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A correta gestão dos recursos hídricos parte de um ponto fundamental centrado em políticas públicas sérias e de uma criteriosa elaboração. A manutenção e preservação de todos os serviços ambientais e sócio-econômicos dos quais reservatórios são responsáveis depende de uma gestão com uma abordagem ecossistêmica. Tal gestão é algo óbvio do ponto de vista físico, visto que o fluxo de água consumida ou redistribuída periodicamente pela irrigação ou pela energia hidrelétrica, por exemplo, afeta a capacidade de depuração de rios e reservatórios e, conseqüentemente, o efeito dos despejos de efluentes industriais ou urbanos na qualidade da água (MARGULIS et al., 2002). A autodepuração dos corpos d’água é um fenômeno que promove o restabelecimento do equilíbrio no meio aquático, após as alterações

induzidas pelos despejos afluentes (VON SPERLING, 1996). Esse restabelecimento das condições reflete a capacidade do corpo hídrico em superar o impacto da entrada dos efluentes não tratados no sistema.

3.5.1 Legislação vigente

A Agência Nacional das Águas (ANA) é o órgão responsável por implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos, cabendo-lhe, entre outras atribuições, promover a elaboração de estudos para subsidiar a aplicação de recursos financeiros da União em obras e serviços de regularização de cursos d’água, de alocação e distribuição de água e controle da poluição hídrica, em consonância com o estabelecido nos Planos de Recursos Hídricos (ANA, 2005). É atribuição da Superintendência de Planejamento de Recursos Hídricos da ANA elaborar e manter atualizado o diagnóstico de oferta e demanda, em quantidade e qualidade, dos recursos hídricos do País.

O capítulo II da política nacional dos recursos hídricos destaca os objetivos principais da qualidade da água, que é “assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos”. Já no capítulo III, encontramos as diretrizes gerais para a implementação da política, como, por exemplo, “a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade”. O grande problema é que historicamente a gestão da qualidade das águas não teve o mesmo destaque que a gestão de suas quantidades, com informações insuficientes ou até mesmo inexistentes (ANA, 2005).

Uma importante ferramenta de gestão dos recursos hídricos é a correta alocação de água. A outorga de direito de uso de recursos hídricos é um dos seis instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelecidos no inciso III, do art. 5º da Lei Federal nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997, que estabelece também os Planos de Recursos Hídricos, o enquadramento dos corpos de água em classes, a cobrança pelo uso dos recursos hídricos, a compensação a municípios e o Sistema de Informações sobre os Recursos Hídricos. Este instrumento tem como objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água, baseando-se no princípio da permissão de uma descarga de poluente tal que, após sua diluição na vazão mínima fixada como referência, a qualidade da água no corpo receptor permaneça satisfatória, conforme seus objetivos de qualidade estabelecidos pela classe de uso.

De acordo com o inciso IV, do art. 4º da Lei Federal nº 9.984, de 17 de junho de 2000, compete à Agência Nacional de Águas, ANA, outorgar, por intermédio de autorização, o direito de uso de recursos hídricos em corpos de água de domínio da União, bem como emitir outorga preventiva. O instrumento de outorga é necessário para o gerenciamento dos recursos hídricos, pois permite ao administrador realizar o controle quali-quantitativo da água, e ao usuário a necessária autorização para implementação de seus empreendimentos produtivos e o uso racional e sustentável da água. É, também, um instrumento importante para minimizar os conflitos entre os diversos setores usuários e evitar impactos ambientais negativos aos corpos hídricos. Campos & Studart (2003) comentam que duas questões são relevantes: o máximo outorgável (volume ou vazão, ou ambos) e como alocar a água em épocas de escassez. Essas são decisões regionais, dependentes do regime dos rios e de seus controles e, por isso, o estabelecimento de normas nacionais para regulamentar a outorga deve ser vista com muita cautela.

Por qualidade da água entende-se o conjunto de todas as características físicas, químicas e biológicas que ela apresenta. A qualidade varia de acordo com a sua utilização, onde padrões de classificação pretendem classificar a água de acordo com a sua potabilidade, a segurança que apresenta para o ser humano e para o bem estar dos ecossistemas. A resolução CONAMA 357/2005 dispõe sobre a qualidade apresentando-a por um segmento de corpo d'água, num determinado momento, em termos dos usos possíveis com segurança adequada, frente às Classes de Qualidade. Por classes de qualidade define-se o conjunto de condições e padrões de qualidade de água necessários ao atendimento dos usos preponderantes, atuais ou futuros.

A mesma lei impõe enquadramentos específicos para cada classe de qualidade de acordo com o estabelecimento de metas ou objetivos a serem obrigatoriamente alcançados ou mantidos em um segmento de corpo de água, de acordo com os usos preponderantes pretendidos, ao longo do tempo. Para as águas doces, respectivas a grande maioria dos reservatórios da região semiárida nordestina, o Art. 4º desta resolução classifica em:

I - classe especial: águas destinadas:

a) ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção; b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; e,

c) à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral, II - classe 1: águas que podem ser destinadas:

a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado; b) à proteção das comunidades aquáticas;

c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA n° 274, de 2000;

d) à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película; e

e) à proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas, III - classe 2: águas que podem ser destinadas:

a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional; b) à proteção das comunidades aquáticas;

c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA nº 274, de 2000;

d) à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto; e

e) à aqüicultura e à atividade de pesca,

IV - classe 3: águas que podem ser destinadas:

a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado; b) à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras;

c) à pesca amadora;

d) à recreação de contato secundário; e e) à dessedentação de animais,

V - classe 4: águas que podem ser destinadas: a) à navegação; e

b) à harmonia paisagística.

Dentre as várias metodologias empregadas nos sistemas de monitoramento da qualidade da água, deve-se antes de tudo levar em consideração quais classes serão respeitadas ou atendidas. Neste trabalho foi priorizado o projeto de um sistema de monitoramento que atenda a qualidade dos recursos hídricos no ambiente, visando o bem

estar das comunidades que integram o ecossistema e a sustentabilidade. A sustentabilidade existe nas esferas sociocultural, econômica e ambiental, mas, o capital natural e ecossistêmico é um bem difuso e coletivo disponível às funções vitais dos seres humanos e das outras espécies biológicas existentes no planeta. Por esta razão considera-se que o capital a ser enfocado e melhor valorado seja o capital natural e ecossistêmico e que os capitais socioculturais e econômicos sejam direcionados com vistas ao melhor alcance dos objetivos e metas que mantenham e/ou aumentem aquele capital (VALENTI, 2002).

A primeira política baseada em abordagens ecossistêmicas foi criada em 1992 (Eco-92), na Convenção sobre Diversidade Biológica, adotada na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento e promulgada no Brasil pelo decreto Nº 2.519 de 16 de março de 1998. A Convenção definiu a abordagem ecossistêmica como uma estratégia de integração entre a gestão da terra, da água e dos recursos que promovem a conservação e a sustentabilidade nos usos em um meio equilibrado (HAMBREY et al., 2008).

4 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO