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Morfologia das inclusões do maciço Mangabeira

CAPÍTULO 3 – PETROGRAFIA, MICROTERMOMETRIA E ANÁLISE POR

3.5. DISCUSSÃO

3.5.1. Morfologia das inclusões do maciço Mangabeira

Baseado na petrografia e comparando-se com trabalhos realizados, procurou-se descrever as inclusões vítreas em cada litologia e definir suas respectivas assembleias. De acordo com Bodnar & Student (2006), essas assembleias definem grupos de inclusões que foram aprisionadas simultaneamente e que, consequentemente, infere-se terem a mesma temperatura e pressão no momento do aprisionamento e serem formadas de um fluido de igual composição, desde que não tenham sofrido alteração após o seu aprisionamento.

Embora esse conceito seja baseado principalmente em resultados físico-químicos, também se consideram as semelhanças petrográficas. Este foi o principal critério utilizado para a definição das assembleias no maciço Mangabeira, porém não foram descartados os resultados das análises de microssonda eletrônica para auxiliar nessa definição.

De acordo com os dados petrográficos, nos granitos g1c e g2d, o fato de as inclusões não ocorrerem em grupos, mas sim aleatoriamente em diversos grãos dentro da rocha, podem sugerir que essas não pertencem à mesma assembleia. Dessa forma, apenas para as inclusões do topázio-albita granito podem ser interpretadas como constituindo assembleia. Nas outras duas litologias essa definição pode gerar dúvidas, embora sejam morfologicamente

89 semelhantes entre si. Em cada rocha estudada os grupos de inclusões diferiram morfologicamente uns dos outros.

A comparação das inclusões deste trabalho com de outras rochas mostram semelhanças petrográficas. Günther et al., (2001) observou um conjunto de inclusões silicáticas em granito do Pluton Rio del Medio, Novo México (EUA; Figura 3.5 A), formadas por uma quantidade de líquido magmático cristalizado e bolhas de vapor, assim como as do biotita granito e as do topázio-albita granito. Rickers et al., (2006) descrevem inclusões semelhantes àquelas encontradas no biotita granito (g1c) com diversos minerais-precipitados (Figura 3.5 B). À semelhança da inclusão da Figura 3.3 L, Michaud et al., (2000) apresentam inclusão silicática em olivina de andesito com óxido precipitado na inclusão (Figura 3.5 C).

Inclusões silicáticas cristalizadas morfologicamente semelhantes às encontradas no topázio-albita granito foram observadas em grãos de ortopiroxênio de websteritos no oeste da Hungria por Bali et al., (2008; Figura 3.5 E). Aquelas inclusões consistiam de ripas de quartzo aprisionado junto a vidros silicáticos e bolhas de CO2. Wallianos et al. (1999)

também encontraram inclusões semelhantes em cristais de quartzo em granitos do Cinturão Estanífero Andino (Figura 3.5 D).

As inclusões do Li-siderofilita granito apresentam morfologia muito semelhante àquelas na literatura (Figura 3.2 B), onde se descreve inclusões cristalizadas como geralmente opacas, com massas de cristais escuras e bordas não nítidas (Student & Bodnar, 2004). Rapien

et al., (2003) reafirmam a dificuldade geralmente existente para se distinguir entre inclusões cristalizadas e sólidos aprisionados no hospedeiro.

Em relação ao momento de formação, Bodnar & Student (2006) relatam que a maioria das inclusões é considerada como primária quando associadas a linhas de crescimento dos minerais ou, quando em distribuição aleatória dentro dos grãos (denominadas inclusões azonais), não apresentam evidências de fraturamento ou dissolução de minerais. De acordo com os dados petrográficos, as inclusões dos granitos g1c e TAG podem ser consideradas como primárias. Contudo, o mesmo não pode ser afirmado para aquelas do Li-siderofilita granito, visto que algumas inclusões apresentaram fraturas que as intersectaram.

Quanto ao tamanho, relativamente grande para inclusões em rochas plutônicas, alguns podem ser os motivos: por serem azonais, uma vez que essas tendem a ser maiores que as inclusões zonais (Student & Bodnar, 2004); por terem sido formadas a partir de magmas ricos em água, capazes de promover o crescimento das inclusões durante o resfriamento (Student & Bodnar, 1999). Baixa taxa de resfriamento poder levar à cristalização de grandes inclusões (Frezzotti, 2001).

90 De acordo com Frezzotti (2001), a existência de grandes bolhas em inclusões silicáticas ocorre devido à saturação da fusão em voláteis. Roedder (1992) afirma que a imiscibilidade fusão-voláteis é reconhecidamente um importante processo em muitos sistemas hidrotermais-magmáticos. Nas inclusões do depósito Mangabeira, a saturação e a imiscibilidade fusão-voláteis são observadas por meio da existência de inclusões silicáticas e fluidas nos mesmos grãos. Estudos realizados por Webster & Thomas (2006) mostram que depósitos estaníferos são geralmente ricos em voláteis.

A interseção de fraturas nas inclusões silicáticas do granito g2d com ocorrência de inclusões fluidas ao redor daquelas (Figuras 3.2 A e C) reflete a alteração por fluidos hidrotermais que atingiu as rochas do maciço Mangabeira (Frezzotti, 1992; Lenharo et al., 2002; Student & Bodnar, 2004). Estudos realizados em depósitos de cobre pórfiro (Student & Bodnar, 2004) mostraram que inclusões silicáticas formadas em depósitos minerais com intensa atividade hidrotermal são geralmente alteradas por esses fluidos. Essas características indicam que essas inclusões sofreram evasão do seu material e que os resultados de análises químicas provavelmente não refletem a sua composição original.

Outro fator que pode causar a perda do material em inclusões é a descompressão ocorrida na rocha. Após o aprisionamento do magma no interior da inclusão, ocorre uma queda na pressão externa devido à ascensão do pluton. Essa descompressão gera uma desgaseificação de fluidos e cristalização de minerais-filhos dentro da inclusão.

Quando a inclusão é rica em água e a descompressão é muito rápida, a pressão no interior da inclusão poderá se tornar suficientemente elevada para decrepita-la. Uma vez que esses processos ocorrem em altas temperaturas, o resultado da expulsão de água da inclusão original é a formação de pequenas inclusões fluidas ao redor da cavidade das inclusões silicáticas.

Em relação às inclusões do granito Mangabeira (g1c), embora visualmente pareçam ter preservado o seu material aprisionado, os resultados das análises na platina Vernadsky durante o aquecimento dessas inclusões indicam a provável perda de seu material antes de seu aquecimento. Contudo, cabe ressaltar que, diferentemente das inclusões do granito g2d, essas não apresentavam características de terem perdido seu material, tais como a ocorrência de fraturas e inclusões fluidas ao redor das silicáticas.

As feições morfológicas do topázio-albita granito observadas na Figura 3.2 sugerem que os grãos de topázio aciculares cresceram a partir de um líquido magmático aprisionado e que posteriormente cristalizou esse topázio. A presença de um cristal na porção vítrea da inclusão (Figura 3.3 L) sugere eventual aprisionamento do material ou, pontualmente,

91 alterações na concentração do líquido silicático. As Figuras 3.3 F e G sugerem que o crescimento dos cristais foi posterior à formação das bolhas, uma vez que aqueles chegam a comprimir as bolhas contra a parede da inclusão.

O fato de as inclusões dessa rocha se apresentarem perfeitamente intactas sugere que o líquido silicático pode refletir a composição magmática à época da formação da inclusão. O aquecimento dessas inclusões na platina Linkam até temperatura de 520ºC sem qualquer alteração morfológica descarta a hipótese dessas inclusões silicáticas serem na verdade inclusões fluidas, visto que a temperatura de homogeneização máxima encontradas nessas foram inferiores à 450 ºC.

3.5.2. Aquecimento das melt inclusions e análises de microssonda

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