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2.4 Acesso Aberto

2.4.2 Motivações para Ocorrer uma Citação

De acordo com Norris, Oppenheim e Rowland (2008), os motivos da vantagem de citações do acesso aberto tem sido discutidos na literatura por alguns pesquisadores. Nesse sentido, os autores ressaltam a existência de estudos apontando que apenas disponibilizar um trabalho em acesso aberto não garante o aumento na quantidade de citações recebidas em um trabalho cientifico, mas sugerem que as pesquisas cujos pre-prints foram colocados em repositórios antes da publicação pelo periódico no qual o artigo foi submetido tendem a ter melhor qualidade e, consequentemente, recebem uma maior quantidade de citações. Harnad (2005), por exemplo, buscou identificar as razões pelas quais as publicações disponibilizadas em acesso aberto teriam uma maior vantagem no número de citações. Entre os resultados encontrados, o autor considera que existem fatores que são temporários e aqueles que são permanentes. Isto ocorre devido a algumas vantagens que desaparecem no momento que os pesquisadores fazem o autoarquivamento de 100% de suas pesquisas. No caso, são citados seis fatores, dos quais três tem caráter temporário e três são permanentes. São eles:

60  Temporários:

o Viés de Qualidade: os autores fazem uma seleção de seus próprios artigos e disponibilizam em acesso aberto aqueles que consideram como sendo de maior qualidade;

o Vantagem Competitiva: os artigos que são autoarquivados tem vantagem em relação àqueles documentos que não são autoarquivados pelos autores;

o Vantagem do arXiv: trabalhos depositados no arXiv tem vantagem sobre aqueles que não são. Nesse tópico, o autor ressalta que essa vantagem ocorre especificamente para os artigos de pesquisadores de física.

 Permanente:

o Vantagem de Antecipação: pesquisas cujos resultados são disponibilizados em acesso aberto desde o estágio do pre-print possuem vantagem com relação àqueles autoarquivados posteriormente, pois as citações sobre o trabalho podem ocorrer antecipadamente;

o Vantagem de Qualidade: os artigos que realmente são de alta qualidade possuem vantagem quando comparados com os demais. Diferente do Viés de Qualidade, aqui não é apenas o autor que julga positivamente o valor do trabalho, mas também os pares;

o Vantagem de Uso: de acordo com o autor, artigos em acesso aberto são baixados (downloaded) e lidos três vezes mais do que aqueles que são não disponibilizados em acesso aberto, fato que reflete no total de citações recebidas.

Harnad e Brody (2004) concluem que ter acesso ao conteúdo científico produzido pelos pares é importante e necessário para que ocorra a citação de uma pesquisa, mas fazem a ressalva de que, sozinho, esse acesso não é condição suficiente para que a referência aconteça. Sobre este ponto, Swan (2010) acredita que as citações são resultado da qualidade, relevância, influência e originalidade do trabalho produzido. De acordo com Erikson e Erlandson (2014), entretanto, as razões para ocorrência de citações não se restringem somente a esses aspectos. Em seu artigo, os autores discutem que as motivações para a citações podem ser classificados em quatro categorias: Argumentação, Alinhamento Social, Alinhamento Mercantil e Dados. Destacam-se que essas categorias de motivações não são excludentes entre si e dividem-se em subcategorias menores, conforme apresentado na Tabela 2.

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Tabela 2. Categorização das motivações dos autores para realizar uma citação

Argumentação Alinhamento Social Alinhamento Mercantil Dados

Delimitação Tradição Científica Crédito Revisão

Suporte Ativo Autoimagem Científica

Credenciais Próprias

Meta-análise

Crítica Ativa Material de Troca

Suporte Passivo Compensação pelo Esforço

Autopromoção

Texto de Estudo

Leitura Adicional Empenho

Fonte: Adaptado de Erikson e Erlandson (2014, p.628, tradução nossa)

Assim, a primeira e mais tradicional delas é a Argumentação, na qual os pesquisadores procuram referenciar estudos de outros autores que possam validar ou reforçar um ponto de vista que desejam evidenciar. De modo análogo, as citações também podem ser utilizadas para criticar e refutar um argumento proposto por linhas de pensamento dissonantes. Nota-se que esta é uma concepção mais próxima à abordagem proposta por Latour (2000), em que as citações são utilizadas para persuasão e recrutamento de aliados. A segunda categoria motivação para as citações é o Alinhamento Social. Aqui, o uso das referências relaciona-se à intenção dos pesquisadores em demonstrar seu posicionamento dentro dos seus campos científicos ou apenas podem servir como forma de compensação pelo esforço do indivíduo em ter lido completamente um artigo7.

O Alinhamento Mercantil é a terceira categoria de motivação e refere-se a obtenção de créditos e recompensas. Logo, para esses casos, a citação é tratada como moeda de troca simbólica dentro da comunidade científica. Em consonância ao exposto por Erikson e Erlandson (2014), Freitas (1997) menciona a ocorrência de casos em que se fazem citações de colegas próximos ou da mesma instituição, visando apenas auxiliá-los no alcance de melhores pontuações na avaliação de sua produtividade ou, ainda, a citação a autores consagrados na literatura apenas com o objetivo de dar maior autoridade e credibilidade ao referencial teórico e, consequentemente, à própria pesquisa. Por fim, a quarta categoria de motivos para citação é chamada de Dados e diz respeito às referências utilizadas com a finalidade de explicar um assunto especifico ao leitor do seu trabalho.

Por fim, apresenta-se o fenômeno observado por Price (1976), da Distribuição de Vantagem Cumulativa (Cumulative Advantage Distribuition – CAD), em que o sucesso parece

7 Nas palavras dos autores, “ler um artigo apenas para eventualmente descobrir que ele realmente não está alinhado

com os caminhos de desenvolvimento do seu próprio manuscrito é uma experiência irritante, em particular se o artigo era longo ou tedioso” (ERIKSON; ERLANDSON, 2014, p.631, tradução nossa).

62 conduzir a mais sucesso. De modo similar ao Efeito Mateus observado por Merton (1968), Price argumenta que um artigo com grande número de citações tem mais chances de ser citado do que aquele com poucas citações. Da mesma forma, um periódico que é constantemente usado como referência para determinado assunto tende a ser consultado mais vezes do que aqueles cujo uso é menos frequente.

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