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4. Resultados e Discussão 11

4.2 Morfoanatomia foliar das cultivares tintas

As características biométricas morfoanatómicas das quatro cultivares tintas estudadas de Vitis vinifera subsp. vinifera, encontram-se sumarizadas no Quadros 5.

A área foliar, medida em folhas colhidas entre o 8º e o 9º nós, revela diferenças significativas entre as diversas cultivares (Fig. 18). O valor mais elevado foi verificado na cultivar ‘Trincadeira’ (174,9 cm2) e o menor no ‘Cabernet Sauvignon’ (123,2 cm2). Relativamente ao peso seco, o valor mais baixo foi observado em ‘Touriga Nacional’ (1,2 g) e o mais alto na ‘Trincadeira’ (1,7 g). Todavia não se observaram diferenças significativas entre cultivares no peso específico das folhas (Quadro 4.5).

Figura 18 – Imagens de folhas das cultivares tintas de Vitis vinifera subsp. vinifera Estudadas (barra 1 cm).

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Quadro 5 – Características morfoanatómicas de quatro cultivares tintas de Vitis vinifera subsp. vinifera, ao pintor.

Característica foliar ‘Cabernet Sauvignon’ ‘Syrah’ ‘Touriga Nacional’ ‘Trincadeira’ sig.

Parâmetros Macromorfológicos

Área Foliar (cm2) 123,2 (9,67) c 163,9 (11,35) ab 137, (9,99) bc 174,9 (12,87) a **

Peso seco (g) 1,2 (0,13) bc 1,6 (0,15) ab 1,2 (0,15) c 1,7 (0,15) a **

Peso específico (PS/AF; mg cm-2) 11,2 (0,60) 10,6 (1,65) 9,4 (1,10) 10,6 (1,39) ns

Características Micromorfoanatomicas (a)

Espessura total da lâmina (µm) 188,8 (5,62) b 205,9 (7,51) a 162,1 (4,77) c 166,7 (1,96) c ***

Espessura total do mesófilo 153,2 (5,80) b 171,4 (7,17) a 128,9 (3,70) c 125,2 (2,59) c ***

Espessura parênquima em paliçada (µm) 61,1 (1,85) b 71,8 (3,38) a 48,5 (1,29) c 56,5 (1,79) b ***

Espessura do parênquima lacunoso (µm) 91,9 (4,65) ab 98,7 (5,27) a 81,3 (3,23) b 68,8 (2,47) c ***

Espessura da cutícula superior (µm) 2,5 (0,04) a 2,4 (0,03) a 2,2 (0,09) b 2,3 (0,04) ab **

Espessura da cutícula inferior (µm) 2,6 (0,16) a 2,2 (0,09) bc 2,5 (0,13) ab 1,9 (0,09) c ***

Espessura da epiderme superior (µm) 18,3 (0,77) a 18,6 (0,60) a 15,4 (0,60) b 19,5 (0,70) a ***

Espessura da epiderme inferior (µm) 18,3 (1,34) b 17,0 (0,62) b 18,3 (0,75) b 21,8 (0,78) a ***

a

Média de 22 amostras.

Em cada linha, letras diferentes indicam diferenças significativas pelo teste de LSD: sig – significância; ns – não significativo; ** - significativo para P<0,01; *** - significativo para P<0.001

Santos, A.C.R.F. 32 Os resultados referentes às características micromorfoanatómicas indicam que a cultivar ‘Syrah’ apresentou a maior espessura total da lâmina e do mesófilo, com 205,9 µm e 171,4 µm, respectivamente. O limbo menos espesso observou-se na ‘Touriga Nacional’, com 162,1 µm e a menor espessura do mesófilo foi medida na ‘Trincadeira’, com 125,2 µm (Quadro 5, Fig. 19, 20 e 21). No que concerne à espessura dos parênquimas clorofilinos verifica-se que estão em sintonia com os obtidos para a espessura total da lâmina, ou seja, o maior valor de parênquima clorofilino em paliçada observou-se na ‘Syrah’ (71,8 µm) e o menor na ‘Touriga Nacional’ (48,5 µm). Nas observações do parênquima clorofilino lacunoso, a maior espessura verificou-se também na cultivar ‘Syrah’ (98,7 µm ) e a menor na ‘Trincadeira’ ( 68,8 µm) (Quadro 5).

Comparando os resultados obtidos nas cultivares ‘Cabernet Sauvignon’, ‘Syrah’ e ‘Touriga Nacional’ com os de Monteiro et al. (2013), verifica-se que as características macro e microanatómicas (área foliar, espessura total da folha, peso seco, peso especifico, espessura do parênquima em paliçada e espessura do parênquima lacunoso) apresentaram valores diferentes. De facto, os valores correspondentes à área foliar medidos no presente trabalho, e para as três cultivares referidas, foram sempre inferiores aos dos referidos autores, o mesmo se passando com o peso seco. Relativamente ao peso específico, os resultados agora obtidos foram superiores aos de Monteiro et al. (2013). Nos restantes parâmetros, os valores observados no presente trabalho foram inferiores aos de Monteiro et al. (2013). Segundo Tomas et al., (2014), estes parâmetros variam, numa mesma cultivar, com o ‘stress’ hídrico, sendo nesta situação inferiores. Este facto pode justificar as diferenças encontradas entre os resultados apresentados neste trabalho e os obtidos por Monteiro et al. (2013), visto existirem diferenças climáticas entre os dois locais. Também a diferença de porta enxerto (SO4 no estudo de Monteiro et al. (2013) e 140 RU no presente trabalho) poderá justificar a diferença. Outra possível justificação poderá residir no clone mas não foi possível obter informações sobre este importante aspecto.

Debruçando-nos sobre a cultivar ‘Cabernet Sauvignon’ e comparando os dados obtidos no presente trabalho com os obtidos por Tomás et al. (2014), verificamos que estes autores observaram valores mais próximos dos de Monteiro et al. (2013) nas parcelas testemunha, sendo a espessura total da folha, bem como a espessura do parênquima em paliçada e lacunoso, inferiores quando as plantas apresentam ‘stress’ hídrico. Estes resultados poderão ajudar a explicar as diferenças observadas nos valores obtidos para as cultivares ‘Cabernet Sauvignon’, ‘Syrah’ e ‘Touriga Nacional’ no trabalho de Monteiro et al. (2013) e no presente trabalho.

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Os valores obtidos pelos referidos autores são, na sua maioria, mais elevados que os observados no presente trabalho. Ora, o clima na Tapada da Ajuda é mais quente e seco, apesar da proximidade do mar, que em Torres Vedras, sendo o clima nesta zona caracterizado como Csb (clima temperado com Verão seco e suave) (IPMA, 2014).

Há bastante heterogeneidade quanto à organização do mesófilo (Fig. 19), o mesmo já observado por Monteiro et al. (2013), Salem-Fnayou et al. (2010) e Boso et al. (2010). Todas as cultivares apresentaram células epidérmicas, tanto superiores como inferiores, de formato mais ou menos rectangular, sendo que nas cultivares ‘Cabernet Sauvignon’ e ‘Trincadeira’ evidenciaram uma maior homogeneidade quando à sua dimensão. O parênquima em paliçada mostrou uma a duas camadas de ´células, sendo menos compactos nas cultivares ‘Syrah’ e ‘Touriga Nacional’, sendo mais espesso nas cultivares ‘Cabernet Sauvignon’ e ‘Syrah’. O parênquima clorofilino lacunoso apresentou mais espaços intercelulares na cultivar ‘Touriga Nacional’.

Figura 19 – Corte transversal de folhas adultas de Vitis vinifera subsp. vinifera, observadas sob Microscopia Óptica (x400). A – ‘Cabernet Sauvignon’, evidenciando um estoma ao nível das células epidérmicas (seta grande) e outro elevado (seta pequena); B – ‘Syrah’; C – ‘Touriga Nacional’; D – ‘Trincadeira’ (barra 50 µm).

Santos, A.C.R.F. 34 Nos parâmetros epidérmicos observaram-se diferenças significativas entre cultivares. A cutícula da epiderme, quer superior quer inferior, era mais espessa na cultivar ‘Cabernet Sauvignon’. Das quatro cultivares estudadas, a cutícula da epiderme superior mais fina foi observada na ‘Touriga Nacional’ enquanto a ‘Trincadeira’ apresentou a cutícula da epiderme inferior de menor espessura. Quanto à espessura das células epidérmicas, verificou-se que as células mais espessas, nas duas epidermes, eram as da ‘Trincadeira’, e ‘Touriga Nacional’ tinham as células da epiderme superior menos espessas e a ‘Syrah’ na epiderme inferior apresentou a menor espessura (Quadro 5).

Figura 20 - A – Limbo de folha adulta (ct). A - ‘Cabernet Sauvignon’ (MEV X350); B – ‘Touriga Nacional’ (MEV X100). 1 – Cuticula superior; 2 – Epiderme superior; 3 – Parênquima em paliçada; 4 – Parênquima clorofilino lacunoso; 5 – Epiderme inferior; 6 – Cuticula inferior.

Figura 21 - A – Limbo de folha adulta (ct). A - ‘Trincadeira’ (MEV x75); B – ‘Syrah’ (MEV x350).

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A Figura 22 mostra as diferenças morfológicas da epiderme superior, existente entre as 4 cultivares de Vitis vinifera subsp. vinifera estudadas. Verifica-se uma grande heterogeneidade, o que está de acordo com as observações feitas por outros autores (Boso et al., 2011, Monteiro et al., 2013). A maioria das cultivares apresenta células de formato rectângular ou ligeiramente poligonal, com mais ou menos estrias, à excepção do ‘Cabernet Sauvignon’, cujas células epidérmicas se apresentam lisas. A cultivar ´Touriga Nacional’ foi a que apresentou as células epidérmicas superiores mais estriadas. Em maior ou menor quantidade, todas as cultivares revelaram a presença de ceras epicuticulares.

Figura 22 -

Microfotografias da epiderme superior de folhas adultas de cada uma das 4 cultivares tintas de Vitis vinifera subsp. vinifera. A – ‘Cabernet Sauvignon’ (x750); B – ‘Syrah’ (x750); C - ‘Touriga Nacional’ (x1000); D – ‘Trincadeira’ (x200)

Santos, A.C.R.F. 36 No Quadro 6 apresentam-se os diferentes parâmetros estomáticos. A maior densidade estomática foi observada na cultivar ‘Trincadeira’ (com 255,6 estomas/mm2) com valores significativamente diferentes das outras três cultivares, sem diferenças entre si. Como já foi dito, relativamente ao tipo de estomas, todas as cultivares apresentam os três tipos de estomas (ao nível das células epidérmicas, enterrados e elevados, relativamente a estas células).

Vários estudos mostram que podem existir diferenças na densidade estomáticas em função das condições ambientais e práticas culturais (Gokbayrak et al., 2008, Sadras, et. al, 2012). Os mesmos autores formulam a hipótese de que os mesmos genótipos instalados em locais distintos sob condições de vento e sem vento, deverão evidenciar diferentes densidades estomáticas. Os actuais resultados sustentam esta teoria, sendo a densidade estomática das cultivares ‘Cabernet Sauvignon’, ‘Syrah’ e ‘Touriga Nacional’ inferior à observada por Monteiro et al. (2013), que estudaram estas cultivares provenientes de uma zona muito mais sujeita a ventos fortes que a Tapada da Ajuda.

Os estomas inseridos ao mesmo nível das outras células epidérmicas representam cerca de 50% do total e sem diferenças estatísticas entre as cultivares estudadas. Quanto aos estomas elevados, a cultivar ‘Trincadeira’ apresentou a menor percentagem deste tipo de estomas, com 20,8%. Nos estomas enterrados foi a cultivar ‘Cabernet Sauvignon’ que apresentou a menor percentagem (11,7%) e a ‘Trincadeira’ a maior percentagem (38,1%). As outras duas cultivares apresentaram valores semelhantes sem diferenças entre eles (Quadro 6).

A proporcionalidade de cada tipo de estoma é mantida nas cultivares ‘Syrah’, e ‘Touriga Nacional’ não o sendo no ‘Cabernet Sauvignon’, relativamente ao trabalho de Monteiro et al. (2013).

Relativamente ao comprimento e largura de cada tipo de estoma constatou-se que os estomas de maiores dimensões são os elevados, os estomas inseridos ao mesmo nível têm dimensões intermédias e os enterrados apresentaram o menor comprimento e largura. Na comparação entre cultivares não se verificaram diferenças significativas no tamanho dos estomas elevados, nem nos estomas ao mesmo nível. Nos estomas enterrados a cultivar ‘Trincadeira’ apresentou estomas com comprimento significativamente menor que a ‘Syrah’ (Quadro 6).

Tanto o comprimento como a largura dos estomas elevados são superiores aos dos dois outros tipos de estoma (Fig. 23), o que está de acordo com os resultados de Monteiro et al. (2013) e Boso et al. (2010).

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Monteiro et al. (2013) e Boso et al. (2011) concluíram não existir uma clara relação entre a espessura da folha e a dimensão dos estomas, sendo que os resultados do presente trabalho, com as quatro cultivares tintas, também apontam nesse sentido.

Figura 23 – Microfotografia de quatro cultivares tintas de Vitis vinifera subsp. vinifera (x750), evidenciando os três tipos de estoma (seta). A – ‘Cabernet Sauvignon’, estoma elevado; B – ‘Touriga Nacional’, estoma enterrado; C – ‘Trincadeira’, estoma ao nível; D – ‘Syrah’, estoma elevado.

Todas as cultivares tintas apresentaram indumento na epiderme inferior, com dois tipos de tricomas: i) pluricelulares, eretos ou ligeiramente curvados, pontiagudos; ii) provavelmente unicelulares, muito longos, helicoidais formando um emaranhado. (Fig. 24, 25 e 26). O tipo de células epidérmicas, a existência e tipo de tricomas, bem como algumas observações específicas, encontram-se sumarizados no Quadro 7.

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Quadro 6 - Características estomáticas das folhas das cultivares tintas de Vitis vinifera subsp. vinifera, ao pintor.

Característica Foliar ‘Cabernet Sauvignon ‘Syrah ‘Touriga Nacional’ ‘Trincadeira’ sig.

a Densidade estomática (nº mm-2) 178,6 (12,80) b 192,6 (18,97) b 196,1 (11,94) b 255,6 (18,25) a ** a Tipo de estoma (% do total) Elevados 36,1 (0,04) a 27,2 (0,04) b 36,3 (0,07) a 20,8 (0,05) c ** Ao mesmo nível 52,2 (0,07) 47,6 (0,08) 40,7 (0,06) 41,1 (0,05) ns Enterrados 11,7 (0,06) c 25,1 (0,06) b 23,0 (0,07) b 38,1(0,03) a ** Elevados (µm) Comprimento 37,4 (1,11) 39,9 (0,97) 45,4 (10,41) 37,3 (1,02) ns Largura 25,4 (0,78) 28,5 (2,19) 31,9 (8,92) 28,9 (2,24) ns Ao mesmo nível (µm) Comprimento 28,8 (0,65) 29,9 (0,87) 28,5 (0,70) 29,2 (1,03) ns Largura 18,5 (0,70) 18,9 (0,89) 18,7 (0,87) 20,5 (0,88) ns Enterrados (µm) Comprimento 21,6 (0,87) ab 25,3 (1,85) a 24,6 (1,04) ab 21,4 (1,01) b ** Largura 14,1 (0,92) 15,7 (1,40) 12,6 (0,79) 12,8 (0,97) ns a

Médias de 9 fotografias de MEV: x 750;

Em cada linha, letras diferentes indicam diferenças significativas pelo teste de LSD: sig – significância; ns – não significativo; ** - significativo para P<0,01; *** - significativo para P<0,001.

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Quadro 7 – Morfologia celular epidérmica, tipo e densidade de tricomas das cultivares tintas de Vitis vinifera subsp. vinifera, ao pintor.

Cultivar

Morfologia celular Tricomas Densidade dos tricomas

Observações Células da epiderme

superior

Células da epiderme

inferior Erectos Helicoidais Erectos Helicoidais ‘Cabernet Sauvignon’ Longas, rectangulares, irregulares Longas, retangulares,

irregulares, finas Sim Sim Alta Alta -

‘Syrah’ Longas, rectangulares, irregulares Longas, rectangulares, irregulares

Sim Sim Alta Alta Existência de Glândulas perladas ‘Touriga Nacional’ Longas, rectangulares, regulares Longas, rectangulares, regulares

Sim Sim Alta Alta Existência de Glândulas perladas ‘Trincadeira’ Longas, rectangulares, irregulares Longas, rectangulares, irregulares

Sim Sim Alta Alta Existência de Glândulas perladas

Santos, A.C.R.F. 40 Figura 24 – Microfotografias de duas cultivares tintas de Vitis vinifera subsp. vinifera, evidenciando os dois tipos de tricoma (erectos e helicoidais) A – ‘Cabernet Sauvignon’ (x 35); B – ‘Touriga Nacional’ (x 100)

Figura 25 - Microfotografias de duas cultivares tintas de Vitis vinifera subsp. vinifera, evidenciando os dois tipos de tricoma (erectos e helicoidais). A – ‘Syrah’ (x 75); B – ‘Trincadeira’ (x 200).

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À semelhança do verificado para as cultivares brancas, também nas tintas se verifica uma maior densidade de tricomas junto às nervuras (Figura 26).

Figura 26 – Microfotografias duas cultivares de Vitis vinifera subsp. vinifera, evidenciando a densidade de tricomas junto das nervuras principais. A – ‘Trincadeira’ (MEV x 50); B – ‘Cabernet Sauvignon’ (MEV x 50).

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