• Nenhum resultado encontrado

Esta responsabilização das adolescentes sobre o seu próprio destino consti- tui para nós um real motivo de satisfação. A confiança depositada, o respeito e a consideração social que sentimos em relação a estas raparigas despertaram e es- timularam o seu espírito criativo. São agora capazes de lançar um debate e trocar informações e experiências sobre todas as práticas nefastas. A teoria da contra- -argumentação cultural regista algum progresso em certos países africanos como o Senegal, o Níger, o Mali e mesmo na Europa, onde encontramos fortes comuni- dades haalpulaar que utilizam esta estratégia cultural de luta contra as violações dos direitos das mulheres. A nossa equipa bate-se para encontrar financiamentos para atacar outras práticas tradicionais que constituem graves violações dos di- reitos das mulheres.

Recomendações

As recomendações seguintes são suscetíveis de ser retidas no quadro da luta contra as mutilações genitais femininas em todas as sociedades africanas tradi- cionais, e mais particularmente na sociedade haalpulaar.

acontra-argumentaçãoculturalcomoestratégiadelutacontraapráticadasmutilaçõesgenitais femininas. ocasodasociedadehaalpulaarnamauritânia

• Identificar as cidades, aldeias e grupos onde a prática das mutilações genitais femininas é muito elevada.

• Estabelecer um diálogo permanente com as autoridades de saúde e o pessoal das estruturas escolares.

• Colaborar e sensibilizar as associações aldeãs ou étnicas com o objetivo de levar a cabo ações dirigidas às mães de família.

• Alertar as mães de família das perseguições judiciais eventuais no caso de mutilação das raparigas.

• Pôr à disposição das mães de família e submeter à sua crítica os contra- -argumentos culturais.

Conclusão

A contra-argumentação cultural é um processo pedagógico dinâmico. Inter- pela as populações e associa-as à procura de soluções para os seus problemas. É também um instrumento racional de investigação dos fundamentos das práticas tradicionais nefastas e um modo de resistência cultural, face à ignomínia da qual toda a cultura humana continua dependente.

Convém, por fim, sublinhar que a contra-argumentação cultural é, em últi- ma instância, um apelo ao dever da memória, de justiça, de reparação e de recon- ciliação.

A luta pela promoção dos direitos humanos em África não poderá ser fei- ta sem uma luta feroz contra a impunidade. Lembrar-se dos feitos desumanos e degradantes (siftorde) e bater-se contra os perigos do esquecimento (yejitde) é uma necessidade. Trata-se de mantê-los no imaginário popular das populações sem ódio, mas para evitar qualquer forma de regressão, podendo reprogramar os comportamentos inaceitáveis.

O convite ao abandono da prática da mutilação genital feminina deve ser apresentado como a renúncia a uma forma de ignomínia tal como a encontramos em todas as culturas humanas. Ela não deve ser percebida como um processo das culturas, nem como a expressão de uma vontade hegemónica ocidental que se manifesta através da globalização.

As palavras do enviado especial encarregue da questão da violência contra as mulheres ilustram este convite:

Os Estados têm o imperioso dever de lutar contra essas práticas culturais que se traduzem pela violência contra as mulheres, que as degradam e humilham, e que as impedem de exercer plenamente os direitos fundamentais. As normas interna- cionais exigem aos Estados que levem a cabo uma ação concertada para erradicar

65

abdoulayedorosow

essas práticas mesmo que aqueles que as defendem afirmem que elas são fruto de crenças e ritos religiosos.

Este convite é um apelo à razão e ao coração que conduz às normas univer- sais dos direitos humanos. Um marcador cultural não pode participar na afirma- ção e preservação da identidade se não estiver em conformidade com os direitos humanos. “De qualquer das formas, um dia teremos de fazer o inventário dos nossos valores e práticas tradicionais”, afirma Victor Topanou.

Referências

Bah, A. (2010, 20 de abril). De la question des langues en Mauritanie. AVOOM. Disponível em: https://www.avomm.com/DE-LA-QUESTION-DES-LANGUES-EN- MAURITANIE_a11451.html

Diouf, B. (2001, 9 de março). Le témoin n° 551, p. 2.

Meyer-Bisch, P. (1992). Le corps des droits de l’homme. L’indivisibilité comme principe d’interpré-

tation et de mise en œuvre des droits de l’homme. Fribourg (Suisse): Éditions Universitaires.

Meyer-Bisch, P. (2005, 7 de março). Les droits culturels comme ressources pour lutter contre la

violation des droits humains. Conférence UNICEF: Les mutilations génitales feminines

en Europe. Zurich.

Observatoire de la diversité et des droits culturels. (2009). Situation des droits culturels:

Argumentaire politique. Documents de synthèse, DS2, IIEDH. Disponível em: https://

www.unifr.ch/iiedh/assets/files/DS/DS2-Situation_dc,6.pdf

Sow, A. (1998). Le système des castes face aux mutations sociales contemporaines. L’exemple

de la communauté haalpulaar’en de Kaédi en Mauritanie. Thèse de Doctorat Unique en

Anthropologie présenté à l’Université de Nice.

Sow, A. (1999). Contribution à l’étude des stratégies matrimoniales au sein de la société haalpulaar. Nouakchott: ERMGF.

Sow, A. (2000). Contribution à l’étude des mutilations génitales féminines en milieu haalpulaar

de Mauritanie: Le cas de la communauté haalpulaar de Kaédi en Mauritanie. Nouakchott:

FNUAP.

Sow, A. (2001). Les valeurs structurantes de la personnalité haalpulaar. Cours en Anthropologie, Département des Langues Nationales, Nouakchott.

Sow, A. (2001). Le recueil des arguments culturels. Anales, 18. Faculté des Lettres et des Sciences humaines, Université de Nouakchott, Mauritanie.

Sylla, A. (1980). La philosophie morale des Wolofs. Thèse présentée à l’Université de Grenoble II (1976). Lille: Atelier Reproduction des thèses, Université de Lille III.

5.

C/MGF como Violação dos Direitos Humanos: