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A motivação apresenta em sua essência regulações complexas, que podem ser biológicas, cognitivas e sociais (RYAN e DECI, 2000). A motivação consiste de energia e direção (WEINBERG, 2009), aspectos ligados à ativação e persistência no comportamento (GARCÍA, 2003). Embora seja algumas vezes tratada como um construto singular, uma superficial reflexão sugere que as pessoas são motivadas a se comportarem por diferentes fatores.

As diferentes concepções teóricas fazem com que seja difícil conceituar motivação de maneira pontual, pois existem diversas formas de abordar o tema (WEINBERG e GOULD, 2001). Pode-se dizer que existem basicamente três visões gerais sobre a motivação: a centrada no traço, a centrada no estado e a interacional (BARROSO, 2007). A visão centrada no traço sustenta que o comportamento é motivado em função das características de personalidade do

indivíduo, bem como de suas necessidades e objetivos próprios. A visão centrada no estado acredita que a motivação para o comportamento depende do momento e contexto, independente das características individuais. A visão interacional, que conta com maior aceitação na atualidade, estabelece que a motivação não se origina exclusivamente no traço ou na situação, mas da associação desses dois fatores (BARROSO, 2007).

Não nos prenderemos nesse momento em aprofundar as diferentes teorias e pontos de vista sobre a motivação, tendo em vista a disponibilidade de livros que as apresentam mais detalhadamente (recomenda-se a leitura de WEINBERG, 2009; SAMULSKI, 2008; WEINBERG e GOULD, 2001 para maiores esclarecimentos). Posteriormente será dado maior destaque à teoria que embasa o presente estudo, a TAD (DECI e RYAN, 1985).

Na área da Psicologia do Esporte e do Exercício, o tema motivação é um dos mais estudados, e segundo García (2002) é provavelmente o mais importante. Gomes et al. (2007) investigaram a produção brasileira, espanhola e de língua inglesa no campo da Psicologia do Esporte e do Exercício e observaram que o tema motivação é o mais estudado nos três contextos investigados, superando temas clássicos como ansiedade, humor e estresse.

Para Dishman, considerando a Psicologia do Esporte e do Exercício, entender porque as pessoas se exercitam é foco central dos estudos da motivação, tanto no campo da atividade física e saúde quanto nos esportes (citado por WILSON et al., 2003). Além da adesão, a motivação é considerada uma variável fundamental para a aprendizagem e desempenho em contextos de exercício físico e esportivos (WEINBERG e GOULD, 2001). A motivação também é um dos tópicos mais pesquisados pela Psicologia do Esporte e do Exercício infanto-juvenil, procurando identificar os fatores que levam crianças e adolescentes a iniciar, continuar e desistir do envolvimento em exercícios físicos e práticas esportivas (KNIJNIK, GREGUOL e SANTOS, 2001).

O esporte é uma das atividades humanas para a qual as pessoas mais se dedicam de maneira espontânea e descompromissada (VALLERAND, DECI e RYAN, 1987). Os participantes em muitos casos não realizam a prática pensando em alguma contrapartida, mas apenas pelo prazer da participação. Por outro lado, fatores externos como influência de outras pessoas, saúde, etc, também podem

influenciar sobre a participação nessas atividades, especialmente nos dias atuais com a forte vinculação presente na mídia entre exercício físico, saúde e beleza.

Esses dois vieses da motivação fazem com que esta seja tradicionalmente tratada de modo dicotômico; motivação intrínseca e extrínseca. Motivação intrínseca e extrínseca são dois construtos bastante conhecidos e importantes para qualquer relação com o comportamento motivado (FERNANDES e VASCONCELOS-RAPOSO, 2005). A motivação intrínseca é representada pelos fatores internos que motivam a pessoa para a prática, e a motivação extrínseca é a motivação influenciada por fatores externos (punição, recompensa, etc) (BRICKELL e CHATZISARANTIS, 2007). Vale destacar que uma mesma atividade pode ser motivada intrinsecamente para um indivíduo, enquanto para o outro a mesma é motivada extrinsecamente. Por exemplo, enquanto algumas pessoas praticam esportes por prazer, outras o fazem para ganhar medalhas e reconhecimento.

Em estudo de revisão elaborado por Knijnik, Greguol e Santos (2001), verificou-se que os motivos alegados por crianças e adolescentes para iniciar e persistir na prática esportiva são a diversão, bem-estar físico, competição e a construção de novas amizades, enquanto os principais fatores alegados para o abandono são a falta de competição, ênfase exagerada na vitória e excesso de pressões por parte dos pais e dos técnicos. Percebe-se com esses resultados, que a adesão está ligada geralmente a motivações mais intrínsecas, enquanto o abandono está relacionado a motivações extrínsecas, sugerindo que a motivação intrínseca é mais relacionada à aderência aos comportamentos.

Teoricamente, os comportamentos motivados intrinsecamente tendem a ser mais produtivos, e perdurarem por maior tempo do que quando as motivações são extrínsecas. Quando as pessoas deixam de perceber suas ações como internamente guiadas para se sentirem comandadas, elas tendem a mais facilmente se desmotivarem para a prática, pois não se percebem como autônomas nessa escolha (GUIMARÃES e BORUCHOVITCH, 2004).

Ao que parece, recompensas materiais prejudicam a motivação intrínseca, reduzindo o envolvimento na atividade para níveis menores do que os apresentados antes da introdução das mesmas. Esses resultados foram percebidos na pesquisa de Deci (1971), que observou que quando os participantes recebiam dinheiro para realizar tarefas de montagem de cubos seus níveis de motivação intrínseca diminuíam. Como percebido, há anos é conhecido

cientificamente que recompensas prejudicam a motivação para a realização de comportamentos, porém ainda hoje se percebe essa prática no meio esportivo. Seguindo tal pressuposto, pessoas que praticam exercícios físicos por algum tipo de demanda externa, como indicação dos pais, estética, recompensas, etc, têm maior probabilidade de abandonar a prática e realizá-la com menor eficiência do que quem a pratica por prazer e com autonomia, ou seja, motivado intrinsecamente.

Alguns estudos demonstram que homens e mulheres apresentam diferentes motivos para a prática esportiva. Enquanto os homens se envolvem na prática esportiva motivados geralmente pela competição e reconhecimento social, as mulheres apresentam uma maior gama de motivos, como saúde, bem-estar, estética e condicionamento, prazer nas atividades, contato social, identificação com o professor ou treinador (WEINBERG e GOULD, 2001). Por outro lado, considerando a realidade brasileira, o estudo de Deschamps e Domingues Filho (2005) verificou que a maioria dos motivos de prática se repete para ambos os sexos (prazer na atividade física, melhora da estética, melhor condicionamento físico e qualidade de vida). Nesse estudo homens e mulheres se diferenciaram quanto à socialização, mais presente para os homens, e realização pessoal, mais presente para as mulheres.

Tradicionalmente, a motivação extrínseca é tratada como um construto unidimensional, sendo oposição à motivação intrínseca e comportamentos autônomos. Porém, com uma breve análise percebemos que existem diversos tipos de variáveis externas com diferentes características que podem influenciar o comportamento, levando a diferentes resultados. Por exemplo, a obrigação de realizar exercícios físicos por exigência da família é diferente da vontade de demonstrar as habilidades para alguma pessoa, apesar de ambas serem motivadas extrinsecamente. Para alguns autores, como Petherick e Weigand (2002), essa divisão dicotomizada é simplista e acaba prejudicando uma compreensão mais ampla da motivação para os exercícios físicos e esportes.

Estudos atuais confirmam que são diferentes os tipos de motivação extrínseca, sugerindo que essa seja subdividida em diferentes construtos (WILSON e RODGERS, 2004; BRICKELL e CHATZISARANTIS, 2007). Fundamentado nisso, os estudos apoiados na TAD têm observado os comportamentos referentes à prática de exercícios físicos e esportes motivados extrinsecamente de acordo com

suas diferentes regulações motivacionais (BRICKELL e CHATZISARANTIS, 2007), sendo essa uma nova tendência, apresentada a seguir, nos estudos sobre o tema.

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