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2. EMBASAMENTO TEÓRICO CONCEITUAL

2.3 Motivação

A preocupação com o desenvolvimento do ensino superior e os fatores relacionados a ele como evasão, persistências, estresse, motivação, autoeficácia etc tem proporcionado pesquisas nos meios acadêmicos, por exemplo, em Coulon (2008) e Durso (2015) que tratam, respectivamente, de filiação à vida acadêmica e da evasão no ensino superior. Nesse sentido, dentro do panorama de pesquisa na educação universitária encontram-se trabalhos cujo foco é alguma variável cognitiva, não raras vezes relacionada a motivação (Bandura & Cervone, 1983; Guay, Vallerand, & Blanchard, 2000; Zimmerman et al., 1992).

Segundo Weiner (1990), a pesquisa motivacional é um campo promissor de aprendizado. Segundo o autor, em sessenta anos houve grandes transformações nesse campo de pesquisa com novos conceitos sendo introduzidos e elaborados. Isso ocorreu principalmente em decorrência da pesquisa motivacional ter sido traçada levando-se em consideração diversos tópicos, conceitos e relações da motivação com outros constructos, como o da aprendizagem, autoconceitos e autoeficácia (B. Weiner, 1990). Segundo Barrera (2010), o papel da motivação na educação não se restringe apenas a ocorrência do aprendizado, ela é fundamental para que se executem as habilidades educacionais aprendidas. No entanto, mesmo a motivação sendo tema recorrente em pesquisas (Barrera, 2010), verificou-se que não há consenso quanto ao significado do termo motivação e isso se deve ao fato desse termo ter sido empregado com diferentes significados ao longo dos anos de pesquisa (Witter, 1984).

Com relação aos significados, tem-se que: motivar é dar motivos, causar, é o estimulo de interesse ou curiosidade (Editora Melhoramentos, 2018), Araujo (2015) esclarece que a origem etimológica da palavra motivar é uma junção dos termos da língua latina movere e motum que deram origem a termo motivo, do qual deriva a palavra motivação. Além da diversidade de significações para o termo, existem diversas abordagens psicológicas para a motivação (Witter, 1984).

Por exemplo, a abordagem psicanalítica interpreta a motivação como sendo direcionada pelo inconsciente com o objetivo de satisfazer aspirações do desejo e da sexualidade, já na Teoria de Maslow a motivação é categorizada segundo uma hierarquia de importâncias, onde os fatores de motivação do ser humano são divididos em cinco níveis, dispostos em forma de pirâmide, onde os níveis mais baixos referem-se as necessidades básicas (fisiológicas, de segurança) e os

níveis mais altos as necessidades de autorrealização e estima (Barrera, 2010; Bueno, 2002; Maslow, 1943). Por fim, Eccles e Wigfield (2002) pontuam que as principais teorias motivacionais tem ênfase na psicologia desenvolvimental e educacional, e são categoricamente focadas nas expectativas, razões, e cognições.

Dentre as teorias motivacionais disponíveis, esse estudo utilizará a Teoria da Autodeterminação (Self Determination Theory) que pressupõe que as necessidades básicas, citadas na Teoria de Maslow, já foram atendidas. A Teoria da Autodeterminação foi elaborada por Deci e Rayan nos anos de 1970 (Araujo, 2015), influenciados pelas proposições de White (1975). Essa teoria foi contemporaneamente tratada pelos próprios autores (Ryan & Deci, 2000) que confirmaram a proposição de um continum de autodeterminação e esclareceram que na Teoria da Autodeterminação distingue-se os diferentes tipos de motivação baseando-se nas diferentes razões ou objetivos que dão origem a uma ação, sendo que a distinção mais básica é entre motivação intrínseca e motivação extrínseca. O modelo é diagramado na Figura 5.

Figura 5: Modelo Hierárquico de Motivação

Fatores Contextuais N ÍV EL C O N TEX TU A L Autonomia Competência Relacionamento MOTIVAÇÃO CONTEXTUAL Educação IM, EM, AM Relações Interpessoais IM, EM, AM Lazer IM, EM, AM Afetiva Cognitiva Comportamental

Fatores Sociais Mediadores Níveis Hierárquicos de Motivação Consequências

N ÍV EL G LO BA L Fatores Globais Autonomia Competência Relacionamento MOTIVAÇÃO GLOBAL IM, EM, AM Afetiva Cognitiva Comportamental N ÍV EL S ITU A C IO N A L Fatores Situacionais Autonomia Competência Relacionamento MOTIVAÇÃO SITUACIONAL IM, EM, AM Afetiva Cognitiva Comportamental Fonte: (Vallerand, 1997)

A pressuposição da teoria da autodeterminação como um continum de vários domínios (motivação intrínseca, motivação extrínseca e desmotivação) foi testada e confirmada (Fairchild, Horst, Finney, & Barron, 2005). Dessa forma, por possuir essas três dimensões de análise, e ainda pressupor-se como uma macroteoria da motivação, reconhecida e referenciada internacionalmente no campo educacional (Araujo, 2015), a teoria da autodeterminação foi a

escolhida para ser utilizada como base para as análises motivacionais desse estudo. Sumarizando os conceitos presentes na teoria:

A teoria da autodeterminação propõe que os seres humanos têm um desejo inato de estimulação e aprendizado desde o nascimento, que é apoiado ou desencorajado em seu ambiente (Deci & Ryan, 1985, 2000). O grau em que esse impulso natural, ou motivação intrínseca, é realizado depende da satisfação de suas necessidades psicológicas. Isto é, o cumprimento dessas necessidades é um precursor necessário para a motivação intrínseca. A teoria da autodeterminação delineia três necessidades psicológicas que impactam a motivação intrínseca: a necessidade de competência, a necessidade de autonomia e a necessidade de relacionamento (Deci & Ryan, 1985). Ao longo do desenvolvimento, os contextos sociais podem sufocar ou promover a motivação intrínseca com base no cumprimento dessas necessidades.

(…)

Os teóricos têm sido capazes de diferenciar vários tipos específicos de motivação com base na interação dessas necessidades e do ambiente: (1) motivação intrínseca - a motivação para buscar uma atividade simplesmente pelo prazer ou satisfação que é derivada dela; (2) motivação extrínseca - exercer uma atividade com base no senso de obrigação, ou como um meio para um fim, e (3) desmotivação - a ausência de intenção ou motivação para exercer uma atividade devido a não valorizar a atividade, sentir-se incompetente ou incapaz obter um resultado desejado (Ryan & Deci, 2000a; Vallerand et al., 1992) (Fairchild et al., 2005, p. 332)4.

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Delimitado o escopo teórico, para medir os constructos da Teoria da Autodeterminação será utilizada a escala desenvolvida por Vallerand et al. (1992) que é um teste psicométrico que verifica os tipos de motivação com base na Teoria da Autodeterminação. A escala compreende dimensões e subdimensões separadas da seguinte maneira: motivação extrínseca (subescalas: introjeção, controle externo, identificação), motivação intrínseca (subescalas: para realização, para saber, e para vivenciar estímulos) e a dimensão da desmotivação (Viana, 2012).

2.4 Evidências empíricas da Ansiedade, Autoeficácia e Motivação no contexto