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5 ASPECTOS GERAIS SOBRE MONITORAMENTO 49 

5.2 MONITORAMENTO NO MUNDO 62

Koreimann et al., 1996,publicaram o relatório Groundwater monitoring in Europe, para a Agência Ambiental Europeia-AAE, para apresentar a situação e os procedimentos adotados pelas redes de monitoramento de qualidade e quantidade da água subterrâneas nos países membros da Comunidade Europeia - CE. O trabalho foi baseado em um questionário enviando a dezessete países, de um total de dezoito, da CE. Foi constatado que as redes de monitoramento da qualidade da água subterrânea são mais recentes, a maioria delas implantadas entre os anos de 1970 e 1980, exceto a da França, que é a mais antiga, foi iniciada em 1902. Por outro lado, as redes de monitoramento dos níveis de água são bem mais antigas, sendo primeira delas instalada em 1845, na França, e as demais instaladas no início do século XX.

Uma deficiência percebida foi a falta de padronização entre as agências dos países da CE. Em 1998 foi criada a EUROWATERNET, que é uma rede para o monitoramento integrado da qualidade e da quantidade dos recursos hídricos, superfície e subterrâneo. Cujo guia de implementação foi lançado pela AAE (Nixon, et al., 1998) Em 22 de dezembro de 2000, entrou em vigor a Diretiva 2000/60/EC (“Water Framework Diretctive”), “que estabelece ações comunitárias no domínio da política da água, visando proteger e melhorar as condições dos corpos d’água na Europa e estabelece como unidade básica, a Bacia Hidrográfica.” (Dias, et al., 2008)

Jousma e Roelofsen (2004) fizeram um levantamento em cento e oitenta países, por meio de questionários, dos quais apenas quarenta responderam. Em uma fase posterior, com base na literatura, encontram sessenta países com programa de monitoramento. Perceberam também que a quantidade de artigos científicos sobre o monitoramento das águas subterrâneas era pequena. Explicaram esse fato justificando que um programa nacional de monitoramento, muitas vezes fornece dados para as estratégias de gestão, apresentados na forma de relatórios técnicos e raramente publicados como artigos científicos. Concluíram também que os programas de monitoramento mais abrangentes estão na Europa, Estados Unidos e Ásia e os mais deficientes na África, América Central e do Sul.

Nos Estados Unidos da América o monitoramento da água subterrânea fica ao encargo do Serviço Geológico Americano-USGS, que vem lentando dados de nível da água há mais de um século. Existem também redes locais, cujos objetivos e operação dependem dos projetos a elas associados. O USGS trabalha fortemente para integrar essas redes e que sejam obtidos registros de níveis de água de forma sistemática e abrangente. A rede de monitoramento nos Estados Unidos é composta por mais de vinte mil poços, que é operado pelo próprio USGS e entidades parceiras. A frequência de observação é bastante variada, mas no mínimo anual. A rede automática conta com mais de mil e cem poços (CPRM, 2009).

Na tabela 07 são apresentados alguns países com redes de monitoramento de qualidade e/ou de nível da água subterrânea, onde é indicado o foco do monitoramento e a frequência de observação. Koreimann et.al, 1996;Jousma e Roelofsen 2004.

Tabela 07- Informações de monitoramento de vários países.

Países Foco Frequência

Dinamarca Qualidade/Quantidade Trimestral

Itália Qualidade Semestral

China Qualidade/Quantidade

Holanda Qualidade Anual

Áustria Qualidade Trimestral

Coreia do Sul Qualidade/Quantidade 6h (automático)

Noruega Qualidade Semestral

França Qualidade/Quantidade Semestral

Grã-Bretanha Qualidade Anual

Letônia Qualidade Estados

Unidos

Qualidade/Quantidade Automático Canadá

Espanha Qualidade/Quantidade Trimestral (automático) Portugal Qualidade/Quantidade Semestral Alemanha Qualidade/Quantidade Semestral

Finlândia Qualidade/Quantidade Mensal (automático)

Grécia Qualidade Trimestral

Suécia Qualidade/Quantidade Automático

A estrutura e os objetivos dos diferentes programas de monitoramento de águas subterrâneas no mundo, diferem consideravelmente entre si, a começar pelos objetivos. A maioria dos programas concentram-se no aspecto da qualidade. Essas diferenças refletem principalmente os problemas em cada país. Onde a água é mais escassa o foco

principal e a quantidade, mas onde é abundante e há riscos de contaminação antropogênica, com ameaça a saúde pública, inevitavelmente o foco principal e a qualidade (Jørgensen e Stockmarr, 2009).

5.3 MONITORAMENTO NO BRASIL

No Brasil o monitoramento de água subterrânea sempre foi uma atividade marginal. Mas que gradativamente vem ganhando a devida importância. No Brasil os programas de governo se sobrepõem aos programas de Estado, e a implantação de uma rede de monitoramento é eminentemente uma atividade de longo prazo e contínua. Devido a sua natureza subterrânea, não desperta a atenção dos gestores, que preferem deslocar recursos financeiros para programas que possuam mais visibilidade e que atraiam mais votos.

Em 2006 a Associação Brasileira de Águas Subterrâneas organizou o I Simpósio Latino-Americano de Monitoramento dos Recursos Subterrâneos, na cidade de Belo Horizonte, MG. Como não despertou a devida atenção essa iniciativa não vingou, sendo essa a única edição do evento.

Uma das ações que apontam para uma mudança de paradigma é a Rede Integrada de Monitoramento de Águas Subterrâneas – RIMAS, coordenada e planejada pela Agência Nacional de Águas – ANA, e implantada e operada pelo Serviço Geológico do Brasil – CPRM. Os primeiros poços foram implantados em 2009, sendo previstos, inicialmente, duzentos poços, dos quais, cem seriam poços já existentes e cem construídos especificamente para esse fim (CPRM, 2009). Atualmente a rede dispõe de trezentos e oitenta poços, ultrapassando a previsão inicial

(http://rimasweb.cprm.gov.br/layout/).

São realizadas medidas diárias do nível estático, registrado em sensor automático. O monitoramento da qualidade é feito por amostras de água coletadas a cada cinco anos, sendo a primeira no momento da instalação do poço (CPRM, op. cit.)

No Estado de Pernambuco há treze poços da RIMAS, sendo dois na bacia de Mirandiba, aquífero Tacaratu, três em Recife e um em Itapissuma, na Bacia Paraíba, aquífero Beberibe, dois em Serra Talhada e um em Calumbi, na Bacia de Betânia, aquífero Tacaratu, um em Inajá, um em Ibimirim, um em Tupanatinga, um em Buíque, Bacia do Jatobá, aquífero Tacaratu (http://rimasweb.cprm.gov.br/layout/).

Além da RIMAS, há as iniciativas estaduais, destacando-se São Paulo e Minas Gerais. Em São Paulo o monitoramento da Qualidade da água e o nível da água são monitorados emcento e oitenta e quatro poços tubulares que é realizado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental-CETESB, semestralmente (CPRM, 2009)

Em Minas Gerais o monitoramento vem sendo feito pela Companhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais – COPASA, que monitora 600 poços há vinte anos, vazão, nível dinâmico e horas de funcionamento. (CPRM, op. cit.)

No Rio Grande do Norte a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos – Semarh-RN monitora o aquífero Jandaíra, na região de Baraúna/Mossoró. É monitorado apenas nível da água e a rede é composta por cento e trinta e quatro poços, com início dos registros em maio de 2003. No entanto, a observação sistemática é feita apenas em uma parcela reduzida, cerca de cinquenta poços. Há poços que desde do início das observações até a data de hoje tem apenas um únicoregistro. Nos poços com maior frequência de observação o intervalo médio é de sessenta dias. (Demetrio, et al., 2016).

A APAC iniciou em 2012, na Região Metropolitana do Recife, a instalação, emsetecentos e trinta e seis poços, sensores para monitoramento da vazão e do nível da água, operados por telemetria. Em alguns dos poços também foram instalados sensores para monitorar a condutividade elétrica da água. Devido à problemas contratuais com a empresa responsável pela instalação dos equipamentos, o contrato foi suspenso sem a instalação de todos os poços. A rede ainda chegou a operar por algum tempo. A partir de 2017 uma nova empresa foi contratada para concluir os trabalhos, fazer a manutenção nos equipamentos instalados e colocar a rede para operar. Infelizmente até o momento esses dados ainda não estão disponíveis na internet. (Mateus Souza, APAC, informação pessoal).

De um modo geral as companhias de abastecimento estaduais no Brasil, quando utilizam poços tubulares, normalmente fazem, ou já fizeram, algum tipo de monitoramento, porém, sem nenhum compromisso com a continuidade dos registros dos dados, que são fortemente influenciados pela disponibilidade de recursos financeiros, e de decisões das diretorias às quais os serviços de monitoramento ficam subordinados.

 

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