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Motivação profissional dos docentes

ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.2 Motivação profissional dos docentes

Os resultados sugerem que os docentes de todos os sectores de ensino do agrupamento se consideram, globalmente, motivados. Na dimensão de insight profissional, entendida como a capacidade do indivíduo ser realista sobre as suas possibilidades profissionais e a sua perspicácia para estabelecer metas profissionais adequadas face às suas competências, a maioria dos docentes considera que conhece os seus pontos fortes e fraquezas e tem objectivos realistas. Consideram ainda que têm objectivos profissionais específicos e sabem como os alcançar. De acordo com os resultados observados, verifica- se que “Tenho um plano para alcançar os meus objectivos profissionais” e “Tenho objectivos profissionais específicos” são os itens onde se registam observações mais dispersas para o 3º ciclo. Estes resultados sugerem a necessidade de os líderes organizacionais apoiarem o desenvolvimento profissional e o estabelecimento de objectivos para os docentes deste sector de ensino, nomeadamente através da discussão de planos de formação e de propostas de actividades a desenvolver pelos docentes no quadro das suas competências e interesses.

A dimensão identidade da motivação profissional da amostra revela um conjunto de observações tendencialmente mais baixas do que a dimensão insight. A identidade profissional está associada com o envolvimento na carreira, a necessidade de progressão e de reconhecimento. No presente estudo, constata-se que os docentes querem ser reconhecidos pelos seus êxitos profissionais, em especial pelos seus líderes educacionais, no entanto mostram-se pouco interessados em perguntar aos seus pares a opinião sobre o desempenho profissional e poucos estão interessados em posições de liderança. Apesar de, na prática docente, haver múltiplas oportunidades formais (direcção de turma, coordenação de departamento, etc.) e informais (condução de projectos e actividades diversas) para o exercício da liderança, os resultados sugerem que a afirmação “Gostaria de estar numa posição de liderança” foi interpretada estritamente no âmbito da liderança administrativa. As medianas neutras que se apresentam podem significar que muitos docentes ainda não reflectiram suficientemente sobre a possibilidade de virem a exercer uma posição de liderança no agrupamento ou podem considerar que não é uma ambição oportuna. O facto de se verificarem observações positivas no valor máximo em todos os ciclos sugere que existem pequenos núcleos de docentes muito motivados para a liderança. O 2º ciclo é o sector de ensino onde maior número de docentes afirma o seu desinteresse pela liderança educacional (mediana negativa), mas, simultaneamente, é também o sector onde se verificam mais observações positivas comparativamente aos outros sectores de ensino.

Muitos docentes apreciam a realização de formação para progredir na carreira. As docentes do pré-escolar são as que mais apreciam a realização de formação para progressão na carreira. Uma explicação possível para este resultado é que a realização de formação proporciona a estas docentes a oportunidade de se aproximarem para partilhar experiências e conhecimentos. Dado o relativo isolamento de alguns jardins-de-infância, a participação em formações representa momentos importantes para as docentes renovarem contactos e actualizarem ou reformularem práticas pedagógicas. O pré-escolar é também o sector de ensino em que mais docentes consideram ter mudado ou revisto os seus objectivos profissionais depois de terem conhecimento de informações novas sobre a sua situação profissional. Uma vez que este sector de ensino é aquele em que a média do tempo de serviço é mais elevada, o impacto das medidas governamentais relativas à idade da reforma deve ter-se feito sentir com mais intensidade. Pode ter sido necessário reformular objectivos pessoais e profissionais face às novas regras de aposentação. É neste

sector de ensino que os docentes dão menos importância ao reconhecimento dos seus êxitos profissionais e que ocupam menos tempo livre com actividades relacionadas com a profissão.

Globalmente, verifica-se um conjunto importante de observações neutras e negativas nas questões realizadas no âmbito da identidade profissional que sugere que há docentes a sentir algum distanciamento da profissão. King (1999) aponta os problemas que podem advir da falta de identidade profissional, nomeadamente a adopção de comportamentos neuróticos relativamente às chefias intermédias e superiores: quando as pessoas se sentem alienadas e alheias do seu papel profissional tendem a falhar e a responsabilizar outros pela sua indiferença. Este autor explica que o distanciamento e a passividade não são as melhores abordagens para resolver problemas de motivação profissional. Antes, é necessária uma intervenção no sentido de promover a interacção com colegas de profissão e superiores hierárquicos para analisar os problemas e lidar com os sentimentos.

Os resultados para os docentes no âmbito da resiliência profissional são bastante positivos. No domínio motivacional, a resiliência reflecte a persistência na prossecução de objectivos profissionais. Freiberg (1994) define a resiliência como a capacidade para reagir pró activamente em vez de reagir. No nosso estudo os resultados obtidos relativamente a esta dimensão da motivação profissional apontam para níveis satisfatórios de auto-estima, auto-eficácia, autonomia e padrões pessoais de avaliação. A maioria dos docentes aprecia trabalhar com pessoas novas e diferentes e afirma manter relacionamentos amistosos com colegas de todos os ciclos de ensino. Consideram que concebem melhores formas de realizar o trabalho e recebem confiantemente feedback positivo sobre o seu desempenho profissional. A maior parte considera-se capaz de lidar com qualquer problema de trabalho que possa surgir. Estes dados corroboram as competências de resiliência designadas por Benard (1997) que incluem capacidades para criar relacionamentos (competência social), resolver problemas (meta-cognição), desenvolver uma identidade (autonomia) e planear e manter expectativas positivas (sentido de propósito e futuro). Também o estudo conduzido por Patterson, Gypsy & Abbott (2004) sobre a resiliência dos professores em escolas urbanas conclui que os docentes resilientes orientam as suas decisões por um conjunto de valores pessoais, têm elevada consideração pelo seu desenvolvimento profissional e encontram formas de o alcançar, ajudam os colegas e assumem a responsabilidade pelos

problemas em vez de se tornarem vítimas dos mesmos. Os professores resilientes concentram-se nos alunos e na sua aprendizagem fazendo o necessário para contribuir para o sucesso dos jovens, apreciam a exploração de novas vias de ensino e têm uma rede social de apoio intelectual e emocional ao seu trabalho (Patterson, Gypsy & Abbott, 2004). Os nossos resultados sugerem menos confiança por parte dos docentes em relação a pôr em prática ideias/projectos inovadores, dado que muitos afirmam não gostar de correr riscos. Muitos docentes podem preferir evitar práticas pedagógicas ou projectos inovadores por sentirem que não controlam os resultados. É possível considerar que esta atitude traduza não uma falta de motivação individual para correr riscos no contexto profissional, mas antes a interpretação de condicionantes situacionais que limitam abordagens mais criativas como, por exemplo, a necessidade de cumprir programas curriculares para a realização de exames.

Em síntese, os resultados obtidos sugerem níveis moderados de motivação profissional nos docentes deste agrupamento vertical de escolas. A identidade profissional é a dimensão onde a variabilidade das respostas é maior e onde se verificam mais respostas neutras. De acordo com o modelo hierárquico da motivação profissional (King, 1999) a identidade profissional está subordinada em importância ao insight e à resiliência, na medida em que a resiliência está no cerne de qualquer esforço motivacional. A identidade profissional é construída sobre o compromisso profissional (“commitment”) que advém da resiliência e sobre o realismo das expectativas ou insight. Será, pois, adequado afirmar-se que a identidade dos docentes está em construção, o que faz todo o sentido fase às mutações sociais e à discussão da pessoa e do papel do professor na actualidade.