• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 4 Estudo empírico

4.1. Motivação, objetivos, questões metodológicas e hipóteses

Esta investigação vem na sequência da discussão de argumentos teóricos empreendida na primeira parte desta dissertação, dando-se continuidade dessa forma a alguma investigação exploratória anteriormente encetada (Fachada & Lopes, 2016; Fachada, 2017).

O interesse pela investigação deste assunto surgiu precisamente devido ao facto de ser uma área relativamente pouco explorada no português europeu, se excetuarmos estudos como Mata e Moniz (2016), Delgado-Martins e Freitas (1991). Pensamos, dessa forma, dar um contributo para a melhor compreensão de um assunto que nos parece pertinente mas que, não obstante, não nos parece ainda suficientemente aprofundado por estudos anteriores. A sua pertinência parece-nos justificada, em grande medida, pelo relacionamento que permite estabelecer entre a quantidade de material linguístico com a formalidade/informalidade das situações discursivas, possibilitando assim a identificação de marcas formais mais objetivas para a avaliação do grau de formalidade das produções linguísticas.

Este assunto suscitou, também, uma grande curiosidade e interesse da nossa parte, uma vez que lhe pode ser associada mais do que uma abordagem linguística, ou seja, pode ser investigado de várias perspetivas, tais como a prosódia, a fonologia, a fonética e a morfologia. É, assim, suscetível de ser inserido em várias áreas, não sendo restrito apenas a uma. A presente dissertação insere-se no possível cruzamento entre a fonologia, a fonética experimental e a sociolinguística.

O objetivo primordial do nosso estudo consiste em averiguar de que maneira a formalidade da situação discursiva condiciona ou não o discurso dos falantes, no que concerne a diferentes variáveis: taxa de elocução ou speech rate, medida relativamente à quantidade de material linguístico presente – concretamente: número de palavras, número de sílabas fonológicas e número de segmentos teóricos; rácio de sílabas por palavra; e apagamento de segmentos no nível fonético.

Assim, pretendemos, primeiramente, verificar a diferença da taxa de elocução medida através da quantidade de material linguístico – traduzido pelo número de palavras, de sílabas fonológicas e do número de segmentos teóricos – entre situações discursivas com diferentes graus de formalidade. Posteriormente, trataremos do cálculo do rácio de sílabas por palavra – que se carateriza pela quantidade média de sílabas por palavra em cada uma das situações discursivas. Por último, quisemos ainda elaborar uma pequena análise relativamente à frequência do fenómeno do apagamento fonético presente em cada uma das situações discursivas, que diferem entre si pelo seu posicionamento no eixo da formalidade/informalidade.

Na presente dissertação, pretendemos responder às seguintes questões de investigação:

a) Existirá relação entre o grau de formalidade da situação discursiva e o speech rate, expressa na quantidade de material linguístico?

b) Existirá relação entre o grau de formalidade da situação discursiva e o rácio de sílabas por palavra?

c) Existirá relação entre o grau de formalidade da situação discursiva e a frequência de apagamento fonético?

Figura 3 – Esquema referente às variáveis do estudo

A Figura 3 apresenta um esquema sintetizado das variáveis em estudo na presente dissertação.

A relação entre a formalidade e o speech rate não está perfeitamente delineada. Delgado-Martins e Freitas (1991) revelaram, através do seu estudo empírico, que a fala

Grau de formalidade

Rácio de sílabas por palavra

espontânea (que se carateriza por um grau de espontaneidade elevado, natureza interativa e ausência de guião) comportava mais palavras/segundo do que o discurso em aula (que se carateriza por um grau de planeamento elevado, natureza expositiva e possível existência de guião), que comportava o valor mais baixo de palavras/segundo. Para o desenvolvimento do nosso estudo empírico, partimos, então, da seguinte relação: existirá menor speech rate (menor quantidade de material linguístico) quanto maior o grau de formalidade da situação discursiva. Partimos desta relação na medida em que as realizações mais formais apresentam, tipicamente, um discurso mais vigiado, e que por isso o percecionamos, à partida, mais pausado e lento (menor quantidade de material linguístico); por outro lado, realizações mais informais apresentam tendencialmente um discurso menos vigiado, que se pressupõe mais rápido (maior quantidade de material linguístico).

Tal como afirmam Mata e Moniz (2016), situações discursivas que possuem um grau mais elevado de planeamento e natureza mais expositiva comportam constituintes maiores do que produções com alto grau de espontaneidade e natureza mais interativa. Assim, assumiremos que as palavras utilizadas nas produções mais formais serão mais longas do que as palavras utilizadas nas produções mais informais. Deste modo, o rácio de sílabas por palavra será superior nas produções mais formais e inferior nas produções mais informais.

Em relação ao apagamento fonético, Mateus (1996) e Mateus e Andrade (2000) referem que na fala coloquial se verifica uma frequência de apagamento de vogais elevada. Assim, tendencialmente, o apagamento fonético será mais elevado na fala coloquial, ou seja, nas situações discursivas mais informais; enquanto que nas situações discursivas mais formais o apagamento fonético será inibido dada a vigilância do falante no seu próprio discurso.

Pelo exposto, formulamos as seguintes hipóteses:

H1: Produções formais terão menor speech rate (quantidade de material linguístico) e, pelo contrário, produções informais terão speech rate (quantidade de material linguístico) superior.

H2: Produções formais terão um rácio de sílabas por palavra superior às produções informais.

H3: Produções formais apresentarão menor frequência de apagamento fonético, enquanto que produções informais apresentarão maior frequência de apagamento fonético.

Documentos relacionados