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A Morte S´ubita dos Citros ´e uma doen¸ca de combina¸c˜ao copa/porta-enxerto, que pode levar `a morte plantas sobre porta-enxertos intolerantes. Pesquisas mostram que os vasos do floema do porta-enxerto, que levam os produtos gerados na fotoss´ıntese para as ra´ızes, ficam bloqueados e degenerados. Sem alimento, as ra´ızes apodrecem, a ´arvore definha e morre (Bassanezi et al. [2004]).

At´e o momento, o diagn´ostico de MSC ´e realizado com base nos sinais apresentados pelas plantas doentes, uma vez que ainda n˜ao existe um teste de diagn´ostico que permita saber se a planta est´a com MSC antes que ela manifeste os sinais t´ıpicos dessa doen¸ca.

O per´ıodo de incuba¸c˜ao, isto ´e, o tempo entre a infec¸c˜ao e o aparecimento dos primeiros sinais da doen¸ca, ´e pr´oximo a dois anos. Esta conclus˜ao se deve ao fato dos sinais s´o terem sido observados em plantas com pelo menos vinte e dois meses de idade, em pomares localizados em propriedades bastante doentes.

O primeiro sinal da MSC ´e a perda generalizada do brilho das folhas, que ficam sem vi¸co, de aspecto p´alido. Pode ocorrer perda de turgidez das folhas, de intensidade vari´avel. Conforme os sinais v˜ao evoluindo, ocorre desfolha parcial da planta e, em est´agio mais avan¸cado, a desfolha quase total e morte da planta. Podem ocorrer falta de brota¸c˜oes novas e vigorosas, seca de ponteiros, colapso das plantas e reten¸c˜ao de frutos, principalmente em variedades

tardias (Bassanezi et al. [2003d]).(Figuras 1.3 a 1.5)

Figura 1.3: Colora¸c˜ao de verde p´alida a amarela das folhas ´e o primeiro sinal vis´ıvel ao produtor. Fonte: Bassanezi et al. [2003d].

Figura 1.5: Planta com sinais da MSC ao lado de uma planta saud´avel. Fonte: Bassanezi et al. [2003d].

A Morte S´ubita dos Citros provoca diminui¸c˜ao no tamanho, peso e quantidade de frutos. Esses frutos podem ser consumidos sem nenhum problema, pois n˜ao oferecem risco `a sa´ude. Quando a planta morre, os frutos produzidos ficam presos `a planta e n˜ao caem. Neste caso, j´a houve tempo para o florescimento, pegamento e matura¸c˜ao dos frutos antes do colapso s´ubito da planta (Figura 1.6). Este colapso parece estar associado ao n˜ao suprimento, pelo sistema radicular, da demanda de ´agua exigida pela planta durante o fluxo de brota¸c˜ao e enchimento dos frutos (Gimenes-Fernandes e Bassanezi [2001]).

O sistema radicular apresenta grande quantidade de ra´ızes mortas e podres, quase n˜ao a- presenta radicelas, que, quando presentes, est˜ao localizadas pr´oximas `a base do tronco (Figura 1.7). A podrid˜ao das ra´ızes sempre se inicia da extremidade para a base, pr´oxima ao tronco. Plantas com a copa sem sinais da doen¸ca podem j´a apresentar alguma podrid˜ao inicial nas extremidades das ra´ızes, indicando que os sinais da copa s˜ao decorrˆencia da baixa eficiˆencia do sistema radicular em absorver ´agua e nutrientes (Gimenes-Fernandes e Bassanezi [2001]).

Figura 1.7: Morte de radicelas e ra´ızes. Fonte: Bassanezi et al. [2003d].

A cor amarela, tendendo para o alaranjado, que aparece na parte interna da casca do porta-enxerto, abaixo da zona de enxertia da regi˜ao interna da casca do porta-enxerto ´e o sinal que permite o diagn´ostico da MSC. Pode ser vis´ıvel na superf´ıcie interna da casca ou ap´os raspagem da mesma (Figura 1.8).

Figura 1.8: Detalhe da colora¸c˜ao amarela da parte interna da casca da ´arvore na parte do porta- enxerto. Fonte: Bassanezi et al. [2003d].

Do aparecimento dos primeiros sinais da doen¸ca at´e a morte da planta, o tempo ´e bastante vari´avel e depende da idade da planta, da ´epoca do ano e da condi¸c˜ao de carga de frutos. Esse tempo pode ser de poucas semanas, em plantas com bastante copa e grande carga de frutos, no in´ıcio do per´ıodo chuvoso, at´e v´arios meses, em plantas pouco enfolhadas e pouco carregadas. Normalmente, a velocidade de aparecimento de novas plantas com sinais da MSC ´e maior a partir do in´ıcio da esta¸c˜ao chuvosa e ´e reduzida no outono. Por exemplo, as variedades tardias (Valˆencia e Natal) s˜ao afetadas mais severamente e podem morrer em dois meses. Nas variedades precoce e meia-esta¸c˜ao (Pˆera e Hamlin) a morte da planta pode demorar mais de seis meses. Essa rapidez com que as plantas morrem aponta para o car´ater emergencial de se concentrar esfor¸cos contra essa doen¸ca.

Plantas de limoeiro Cravo originadas de sementes ou brota¸c˜ao do porta-enxerto, presentes em talh˜oes totalmente tomados pela doen¸ca, mostram-se inicialmente vigorosas e sadias, sem nenhum sinal aparente de MSC. Isto indicaria que a nova doen¸ca afetaria apenas a combina¸c˜ao copa de laranjeira doce ou tangerineira sobre limoeiro Cravo e n˜ao afetaria o limoeiro Cravo ou a laranjeira doce em p´e-franco ou em outra combina¸c˜ao copa/porta-enxerto (Gimenes- Fernandes et al. [2002]). Contudo, em mar¸co de 2003, plantas originadas da brota¸c˜ao do

porta-enxerto, ap´os dois anos da remo¸c˜ao da copa, come¸caram a apresentar folhas com sinais de deficiˆencia nutricional, colora¸c˜ao de verde p´alida a amarela e ra´ızes podres e mortas. A regi˜ao interna da casca, pr´oxima `a regi˜ao de inser¸c˜ao do ramo brotado com o tronco original, apresentou a colora¸c˜ao amarela t´ıpica de MSC na parte interna da casca, sugerindo que o porta-enxerto ainda continua sendo afetado pela doen¸ca mesmo na ausˆencia de uma copa. Da mesma forma, em abril de 2003, em p´e-francos resultantes de brota¸c˜oes do porta-enxerto ap´os a morte da copa por causa desconhecida, diferente da MSC, localizados em propriedades citr´ıcolas ou quintais nos munic´ıpios com incidˆencia de MSC, foram observados sinais de amarelecimento da parte interna da casca do tronco, ramos e ra´ızes, semelhantes aos de MSC. Isto pode significar que o agente causal da MSC tem capacidade de multiplicar-se e provocar sinais tamb´em na copa do limoeiro Cravo.

Figura 1.9: Talh˜ao de laranjeira Valˆencia sobre limoeiro Cravo com MSC (esquerda) ao lado de talh˜ao de Valˆencia sobre tangerineira Cle´opatra sadio (direita). Fonte: Bassanezi et al. [2003d].

Apesar da Morte S´ubita dos Citros atingir as plantas enxertadas sobre o limoeiro Cravo, ´e necess´ario que se testem todos os clones deste porta-enxerto em rela¸c˜ao `a doen¸ca antes de se condenar o seu uso, cujas caracter´ısticas de rusticidade, resistˆencia `a seca e produtividade tˆem

sido a base da citricultura brasileira. A sele¸c˜ao de variantes do limoeiro Cravo com resistˆencia ou tolerˆancia `a MSC n˜ao deve ser desconsiderada.

Figura 1.10: Talh˜ao de laranjeira Valˆencia sobre limoeiro Cravo destru´ıdo pela MSC, no qual duas linhas de Valˆencia sobre tangerineira Cle´opatra se mostram totalmente sadias. Fonte: Bassanezi et al. [2003d].

Sinais semelhantes aos de MSC observados em plantas enxertadas sobre limoeiro Cravo tamb´em foram observados, em junho de 2003, em talh˜oes de laranjeiras Valˆencia e Natal en- xertadas sobre limoeiro Volkameriano de 3 e de 5 anos. Estas plantas apresentaram definha- mento, perda de brilho das folhas e clorose das nervuras. A casca na regi˜ao do porta-enxerto mostrou-se mais espessa e os tecidos internos da casca apresentaram amarelecimento. No sistema radicular foi observada a presen¸ca de poucas radicelas e certa podrid˜ao das ra´ızes. O estudo anatˆomico das cascas destas plantas e a distribui¸c˜ao espacial das mesmas indicam semelhan¸cas ao observado para as plantas enxertadas em limoeiro Cravo com sinais de MSC. Nestes talh˜oes ainda n˜ao foi observada a morte de plantas. Adicionalmente, os cavalinhos de limoeiro Volkameriano utilizados para subenxertia de plantas com sinais de Morte S´ubita dos Citros mostram baixo desenvolvimento e a casca pr´oxima `a regi˜ao da subenxertia apre- senta a colora¸c˜ao amarela. Estas observa¸c˜oes sugerem que plantas enxertadas em limoeiro

Volkameriano tamb´em podem ser suscet´ıveis `a MSC.

Entretanto, talh˜oes mais velhos em Volkameriano, com 12 a 13 anos, em propriedades localizadas em Frutal, Comendador Gomes e Colˆombia, apesar de pr´oximos a talh˜oes enxer- tados sobre limoeiro Cravo contaminados, n˜ao apresentam sinais t´ıpicos da doen¸ca. Nestes, ocorre raramente o definhamento de plantas e a cor amarelada nos tecidos internos da casca, quando observada, ´e muito menos intensa quando comparada `as plantas sobre limoeiro Cravo doentes.

Estudos para verificar a diversidade gen´etica do porta-enxerto de limoeiro Volkameria- no nestes talh˜oes com e sem sinais semelhantes aos da MSC est˜ao sendo realizados, pois talvez a presen¸ca de diferentes clones de Volkameriano possa explicar estas diferen¸cas de comportamento. Al´em disso, investiga¸c˜oes no sentido de descartar outras causas para este definhamento das plantas em limoeiro Volkameriano est˜ao sendo conduzidas, juntamente com os testes de transmiss˜ao do agente causal da MSC para mudas enxertadas neste porta-enxertos. Portanto, a Morte S´ubita dos Citros j´a foi constatada nas variedades de laranjas Valˆencia, Valˆencia Americana, Pˆera, Hamlin, Natal, Westin, Baia, Baianinha e Pineapple, de tangeri- nas Cravo e Ponkan e de tangelo Orlando enxertadas em limoeiro Cravo e laranja Natal e Valˆencia, enxertadas em limoeiro Volkameriano. Em laranjeiras enxertadas sobre as tangeri- nas Cle´opatra e Sunki ou citrumelo Swingle, a doen¸ca n˜ao se manifestou. Tamb´em n˜ao foi constatada em p´es francos de lim˜ao Cravo.

Os estudos sobre a evolu¸c˜ao da MSC no tempo e no espa¸co tˆem contribu´ıdo para o melhor conhecimento desta doen¸ca. Por meio destes estudos, foi poss´ıvel verificar quando novas plantas com sinais v˜ao surgindo nos talh˜oes afetados e como elas se relacionam, umas em rela¸c˜ao `as outras, no espa¸co. Com base nos resultados destes estudos, foi poss´ıvel inferir sobre a poss´ıvel etiologia da doen¸ca e a participa¸c˜ao de vetores na sua dissemina¸c˜ao.