Fundamentação e plano de pesquisa
1. Fundamentação e plano de pesquisa
1.3. Motivação pessoal
A experiência como designer e professora de design, particularmente na matéria de sinalética, permitiu concluir que, na maioria dos projectos, a cor tende a ser menosprezada na sua aplicação à sinalética, e ao restante mobiliá‐ rio urbano que tende a passar despercebido, com a finalidade de ‘não chocar’ ou de se ‘harmonizar’ com o meio ambiente, o que impede que estes elemen‐ tos cumpram completamente a sua função. A participação no Mestrado – A Cor na Arquitectura – veio ampliar o conhe‐ cimento sobre a cor e reforçar a noção da grande importância que ela tem na percepção e modelação de espaços, interiores ou exteriores, pelo que não poderá ser menosprezada, devendo, antes, constituir um elemento de suma importância nos sistemas de sinalização e orientação das cidades.
1.4. Relevância do estudo
“Color – architecture – cities – colorful cities – color on the urban scene – how does it all fit together? Is a colorful urban backdrop enough, will more color really change our living and working environment? This is the most basic question of all. To put it differently: Is it possible to raise a city’s visual accessibility, the quality of experience and orientation, without merely underlining
7 “Quando se olha para qualquer objecto vemo‐lo como um ‘alvo’ visual em relação ao seu meio envolvente imediato. Se
its character as a huge, conglomerate consumer object?” (Mach‐ now & Reuss 1976:21).8
Até meados do século XX, as fronteiras entre arquitectura e design estavam bem delineadas, mas as influências de outras disciplinas, como o design indus‐ trial e o planeamento urbano, fizeram com que essas fronteiras se diluíssem e a sua combinação passou a ser conhecida como ‘design gráfico ambiental’. Com o desenvolvimento das cidades surgiram complicadas redes de tráfico e de sistemas de transporte que provocaram dificuldades de orientação aos seus visitantes e tornaram necessária a criação de ferramentas que ajudassem a guiar as pessoas e que, ao mesmo tempo, reavivassem a sua identificação com a cidade (Berger 2005:10).
As a pedestrian, colours are experienced in a continually changing visual field. Planners have succeeded in achieving visual order in cities by implementing repetitive architectural typologies, zoning to form hierarchy in patterns of blocks and public spaces, and similar building heights (Minah 2005:401).9
O meio mais simples de conseguir a identificação de zonas da cidade e de faci‐ litar a orientação da sua população, habitual ou temporária, é através da cor, uma vez que a cor é a característica de um objecto que o olho percebe primei‐ ro, antes de perceber a forma ou a textura.
Colour is one of the repetitive visual elements that define the formal, spatial, and material phenomena in the city. One experiences colour in a city through its combination with, and definition of, architectural elements in the visual field (Minah 2005:401‐402).10 8 “Cor – arquitectura – cidades – cidades coloridas – cor no cenário urbano – como é que isto tudo se conjuga? Será um colorido pano de fundo urbano suficiente, mais cor mudará realmente o nosso meio ambiente de vida e trabalho? Esta é a questão mais básica de todas. Colocando isto de modo diferente: Será possível elevar a acessibilidade visual de uma cidade, a qualidade da experiência e orientação, sem meramente sublinhar o seu carácter como um vasto, objecto conglomerado de consumo?” (tradução livre) 9 “Os pedestres experimentam as cores num campo visual em contínua mudança. Os projectistas conseguiram alcançar uma ordem visual nas cidades implementando tipologias arquitectónicas repetitivas, criando zonamentos para estabe‐ lecer hierarquias em padrões de quarteirões e espaços públicos, e alturas de edifícios semelhantes”. (tradução livre). 10 “A cor é um dos elementos visuais repetitivos que definem o fenómeno formal, espacial e material na cidade. Cada um experimenta a cor na cidade através da sua combinação com, e definição de, elementos arquitectónicos no campo visual”. (tradução livre).
Os mapas turísticos das cidades assinalam as suas diferentes zonas, ou bair‐ ros, através de cores, mas no espaço físico não existe nenhuma correspon‐ dência cromática que permita identificar essas mesmas zonas. No entanto, uma uniformização cromática da arquitectura seria extremamen‐ te limitativa para a criatividade dos arquitectos, para além de se correr o risco de tornar o bairro monótono e desagradável para os seus habitantes. Por outro lado, o mobiliário urbano necessita de ser visto para ser utilizado e, portanto, deve destacar‐se do meio ambiente, sendo a cor a ferramenta mais fácil e apropriada para conseguir esse destaque. Assim, seria possível identifi‐ car as diferentes zonas da cidade por meio de cores que as diferenciassem e, ao mesmo tempo, chamassem a atenção para os diferentes elementos de mobiliário urbano, tais como: caixotes de lixo, bancos de jardim, cabines tele‐ fónicas, paragens de autocarro, etc..
A orientação dentro de uma cidade, a questão de encontrar um local e, ou, o caminho para um destino, nem sempre é fácil de resolver, independentemen‐ te do modo de locomoção do individuo. A utilização da cor como meio de indicar um caminho já tem sido utilizada com sucesso, embora pontualmente, em espaços interiores e exteriores. A sua aplicação criteriosa e generalizada parece ser um meio de resolver com sucesso a problemática da orientação.
Cities have been considered in many different ways, in terms of town planning, architectural form, as commercial and social structures, as human organisms and circulation systems. Rarely have they been considered as colour compositions. But if we compare one with another – or different parts of one – this aspect becomes obvious (Taverne and Wagenaar 1992:12).11 11 “As cidades têm sido consideradas de muitos modos diferentes, em termos de planeamento urbano, forma arquitectó‐ nica, estruturas sociais e comerciais, como organismos humanos e sistemas de circulação. raramente foram considera‐ das como composições de cor. Mas se compararmos uma com outra – ou diferentes partes de uma – este aspecto torna‐se óbvio”. (tradução livre).