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4.3 Monitoramento sócio-ambiental da microbacia do Ribeirão São João

4.3.2 Monitoramento do solo

A qualidade do solo está intensamente relacionada à saúde da microbacia, aos aspectos hidrológicos, às práticas de manejo e ao rendimento econômico da atividade agrícola. Assim sendo, é um fator importante a se considerar para a busca da sustentabilidade, tendo em vista, inclusive a interação e a inter-dependência que ocorrem entre os sistemas ecológicos (água, solo, flora, fauna) em uma microbacia.

Fitzpatrick (1996), em um trabalho sobre os indicadores morfológicos de saúde do solo, afirma que é recomendado que informações morfológicas qualitativas façam parte dos programas de monitoramento, pois podem ser usadas tanto por produtores rurais como por cientistas pra reconhecer no campo a degradação do solo causada por: erosão hídrica (indicada pela presença de sulcos, rochas na superfície, exposição de raízes e superfície desigual do solo) (Figura 37), erosão eólica (indicada por marcas de ondulação no solo e assoreamento nos caules das plantas), drenagem deficiente e compactação do solo (indicadas por empoçamento da água e crescimento desigual das plantas), salinização (indicada pela presença de crostas salinas e ingresso de plantas tolerantes à salinização) e perda de matéria orgânica, redução da agregação, baixa condutividade hidráulica (encrostamento do solo e selamento dos poros das camadas superficiais). Os atributos morfológicos de saúde do solo podem ser estimados suficientemente pela calibração das observações qualitativas em comparação aos valores mensurados (Figura 38).

As observações visuais dos indicadores de saúde da microbacia têm sido muito utilizadas nos procedimentos de pesquisa.

Figura 37 - Degradação do solo com afloramento de rochas causada por erosão hídrica na microbacia do Ribeirão São João (Mineiros do Tietê, SP)

Figura 38 - Observações visuais de degradação do solo na microbacia do Ribeirão São João (Mineiros do Tietê, SP) em comparação aos valores mensurados

Os indicadores físicos de saúde do solo proposto por Cass et al. (1996) são: taxa de infiltração de água no solo, agregação e dispersão do solo e resistência do solo à penetração. Esses indicadores devem descrever a qualidade física, a estabilidade da estrutura do solo e o grau de degradação, através de mensurações simples e indicações visuais como, por exemplo, a permanência de água na superfície do solo por longos períodos.

Merry (1996) propõe para indicadores químicos de saúde do solo o pH, a condutividade elétrica e a fertilidade química do solo.

As características químicas do solo podem ser agrupadas em classes:

1- aquelas que indicam os processos e comportamento do solo, por exemplo: pH

2- aquelas que indicam a capacidade de resistir a mudanças (tamponamento), ou de reter nutrientes (“Filtro”), por exemplo: capacidade de trocas de cátions e ânions, quantidade e tipo de argila (pH).

3- aquelas que derivam das exigências das plantas e dos nutrientes químicos do solo, por exemplo: N, P K, cátions (pH).

4- aquelas que indicam contaminação ou poluição, por exemplo: sódio trocável (pH), sais (condutividade elétrica).

O pH do solo é o mais simples e informativo indicador químico da saúde do solo. As análises químicas do solo são muito valiosas para dimensionar os indicadores químicos, pois são um método padronizado de mensuração, de fácil acesso, a probabilidade de erro é baixa e os valores numéricos obtidos são facilmente mapeados (Merry,1996).

Para Dumanski & Pieri (2000) a qualidade do solo reflete e é mensurada através das condições que o fazem ser considerado um “corpo vivo”. As evidências comprovam que as características físicas, químicas e os dados taxonômicos, não são, por si só, úteis para descrever a qualidade do solo. Um importante indicador-substituto pode ser adquirido através dos dados sobre matéria orgânica, particularmente da concentração de carbono microbiano. A matéria orgânica do solo é o melhor indicador-substituto para a saúde do solo, pois é responsável pela manutenção de sua estrutura, dos nutrientes

e do estoque de carbono orgânico e da atividade microbiana. Este indicador deve ser relacionado com a intensidade do uso do solo, com a agro-diversidade e com a cobertura do solo.

A Figura 39 adaptada por Chaer (2001) a partir de Larson & Pierce (1994), correlacionando o que foi discutido anteriormente sobre os indicadores da saúde do solo, mostra o relacionamento das suas funções com os atributos de qualidade do solo e estes com os indicadores, tendo em vista a produção agrícola. A capacidade do solo de desempenhar todas as suas funções está direta ou indiretamente ligada, e em graus de importância diferentes, á qualidade dos atributos, resumidos em suas qualidades físicas, químicas e biológicas. Os indicadores de qualidade do solo, assim como da água e de outros fatores, são substitutos mensuráveis dos atributos, já que estes não podem ser medidos diretamente.

Chaer (2001) constatou em seu trabalho que os indicadores microbiológicos (como por exemplo, o quociente metabólico) se mostraram mais sensíveis que os físicos e químicos para avaliar mudanças na qualidade do solo decorrentes das técnicas de preparo do solo.

Leonardo (2003) concluiu em sua pesquisa sobre indicadores de qualidade do solo que a densidade aparente e o quociente metabólico foram os que se mostraram mais eficientes.

Tendo como fundamentação as propostas destes autores, o monitoramento do solo da microbacia do Ribeirão São João, deve incluir, no mínimo, os seguintes indicadores: os indicadores visuais de degradação do solo, já citados, devido à facilidade de sua avaliação, podendo ser usados tanto por produtores rurais (incentivando sua participação neste processo), como por pesquisador; a taxa de infiltração de água no solo, a agregação e a dispersão do solo, a resistência do solo à penetração, a densidade aparente e a matéria orgânica, indicadores físicos e químicos do solo intimamente relacionados aos processos hidrológicos da microbacia; o pH, pela sua facilidade de acesso e o quociente metabólico, por ser um dos mais sensíveis e eficientes indicadores de qualidade do solo.

Promover o crescimento das raízes Receber, armazenar e suprir de água Armazenar, suprir e ciclar nutrientes Promover as trocas gasosas Promover a atividade biológica Funções do solo Qualidade

química Qualidade física Qualidade biológica

Figura 39 - Funções do solo, atributos a elas relacionados e indicadores de qualidade do solo para a produção vegetal (Chaer (2001),a partir de Larson & Pierce (1994)

Os indicadores de saúde da microbacia devem ser analisados em conjunto, considerando as interações que ocorrem dentro dos limites da microbacia, comprovadas, por exemplo, pela influência da estrutura do solo na infiltração da água das chuvas na terra, acarretando regularidade no regime de vazão e favorecendo o escoamento sub- superficial ou causando a predominância do escoamento superficial e conseqüentemente a erosão.

Os cenários que incluem a análise da zona ripária na adequação do uso do solo e nas considerações sobre as áreas de riscos de erosão propõem justamente uma forma de planejar e monitorar que preveja o envolvimento e a integração entre os processos hidrológicos e o solo na microbacia, a vegetação e os aspectos socioeconômicos.

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Teor de P, N

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MOS

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P-orgânico

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CTC

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pH Atributos da qualidade do solo

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ativ. enzimas do solo

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Temperatura

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biodiversidade

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Densidade

Indicadores da

qualidade do solo

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Porosidade

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C e N da biomassa

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Quociente metabólico

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Agregação

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Retenção de água

4.3.3 Monitoramento da integridade da paisagem e da biodiversidade