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Movimento na exploração dos brinquedos do parque (14-06-2005)

Fonte: Leonice M. Richter

FOTO 13: Movimento na exploração dos brinquedos do parque (14-06-2005)

Fonte: Leonice M. Richter

A observação da forma de organização desse espaço leva-nos a concluir, juntamente com as entrevistas, que o movimento da criança, além de não ser estimulado, é limitado pela estrutura do espaço e por seu planejamento quanto à sua utilização. Como define Oliveira

(2005, p.194), “todo ambiente, sem exceção, é um espaço organizado segundo certa concepção educacional, que espera determinados resultados”. No caso observado, verificamos que tanto a construção física do espaço quanto a sua utilização estão orientadas por uma concepção de pré-escola como um espaço de preparação para o ensino fundamental, em que a escola opta por favorecer a apropriação da linguagem escrita e acaba por limitar a possibilidade da exploração das demais linguagens que a criança pode utilizar como forma de comunicação com seu meio, dentre elas, a corporal. Assim, como Stokoe e Harf (1987), salientamos que a

importância que damos à expressão está baseada na seguinte idéia: quanto mais meios de expressão o ser humano puder desenvolver, tanto maior será a sua riqueza existencial. O indivíduo que só pode expressar sua vida interior através de uma única via (seja esta escreve, pintar, falar, etc.), não realiza todas as suas potencialidades. Não queremos dizer com isso que o corpo seja o meio mais importante de expressão, mas sim que é uma via a mais, que tem a vantagem de ser a única via utilizada pelo homem desde que ele nasce (STOKOE E HARF, 1987, p.20).

O ambiente da educação infantil deve possibilitar a expressão corporal, o movimento da criança, por isso, o profissional da educação deve estar atento à estrutura física, que exerce influência direta na questão do movimento, pois o movimento supõe a existência de espaço.

1.2 Rotina e o Movimento Corporal da Criança

No contexto da educação infantil utilizamos o termo “rotina” para designar a organização do tempo. A discussão acadêmica em torno desta questão se faz mediante a concepção de que a criança, sujeito histórico e social, a qual se constitui pelas interações sociais, deve ser considerada em suas especificidades. Como ser de natureza singular, não deve ser exposta ao cumprimento de horários e programações rigidamente cristalizados, tornando-se cansativa, desmotivadora, cerceadora.

Segundo Freire (1998), a compreensão da rotina para a educação infantil envolve a expressão do pulsar do coração (com diferentes batidas rítmicas) vivo do grupo, e, dessa forma, torna-se uma seqüência de atividades, mas que se desenvolvem em um ritmo que é próprio para cada grupo. A autora ressalta a importância do ritmo como partícipe da rotina da criança, nesse caminho, podemos encontrar espaço de autonomia e liberdade diante dos ditames do relógio, o respeito ao pulsar do grupo, do corpo das crianças.

A rotina garante tanto para o professor como para as crianças a organização e a localização das ações e atividades desenvolvidas no tempo e no espaço. Ela deve, ao mesmo

tempo, “oferecer referência, segurança e organização sem se contrapor ao pulsar, ao movimento e ao prazer” (SERRÃO, 2003, p.28).

Nas nossas observações, a rotina manteve-se rígida ao longo de todo o período observado. Entre os dias da semana, apenas na terça-feira havia atividades diferenciadas, mas diferenciadas apenas dos outros dias da semana, pois, entre as terças-feiras, pouca variação ocorria, conforme especificado no quadro abaixo:

Professora Rotina geral dos dias da semana

Professora regente Segunda; Quarta; Quinta e Sexta-feira. 7:00 às 7:15 (Horário de Entrada) 7:00 às 9:00 Atividades de sala; 9:00 às 9:15 Lanche 9:15 às 11:10 Atividades de sala; 11:10 Começa a liberar as crianças Professora de Educação Física; Professora Complementadora de Carga horária. Terça-feira. 7:00 às 7:15 (Horário de Entrada) 7:00 às 7:50 Educação Física; 7:50 às 8:40 Aula com PCC 8:40 às 8:55 Lanche 8:55 às 10:35 Aula com PCC 10:35 às 11:25 Educação Física.

1.2.1 O dia-a-dia na sala de aula com a professora regente

Com exceção da terça-feira, a turma pesquisada possuía aula somente com a professora regente, permanecendo, basicamente, envolvidos em atividade que ocorriam dentro da sala de aula. As crianças permanecem na escola um total de 4 horas e 15 minutos, deste tempo, a rotina exige que elas fiquem sentadas por cerca de três horas e quarenta minutos, isso sem considerar o momento do lanche no qual também se mantêm sentadas.

Na chegada à instituição, as crianças ficavam em frente à escola com seus pais ou adulto responsável até dar o horário da entrada (7h às 7h:15). Ao abrir o portão, geralmente, uma professora do maternal e a diretora ou pedagoga recebiam as crianças, auxiliando as do maternal. As crianças do pré direcionavam-se diretamente para a sala de atividade e acomodavam-se em seus lugares, que com a chegada da professora eram, habitualmente, redirecionados. Como já mencionado anteriormente, alguns lugares eram definidos pela

professora motivados pelo comportamento corporal da criança, ou seja, os que se movimentavam mais ativamente eram postos em lugares que facilitassem o seu controle.

No início do ano letivo, a professora da turma observada normalizou que as mochilas deveriam ser guardadas no fundo da sala (FOTO 14). A criança que não cumpria a norma estabelecida era advertida, e a professora, quase todos os dias, alertava para não se esquecerem de guardar as mochilas, o que, em alguns momentos, confundia as crianças diante de outras normatizações.

Professora Regente: Tem uma coisa que vocês esqueceram de novo” (as crianças nesse momento começam a trocar de lugar)

Professora Regente: Gente eu não estou mandando trocar de lugar, é para colocar a pasta lá atrás;

Professora Regente: Mas que coisa, essas cabecinhas estão muito fracas, vocês não prestam atenção;

Professora Regente: Agora eu não vou mais falar, vou chegar e falar: __ ‘Vinícius você está esquecendo de alguma coisa’” Ela se aproxima da criança exemplificando como vai fazer, está com uma expressão de reprovação no rosto, na verdade, essa expressão e o tom da voz avisam mais do que as palavras proferidas por ela nesse momento. (Registrado em diário de campo, 10/06/2005)

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