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É, pois, nessa convocação em escala global para que todos os atores – governos, empresas, organizações da sociedade civil, pessoas – unam-se no esforço de dar solução às questões sociais e ambientais, que reside fundamentalmente a motivação para a investigação. A gestão ambiental demanda ações das empresas no sentido de que desenvolvam estratégias amigáveis, não hostis ao ambiente, capazes de contribuir para a redução dos impactos ambientais. E as empresas já dão mostra da sua vontade de engajar-se nesse esforço. Olson (2010, p. 4) argumenta que “hoje algumas das maiores empresas mundiais estão desenvolvendo novos princípios norteadores e modelos de gestão que encorajam comportamento proativo e fortalecem a gestão ambiental. O

status quo reativo, em que corporações e ambientalistas se confrontariam num mundo

de prioridades antagónicas, está se tornando coisa do passado”. Assim, as resistências às inovações nos modelos de negócio, por parte dos empregados, já se reduzem, sobretudo no âmbito das empresas que demonstram preocupação com as questões sociais e com a sustentabilidade ambiental.

Segundo Saul (2011, pp. 36-37), a Inovação Social envolve quatro elementos-chave: (1) estratégia de negócio intencional; (2) alavancagem do negócio essencial; (3) criação de novo valor (económico e social); e (4) mudança social positiva. Com suporte nestes elementos, a Inovação Social altera a forma de a empresa ver a mudança social, transformando a simples filantropia numa oportunidade de negócio. Saul (2011, p. 37) considera que a “Inovação Social descobre meios de criar oportunidades de negócio lucrativas a partir de questões sociais incontroláveis: educação, cuidados com a saúde, desenvolvimento global, fome, até mesmo a lavagem de mãos, para citar algumas”. Defende que o impacto social, via inovações sociais conduzidas pelas empresas, é potencialmente maior do que o produzido por qualquer esforço filantrópico que jamais venha a ser empreendido. Com a intenção de reforçar a necessidade da conceção de estratégias de negócios, respaldadas na Inovação Social no âmbito das empresas, Saul (2011, p. 3) cita Jeffrey Immelt, CEO da General Electric: “A crise económica atual não

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representa apenas um outro ciclo económico; representa uma recomposição fundamental … uma recomposição emocional, social, económica”.

Pelas considerações feitas anteriormente, percebe-se muito bem a crescente importância da Inovação Social para o mundo, notadamente pelo crescente interesse que lhe passa a dedicar as grandes corporações económicas, assim como a pesquisa académica. O BEPA (2011), órgão vinculado à Comissão Europeia, considera que os avanços tecnológicos, a globalização e o envelhecimento da população estão contribuindo para mudar as sociedades europeias, mudança esta acelerada por uma expectativa de vida mais larga, condições de vida mais saudáveis e novos padrões de trabalho. Em contrapartida, observa-se o crescimento das necessidades sociais a partir da combinação da globalização com outros fatores, como a rápida mudança tecnológica que tem respondido por fortes impactos sociais, com profundas implicações nos perfis do desemprego. Aumentando a demanda por habilidades, o avanço tecnológico faz com que se amplie o fosso entre os detentores de habilidades e aqueles que não as têm, tornando questão social prioritária, no longo prazo, a formação das pessoas com as habilidades necessárias demandadas pela economia moderna. As soluções tradicionais, no atendimento a estas e outras questões sociais e ambientais, já não funcionam adequadamente, devido a falhas observadas no mercado, no setor público e na própria sociedade civil.

Ainda de acordo com o BEPA, falham frequentemente as operações do mercado em dar solução às necessidades sociais porque, apenas para exemplificar com a questão da geração de gás estufa - associada ao aquecimento global -, constitui-se numa atividade poluente cujos custos sociais vão além dos custos privados. Esta e outras questões sociais e ambientais, vinculadas ao funcionamento do mercado, tornaram-se claramente visíveis ao longo da atual crise económica. Resultante da explosão da bolha económica, provocada pela complexidade dos instrumentos financeiros implementados no período de expansão económica, a crise deu lugar a imediatos efeitos em cadeia, com a produção de problemas sociais agravando, por exemplo, o desemprego e a exclusão social; ampliando as hostilidades dirigidas aos migrantes, vistos, na Europa, como apropriadores de postos de trabalho dos seus cidadãos; e gerando problemas para a formação de poupança, para o sistema de aposentadoria e para a população idosa em expansão. Tudo isso tem apontado para a necessidade de os formuladores de política darem apoio a inovações de elevado valor social, capazes de superar os efeitos da crise e

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de atender a questões sociais e ambientais de longo prazo. Mas tem servido a crise também para promover um maior interesse da pesquisa académica na Inovação Social e suas vertentes temáticas, uma das razões centrais presentes na motivação para o desenvolvimento desta investigação.

Em suma, motivou este trabalho de tese, focado na Inovação Social Corporativa, além dos aspetos já ressalvados, o facto de que sua prática vem recebendo renovada atenção por parte de destacados líderes de negócios em todo o mundo, assim como de investidores, empregados e de outros stakeholders, numa evidente demonstração de visão mais alargada sobre a importância dos negócios como impulsor da mudança social. Basta verificar o crescente número de eventos acadêmicos que se multiplicam pelo mundo, com uma presença substancial e cada vez maior de profissionais corporativos, decididamente interessados no tema. Por outro lado, verifica-se o cuidado maior de investidores e stakeholders na busca de maior transparência e responsabilização (accountability) das corporações, a fim de que demonstrem para os consumidores e para a sociedade em geral maiores níveis de sustentabilidade dos seus produtos, evidenciando quais danos ambientais podem provocar.

A KPMG (empresa global de consultoria, com sede em Amsterdã, Holanda do Norte), SiG (Social Innovation Generation, organização canadense dedicada à promoção da Inovação Social) e Volans (empresa de consultoria, sediada em Londres, voltada para o estabelecimento de pontes entre os negócios e as empresas sociais, via engajamento de inovadores), com o apoio da MaRS (organização sem fins lucrativos de ajuda a empreendedores no lançamento de empresas inovadoras, baseada em Toronto, Canadá), produziram em 2014, conjuntamente, o relatório Breaking through: How corporate

social innovation creates business opportunity (Rutura completa: Como a Inovação

Social Corporativa cria oportunidade de negócio), nele referindo-se à grande transição que se observa atualmente, pondo em destaque como as economias, num mundo mutante, estão operando, os mercados funcionado e as sociedades prosperando. Põe em evidência a exposição das corporações, ao longo dos próximos vinte anos, a centenas de mudanças ambientais e sociais que embutem, porém, não apenas riscos mas igualmente oportunidades de negócio na busca do crescimento sustentável. O objetivo fundamental do relatório foi a de ajudar os líderes dos negócios a compreenderem a Inovação Social Corporativa como uma poderosa oportunidade para, ao mesmo tempo, promover o impacto social e o crescimento. E isso já está acontecendo, com um expressivo número

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de empresas tornando-se mais estratégicas, na medida em que põem sua experiência a serviço das comunidades a que servem, pelo alinhamento de seus negócios centrais (core business) com o esforço centrado na disponibilização de soluções para os problemas sociais e ambientais. Os quatro modelos de negócio analisados nesta tese refletem bem a tendência acima referida.

Goldenberg et al. (2009, p. 30), em trabalho sobre a Inovação Social no Canadá, considera, em suas conclusões finais, existir uma aceitação crescente da importância da Inovação Social, tanto pela sociedade quanto pelos governos, assim como o reconhecimento da necessidade de uma ação mais transformadora por parte dos setores não lucrativos, lucrativos e governamentais, com vistas a atender às questões e desafios sociais complexos. Ainda recorrendo a Goldenberg et al. (2009, p. 31), evidencie-se que o autor aponta para a necessidade de realização de mais trabalhos a fim de que se desenvolva uma definição da Inovação Social mais clara e compartilhada, aumentando- se o conhecimento e a compreensão de seus elementos e componentes chave e das condições capazes de ajudar a encorajar a sua prática.

Hubert (2011, p. 34), assumindo a defesa de investimentos na Inovação Social, evidencia a incorporação do conceito pela União Europeia em sua política social – e também a resistência ao conceito -, citando as palavras do então Presidente da comissão Europeia, Manuel Barroso: “ainda não é completamente aceito no debate político”. Contudo considera Hubert ser a Inovação Social uma abordagem efetiva no atendimento de questões sociais desafiantes em grande escala, ainda que seja um “trabalho em curso”. Afirma que há evidência empírica bastante demonstrando o potencial das inovações sociais, primeiro, para dar respostas às necessidades de grupos vulneráveis da sociedade; segundo, melhorar a qualidade de vida tratando de desafios sociais; e, terceiro, introduzir mudanças sistémicas na reformulação da sociedade na busca de um cenário mais envolvente, em que empoderamento e aprendizagem sejam fontes e resultados de bem-estar e crescimento. Afirma ser também suficiente a evidência que mostra, na medida em que inovadores sociais de todos os níveis estão deslocando as fronteiras da sabedoria convencional - muitas vezes obsoleta -, iniciativas criativas aplicadas na superação de múltiplas barreiras - legais, práticas, financeiras e mentais –, capazes de serem abordadas nos diferentes níveis de governo.

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O esforço e motivação, aplicados na realização deste trabalho de tese, estão, portanto, plenamente em sintonia com o pensamento de Goldenberg et al. (2009), Hubert (2011) e de outros pesquisadores e, igualmente, com outras iniciativas similares referidas ao longo da tese, de que emerge o imperativo de desenvolvimento de novos trabalhos focados na Inovação Social Corporativa, considerando-se a sua importância cada vez maior na contribuição para dar respostas aos tantos e crescentes desafios sociais e ambientais vividos pela Humanidade nos dias atuais.

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