria animal Excelente Aceitável Não aceitável Grave Total

Machos castrados 0 0 1 4 5

Machos inteiros 0 0 2 1 3

Fêmeas 0 1 0 1 2

Total 0 1 3 6 10

Tabela 8. Frequência do uso do condutor elétrico na seringa de acesso ao box de

insensibilização, quanto à classificação de bem-estar animal para os 10 lotes de animais avaliados. Sinop/MT, 2010.

Categoria animal Excelente Aceitável Não aceitável Grave Total

Machos castrados 0 1 3 1 5

Machos inteiros 0 2 1 0 3

Fêmeas 0 0 2 0 2

Total 0 3 6 1 10

Nesse sentido, desenvolveu-se um estudo no Chile, no qual se avaliou a porcentagem de animais que escorregaram ou caíram, bem como, a vocalização e o uso do bastão elétrico durante o manejo de 500 bovinos de forma diagnóstica. Após semanas de treinamento e capacitação dos funcionários, observou-se que os mesmos indicadores diminuíram significativamente, juntamente com pequenas mudanças realizadas nas instalações para facilitar o manejo (GALLO et al., 2003).

Miranda-De La Lama et al. (2012) verificou que a etapa de pré-abate no frigorífico pareceu ser o ponto mais crítico, apresentando alta frequência de vocalização, escorregões e quedas e o uso excessivo de bastão elétrico, quando comparado a etapa de desembarque como foi observado nesse trabalho.

Outro parâmetro monitorado foi a eficiência de insensibilização dos animais na canaleta de sangria. Observou-se 900 animais, sendo que desses, 300 foram machos castrados, 300 machos inteiros e 300 fêmeas. Para as irregularidades nesse parâmetro, pode-se ter atordoamento falho devido à má manutenção da pistola, ou ainda por erro de pontaria no disparo (Tabela 9). Pela Tabela 10 constata-se o número de disparos excedentes nas diferentes categorias animais.

O protocolo para interpretação dos resultados da monitoria de insensibilização, de acordo com Grandin (2001), foi:

Excelente: de 99 a 100% dos bovinos atordoados no primeiro disparo; Aceitável: 95% dos bovinos são atordoados no primeiro disparo;

Tabela 9. Demonstrativo do número, porcentagem e características de

atordoamento, segundo a categoria animal em estabelecimento de abate de bovinos, no município de Sinop/MT, 2010.

Categoria animal

Atordoamento Machos castrados Machos inteiros Fêmeas Total Eficaz 154 (51,3%) 155 (51,7%) 172 (57,3%) 481 (53,5%) Ineficaz 146 (48,7%) 145 (48,3%) 128 (42,7%) 419 (46,5%) Disparos excedentes 141 (47,0%) 142 (47,3%) 125 (41,7%) 408 (45,3%) Manutenção Deficiente 5 (1,7 %) 3 (1,0%) 3 (1,0%) 11 (1,2%) Total 300 (100%) 300 (100%) 300 (100%) 900 (100%)

O atordoamento é um parâmetro pelo qual se avalia tanto a eficiência do equipamento utilizado, quanto à capacidade das pessoas responsáveis por este procedimento. Nota-se pela Tabela 9 que em 53,5% das vezes o atordoamento foi eficaz, ou seja, obteve-se a insensibilização dos animais com apenas um disparo. Entretanto, num percentual quase equivalente, de 46,5%, o procedimento mostrou-se ineficaz, caracterizando uma situação inadequada. Da totalidade dos casos em que o procedimento foi ineficaz, verificou-se que a maioria (97,4%) deveu-se ao despreparo ou falta de qualificação do operador, resultando em

disparos excedentes, enquanto que a minoria (1,2%) deveu-se à falta de manutenção adequada do equipamento utilizado.

Miranda-De La Lama et al. (2012) observaram que a despeito de terem encontrado alta porcentagem de animais insensibilizados com apenas um disparo, o tempo entre a insensibilização e a sangria excedeu o recomendado, com possibilidade do animal recobrar a consciência. Como se verifica neste estudo, o fator humano é um ponto crítico, havendo a necessidade de treinamento dos operadores.

Grandin (2002) encontrou 81% de eficiência de insensibilização em 21 plantas de abate auditadas. As ineficiências encontradas foram devidas à falhas no armazenamento e má manutenção do equipamento e inexperiência do operador.

Sabe-se que o comportamento da fêmea facilita o resultado dessa operação. Embora a diferença não seja grande, os dados da Tabela 9 mostram isso quando se analisa a eficácia para os diferentes grupos avaliados. Evidentemente essa comparação fica prejudicada pelo nível de ineficácia observada.

Excluída a condição de manutenção do equipamento, outra situação que evidencia o despreparo do operador é a necessidade da repetição do procedimento para alcançar o objetivo. Nesse caso, do total de 408 animais em que o atordoamento foi ineficaz, procurou-se quantificar a necessidade de disparos adicionais (Tabela 10).

Apesar de verificar-se a utilização decrescente de disparos adicionais - uma condição esperada, algo que chamou muito a atenção foi a frequência da necessidade de utilizar quatro ou mais disparos (23,0%) para produzir a insensibilização do animal. Observou-se o uso do choque e da marreta quando a insensibilização não foi executada corretamente.

Ainda pela Tabela 10 observa-se o número de disparos excedentes observados durante a coleta das informações, segundo a categoria animal. Nota- se que em 48,3% dos animais ocorreram dois disparos e em 28,7% dos animais precisou de três disparos, em 15,4% dos animais houve a necessidade de quatro disparos e em 7,6% dos animais precisou de mais de quatro disparos. A categoria animal que precisou de um maior número de disparos para insensibilizar foi a de machos castrados com 9,2% dos animais com mais de quatro disparos.

A presunção de consciência, de acordo com os propósitos, foi avaliada pela observação de reações características da espécie animal, universalmente aceitas como parâmetro para essa finalidade.

Tabela 10. Número de disparos excedentes necessários à efetiva

insensibilização, segundo a categoria animal, em estabelecimento de abate de bovinos. Sinop/MT, 2010.

Categoria animal

Atordoamento Machos castrados Machos inteiros Fêmeas Total 2 disparos 75 (53,2%) 69 (48,6%) 53 (42,4%) 197 (48,3%) 3 disparos 38 (27,0%) 40 (28,2%) 39 (31,2%) 117 (28,7%) 4 disparos 15 (10,6%) 23 (16,2%) 25 (22,0%) 63 (15,4%) Mais de 4 disparos 13 (9,2%) 10 (7,0%) 8 (6,4%) 31 (7,6%)

Total 141 142 125 408

Os resultados para os parâmetros avaliados encontram-se sumarizados na Tabela 11. Observou-se que a vocalização ocorreu em 54,3% sendo o fator de maior ocorrência, seguido de movimento respiratório (13,6%). As fêmeas vocalizaram mais que machos castrados e estes mais que machos inteiros, porém para a correção de postura foi observada somente em machos inteiros (17,2%) seguidos de machos castrados (9,4%).

A vocalização pode ser associada a eventos aversivos como eletrochoque, escorregões, erros ao insensibilizar, bordas afiadas nos equipamentos ou pressão excessiva na contenção. Puderam ser reduzidas através de modificações no equipamento e redução de voltagem. Os animais não refugavam quando a entrada do box era bem iluminada ou quando um falso piso era colocado (eliminando a sensação de “penhasco”) e isso reduzia o uso do eletrochoque porque os animais não refugavam (GRANDIN, 2001b).

Almeida (2005) avaliou a eficiência da insensibilização em cinco abatedouros do estado de São Paulo, nos estabelecimentos monitorados, mesmo com baixa velocidade de abate, não houve melhor aproveitamento da eficiência do atordoamento, ficando com resultado de 84,00% de atordoamento correto em um primeiro disparo. No frigorífico com maior velocidade houve um aproveitamento de 75,87% também em um primeiro disparo do equipamento de atordoamento. Os erros por má pontaria, no disparo durante o atordoamento, ocorreram principalmente por não haver equipamento de contenção adequado,

permitindo que o animal se movimentasse muito no momento de ser atordoado, balançando a cabeça e se mantendo agitado, dificultando o trabalho do operador, que demorava mais tempo com o procedimento e também não conseguia posicionar a cabeça do animal adequadamente.

Tabela 11. Parâmetros indicadores de má insensibilização de acordo com a

frequência de sua ocorrência para as diferentes categorias animais monitoradas. Sinop/MT, 2010.

Categoria animal

Machos castrados Machos inteiros Fêmeas Total Vocalizações 46 (54,1%) 22 (34,4%) 84 (64,1%) 152 (54,3%) Movimentos respiratórios 19 (22,3%) 8 (12,5%) 11 (8,4%) 38 (13,6%) Movimentos oculares 5 (6,0%) 11 (17,2%) 11 (8,4%) 27 (9,6%) Reflexo Palpebral 7 (8,2%) 12 (18,7%) 12 (9,2%) 31 (11,1%) Correção postura 8 (9,4%) 11 (17,2%) 13 (9,9%) 32 (11,4%) Total 85 64 131 280

Quando ocorria a necessidade de um segundo disparo, apenas em 50,00% a 75,00% dos animais obtinha-se eficiência, sendo que os demais precisavam de três ou até mesmo quatro ou mais disparos, valores semelhantes aos encontrados neste estudo. Tal fato pode ser explicado devido aos animais ficarem muito mais agitados após um primeiro disparo, que, ao não atingir o alvo, causava dor no local atingido, deixando o animal mais estressado, movimentando-se mais na tentativa de livrar-se do agressor (ALMEIDA, 2005).

Em 22 abatedouros americanos auditados pelo Mc Donald’s com apenas uma visita, os três aspectos considerados foram: eficácia do atordoamento, insensibilidade na caneleta de sangria e vocalizações, sendo que 77% foram eficazes no atordoamento (com 95% de aproveitamento); 91% dos estabelecimentos tiveram 100% de insensibilização na sangria e 86% tiveram menos que 3% de vocalizações, concluindo que esse tipo de auditoria contribui para a melhora do manejo pré-abate e das práticas de manejo (GRANDIN, 2000).

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