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Movimento LGBT Brasileiro e as estratégias de visibilidade positiva

1.3. Constituição dos espaços de sociabilidade GLS no Brasil: ouvindo os sons

1.3.2. Movimento LGBT Brasileiro e as estratégias de visibilidade positiva

Com marcas registradas pela literatura no final dos anos 1970, o Movimento Homossexual, como era reconhecido na época, pautava sua atuação com forte influência antiautoritária nas últimas expressões do período militar vivenciado no Brasil, como nos apresenta Júlio Simões e Regina Facchini (2009). Nos anos 1980, com o advento da associação da homossexualidade com a AIDS, vivenciou-se uma expressiva redução dos grupos de homossexuais organizados e uma alteração bastante significativa para o movimento: a atuação passa a ser voltada para a garantida dos direitos civis e contra discriminação e violência dirigidas aos sujeitos homossexuais. Já nos anos de 1990, o movimento não apenas cresce em quantidade de grupos e organizações em abrangência nacional11, como também diversifica os formatos institucionais de organização12, a exemplo da ampliação de sua visibilidade, da articulação entre as redes e da participação social13 nas instâncias governamentais e não-governamentais, demarcando este como um momento fortificante para a configuração atual do movimento (FACCHINI, 2005).

A crescente visibilidade e a ativa participação política foram estratégias encontradas pelo movimento de legitimidade social que tem trazido muitos avanços para a população LGBT. Conquistas como as Conferências Nacionais, construção e fortalecimento de frentes parlamentares, elaboração e proposição de projetos de leis e o estabelecimento de normativas de associações profissionais combatendo a patologização e a discriminação LGBT, foram, e ainda

11 Esse crescimento parece estar relacionado, entre outros fatores, ao modo como se organizou a resposta coletiva à

epidemia do HIV/Aids: a implementação de uma política de prevenção às DST/Aids baseada na ideia de parceria entre Estado e sociedade civil e num claro incentivo às políticas de identidade como estratégia para a redução da vulnerabilidade de populações estigmatizadas (FACCHINI, 2009, p.138-139).

12 Além dos grupos comunitários, passa a contar, entre outros formatos, com associações e organizações formalmente

registradas, com setoriais de partidos políticos, com grupos religiosos e com grupos situados na interface entre ativismo e pesquisa, constituídos no interior das universidades (FACCHINI, 2009, p. 139).

13 Entre os interlocutores do movimento, temos movimentos de direitos humanos, de luta contra a AIDS e movimentos

de “minorias”, especialmente o feminista; Temos também uma ampliação dos espaços de participação como as comissões que discutem leis e políticas públicas; Vivenciou a ampliação da visibilidade através, por exemplo, da organização de Paradas do Orgulho LGBT e pela incorporação midiática positiva da temática. Ainda percebe-se a articulação de redes de entidades ou de ativistas, como a ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros), fundada em 1995; e também a formação de fóruns estaduais e municipais. (FACCHINI, 2009, P.139).

são, essenciais, para o fortalecimento da atuação do movimento na conjuntura vivenciada (FACCHINI, 2009, p. 139). A constituição histórica da nomenclatura utilizada por esse movimento social é descrita, conforme o trecho a seguir, publicado por Regina Facchini (2009):

Assim, até 1993, o movimento aparece descrito predominantemente como MHB (Movimento Homossexual Brasileiro); depois de 1993, como MGL (Movimento de Gays

e Lésbicas); após 1995, aparece primeiramente como um movimento GLT (gays, lésbicas e travestis) e, posteriormente, a partir de 1999, figura também como um movimento

GLBT – de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros, passando pelas variantes GLBT ou LGBT, a partir de hieraquizações e estratégias de visibilidade dos segmentos. Em 2005, o XII Encontro Brasileiro de Gays, Lésbicas e Transgêneros aprova o uso de GLBT, incluindo oficialmente o “B” de bissexuais à sigla utilizada pelo movimento e convencionando que o “T” refere-se a travestis, transexuais e transgêneros. Em 2008, nova mudança ocorre a partir da Conferência Nacional GLBT: não sem alguma polêmica, aprova-se o uso da sigla LGBT para a denominação do movimento, o que se justificaria pela necessidade de aumentar a visibilidade do segmento de lésbicas (p. 140).

Diante disso, perceber-se que o movimento LGBT Brasileiro formulou estratégias de ascensão na sociedade, conquistando o poder público, através de diferentes mecanismos internos e externos: a institucionalização; a ativa participação militante nos espaços públicos de elaboração de leis, programas e projetos; como também, as mudanças visíveis no perfil dos militantes que passaram de ativistas para militantes profissionais, assumindo cargos nos espaços políticos, em busca de aprofundarem a discussão e ampliarem as possibilidades de atuação. Outro aspecto que gerou grandes conflitos internos foi a relação do movimento com os partidos políticos, que se tornaram meio de visibilidade dessas demandas, articuladas politicamente. Esses fatores representaram uma “progressiva construção de legitimidade das temáticas LGBT, embora as demonstrações de reconhecimento das questões nas políticas públicas e nos programas de governo apareceram somente nos anos 2000 (FACCHINI, 2009, p.142) ”.

Conquistas bastante significantes para a população LGBT, indicadas na interlocução do movimento com o Estado, representaram a entrada dessas pautas na agenda pública dos Direitos Humanos, resultando na elaboração, lançamento e implementação de diferentes ações, programas, projetos e políticas voltadas para esta população. Mesmo diante dessa conjuntura, muitos ainda são os desafios enfrentados cotidianamente pelos LGBT no que tange a violação de direitos.

A luta pelo reconhecimento dos direitos não é recente, há longo tempo o homem se dedica a reivindicá-los. Uma vez conquistados, devem fazer com que sejam efetivados e não violados. O direito não se conquista sem as lutas, as quais assumem diferentes formas, tal como a denúncia, o debate, o protesto, a resistência. Em consequência, o direito vai sendo construído em determinado contexto social, fruto das transformações da sociedade, podendo significar não só avanços, mas também, retrocessos (SOLCI, 1999).

Conforme Aécio de Matos (2007), a importância da organização social de base é ferramenta fundamental no processo da sociedade democrática, a participação ativa no cenário de gestão política e as estratégias de ação social dessas organizações, são aspectos que se fortalecem juntamente com a “constituição de sujeitos coletivos, como uma unidade autorregulada, se

exprimindo pelo reconhecimento recíproco e por sentimento de inclusão”, como podemos referenciar na constituição do movimento LGBT no cenário brasileiro.

Assim, a reflexão teórica sobre os sujeitos LGBT se faz necessária, diante dos obstáculos e resistências da sociedade em discuti-los. Estes sujeitos são “rejeitados”/marginalizados na sociedade, por terem práticas e desejos afetivo-sexuais “diferenciados” da lógica padronizadora e discriminatória vigente nas relações entre os indivíduos. Essas normalizações constituem desafios a serem enfrentados e contribuem para a invisibilidade desses sujeitos e, consequentemente, a efervescência da discriminação, do preconceito e a não legitimidade desses enquanto cidadãos detentores de direitos (BRAÚNA, 2013).

A possibilidade de refletir, problematizar e identificar a necessidade de aprofundar os conhecimentos acerca da diversidade sexual. Compreender as regulações sociais exercidas sobre os corpos, as práticas e os desejos sexuais que estes estabelecem, assim como, perceber a construção das categorias identitárias e como elas possibilitaram a organização e atuação desses sujeitos enquanto movimento social, são aspectos essenciais para a construção e atuação do Movimento LGBT no cenário contemporâneo, na luta pela efetivação do princípio da universalidade dos direitos humanos e a consolidação de direitos à população LGBT.