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Morfometria geométrica de asas aplicada em Tetragona clavipes

A análise feita através da morfometria geométrica de asas, atualmente, mostra-se como uma ferramenta útil para caracterização e identificação de grupos de abelhas, auxiliando os trabalhos taxonômicos. Além disso, é uma técnica rápida e de baixo custo (SCHRODER e cols., 2002).

Funciona a partir da comparação entre deformações em estruturas homólogas, identificando variações sutis entre os indivíduos amostrados. No âmbito das abelhas sem ferrão é muito eficaz, se comparada com outras ferramentas usadas para a mesma finalidade e que não permitem as análises para os

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meliponíneos devido à sua redução das veias da asa anterior, característica sinapomórfica das abelhas desse grupo (FRANCOY e cols., 2010).

Quando usada em indivíduos da mesma espécie, essa técnica oferece aplicação dentro de várias abordagens, mas principalmente mostrando se há ou não divergências evolutivas entre os grupos, podendo ser aliada a técnicas moleculares e, assim, corroborar ou não estudos relacionados à distribuição biogeográfica das populações.

BONATTI (2012) analisou populações de Melipona subnitida, que tem ocorrência ampla no bioma da Caatinga, e observou uma separação em certos grupos, que provavelmente representam ecótipos adaptados localmente. Porém, quando os dados foram cruzados com análises moleculares, usando marcadores de regiões do DNA mitocondrial, não encontrou similaridade nos padrões de distribuição para algumas localidades. A sugestão para isso foi de que a ação antrópica poderia estar influenciando o fluxo gênico entre as populações desta abelha em certas localidades, já que a espécie é muito requisitada entre meliponicultores.

Em outro estudo, FRANCOY e cols. (2009) compararam caracteres entre machos e operárias de cinco espécies de meliponíneos e obtiveram resultados que mostraram a maior proximidade entre os indivíduos coespecíficos e de sexos opostos, do que quando comparados com indivíduos do mesmo sexo de outra espécie. Assim, os grupos ficaram separados e foi possível demonstrar que, para resolver questões taxonômicas, tanto indivíduos machos como fêmeas de uma mesma espécie servem para identificação correta dos grupos, uma vez que o teste de validação cruzada apontou erros apenas na comparação entre indivíduos dos sexos opostos, porém, da mesma espécie e não entre espécies.

Uma abordagem ainda não explorada é a comparação entre asas das castas dos meliponíneos, sendo interessante verificar e caracterizar a existência de possíveis diferenças no padrão das nervuras, uma vez que os indivíduos, embora sejam do mesmo sexo, possuem adaptações morfológicas e funcionais únicas.

Inicialmente, a proposta apresentada aqui foi para caracterização das asas entre as abelhas que se alimentaram com a quantidade de alimento larval limiar para a diferenciação de castas, para averiguar se nesta situação as castas são bem definidas.

A análise feita entre as asas das rainhas e operárias, obtidas em laboratório, e outro grupo de operárias naturais revelou a existência de diferenças no padrão da

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venação entre as castas de T. clavipes, conforme abordado na seção dos resultados.

Os grupos ficaram separados conforme a gradação do volume de alimento larval fornecido às larvas.

Uma rainha obtida com 45 µL ficou agrupada com as rainhas de 50 µL e uma operária obtida com 50 µL foi incluída no grupo das operárias maiores, obtidas com 40 µL de alimento larval. Apesar do número pequeno nessa amostragem, isso sugere que, independentemente do volume de alimento larval consumido, as castas apresentam características bem definidas em relação à formação das veias na asa.

Além da análise baseada nos marcos anatômicos, as fotomicrografias (figura 33) evidenciaram a existência de uma ramificação de uma das veias nas asas das rainhas, que não se encontra desenvolvida nas asas das operárias naturais, bem como a formação gradual desse segmento de veia conforme as larvas se alimentaram mais. Quanto a isso, operárias e rainhas obtidas com a quantidade limiar apresentaram vestígios do início da formação da veia.

A cascata de expressão gênica que controla a formação dos discos imaginais das asas é bem conhecida em estudos com a mosca Drosophila melanogaster, além de outros trabalhos feitos com espécies de borboletas e formigas, que sugerem que esse mecanismo seja conservado em grande parte dos grupos de insetos holometábolos.

ABOUHEIF e WRAY (2002) analisaram a expressão gênica diferencial de seis genes (que regulam o desenvolvimento das asas em D. melanogaster) entre castas de quatro espécies de formigas, identificando o momento do desenvolvimento em que ocorre a interrupção da formação dos discos imaginais das castas não aladas. Em Pheidole morrisi, foi demonstrado que as fêmeas soldado possuem discos imaginais vestigiais da asa anterior e que a interrupção da expressão de um único gene (spalt) durante o último instar larval, responsável pelo posicionamento das veias da asa, faz com que os discos imaginais não se diferenciem e o processo seja interrompido. Nas formigas, a diferenciação das castas e essa regulação são exercidas pelos estímulos ambientais (fotoperíodo) e também por fatores alimentares durante o desenvolvimento das larvas.

O aparecimento de uma veia nas asas das rainhas de T. clavipes, que não se encontra nas asas das operárias naturais, sugere a influência hormonal derivada da superalimentação da larva. Podemos inferir que, as larvas que se alimentam mais possuem maior quantidade de hormônio juvenil durante a fase de metamorfose, que

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é o período em que os discos imaginais se diferenciam e formam os apêndices do inseto. Assim, a disponibilidade maior de alimento consequentemente poderia aumentar os títulos de hormônio durante o crescimento das veias da asa e, de forma gradual, reflete na formação dessa estrutura.

Funcionalmente, a presença desse ramo de veia poderia conferir algum benefício estrutural para o voo das rainhas que, apesar de possuírem asas com tamanhos semelhantes ao das operárias, são mais pesadas.

Para confirmar os resultados satisfatoriamente, é necessário mais testes com o aumento da amostragem e repetições desse experimento, além da análise de asas das rainhas naturais.

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