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2. AS BASES PARA A CRIAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DOS NEGÓCIOS DO

2.2 O PLANO DE METAS DO GOVERNO – PLAMEG (1961-65)

2.2.1. O Movimento pelo Estado do Iguaçu

O Movimento pela Criação do Estado do Iguaçu surge logo após a extinção do Território Federal do Iguaçu (TFI) em 1946, efetivado pela Assembleia Constituinte, sua dissolução se deu por meio de acordos políticos entre lideranças federais e municipais (MOMBELLI, 1996). O TFI fez parte do projeto de nacionalização de fronteiras do primeiro governo Vargas, sintetizado no programa “Marcha para o Oeste” cujo objetivo era promover a ocupação das regiões de fronteiras, desenvolvendo a nacionalização e a organização social e econômica de regiões fronteiriças e integra-las as demais regiões do país. A extinção do Território do Iguaçu repercutiu negativamente na imprensa chapecoense, como se pode ver no seguinte posicionamento:

A criação dos Territórios [...] não foi resultado de improviso, ao contrário, resultou de cuidados estudos de nossas zonas fronteiriças com países estrangeiros [...]. Contra a indiferença de todos os governos catarinenses e paranaense pelo Oeste de seus respectivos territórios, o governo federal trouxe assistência, estradas, escolas, fazendo mais em dois anos do que aqueles em todos os tempos (Jornal a Voz de Chapecó, 21 de janeiro de 1946. Apud OLIVEIRA, 1999, p.41).

As primeiras manifestações do movimento ocorrem logo após a extinção do TFI e pedem a recriação do Território do Iguaçu, por meio de abaixo-assinados. Nos anos 1960 o movimento muda a estratégia e passa a reivindicar a autonomia da região por meio da criação de uma nova unidade federativa, “em 1962 é criada a Comissão Para o Desenvolvimento e Emancipação do Estado do Iguaçu – CODEI” (LOPES, 2004, p. 2). A data de fundação foi 21 de abril de 1962 no município de Pato Branco (PR).

Era um movimento de caráter reivindicatório e partiu dos migrantes instalados na região, contou com o apoio de segmentos da sociedade local, capitaneados por comerciantes, médicos, madeireiros e advogados que pretendiam o domínio e o controle da sociedade política. As bandeiras e “os argumentos publicáveis dos separatistas pretendiam-se à falta de atendimento por parte dos governos estaduais às reivindicações regionais”(WACHOWICZ, 1987. Apud MOMBELLI, 1996, p. 115). Em síntese, o movimento pautava-se no isolamento político e administrativo e na falta de investimentos públicos na região.

Estas questões alimentavam o sentimento de abandono que fortalecia o desejo de separação. A situação das poucas estradas não possibilitava a circulação de veículos em

períodos de chuva, havia falta de escolas e hospitais, pouca capacidade de gerar energia elétrica e a quase inexistência de linhas telefônicas, deixavam os habitantes do Oeste catarinense ressentidos com os políticos da capital estadual. Para agravar a situação, as promessas feitas na campanha eleitoral e a meta de integração da região, traçada no Seminário Socioeconômico, não se efetivavam. Para muitos, a saída era criar uma nova unidade federativa.

Figura 3 - Mapa nº 1. A área do antigo Território do Iguaçu e do pretendido Estado do Iguaçu. Adaptado pelo autor. Apud MOMBELLI, 1996. p.113.

O fortalecimento do movimento pressionava os governos do Paraná e Santa Catarina a adotarem medidas para solucionar as demandas das regiões. As lideranças políticas passaram a cobrar com mais ênfase as promessas de campanha feitas pelo Governador Celso Ramos, principalmente na época de realização do Seminário Socioeconômico, em que a primeira reunião foi realizada em Chapecó. Lembrando que o Documento Básico, aprovado na plenária final do Seminário, trazia um ponto específico para a “Integração do Oeste”, em que enumerava

um conjunto de ações a serem implementadas nos setores de transportes, energia, agricultura, educação e financiamento empresarial.

No Paraná, o Governador do Estado criou a Companhia de Desenvolvimento do Paraná

(CODEPAR) para realizar obras de infraestrutura e o desenvolvimento da indústria, no Sudoeste Paranaense, foi criado o Grupo Executivo para as Terras do Sudoeste do Paraná – GETSOP para resolver problemas de legalização das terras e viabilizar serviços básicos de infraestrutura (OLIVEIRA, 1999, p. 55).

Em Santa Catarina, o Plano de Metas do Governo, instituído em 1961, tinha dificuldades para mostrar resultados no Oeste catarinense e a situação se agravava, de acordo com Oliveira (1999, p. 51) o próprio governador Celso Ramos esteve na região para avaliar as possibilidades reais do movimento pela criação do Estado do Iguaçu, meses depois, foi enviado o Projeto Lei para a criação da Secretaria dos Negócios do Oeste, em menos de dois meses de tramitação na ALESC, foi aprovada a Lei Estadual nº 3.283 de 17 de agosto de 1963 instituindo a SNO, com abrangência na área do “velho Chapecó”, atingindo a maior parte do território pretendido pelo Estado do Iguaçu, no lado catarinense, desestabilizando o movimento separatista.

Celso até usou uma tática inteligente e prometeu a criação do BESC e descentralizar a forma administrativa no Oeste. Se não criasse a Secretaria, certamente o movimento ia sempre se reforçar e já sairia o Estado do Iguaçu. Acho que ela inviabilizou todo esse movimento (Luiz Basso, Apud OLIVEIRA, 1999, p. 51).

A decisão do Governador Celso Ramos em criar um organismo de Estado para atender as demandas e reivindicações da região Oeste foi saldada por lideranças políticas e empresariais, uma vez que foram elas que estiveram à frente desta instituição estruturada financeiramente e com autonomia administrativa. A SNO deu condições para que a elite local pudesse adquirir um poderoso parque de máquinas rodoviárias e contratar equipes de trabalho para realizar ações de desenvolvimento em diversos setores de infraestrutura que há muito reivindicavam para concretizar o processo de colonização.

A presença desta instituição consolidou a atuação do governo estadual na região, representando o desdobramento do PLAMEG. Com isso, o Estado passou a coordenar o processo de desenvolvimento regional através de ações desenvolvidas pela Secretaria do Oeste e outros órgãos da administração pública estadual. As ações realizadas na gestão Serafim Bertaso (1963/69) serão analisadas no próximo capítulo deste trabalho.

Já o movimento pela criação do Estado do Iguaçu voltou a se articular no ano de 1968, coincidindo com o ano em que se iniciou o processo de esvaziamento da SNO, o movimento chegou a ser usado na imprensa, como forma de pressionar o Governo estadual a recompor o orçamento da Secretaria do Oeste, “a continuação ou a extinção do movimento pró emancipação do Estado do Iguaçu” dependerá da aplicação de verbas estaduais pela Secretaria do Oeste no ano seguinte. A expectativa era a de que os investimentos seguissem no mesmo ritmo em que se iniciaram nos anos entre 1964 a 1967.

As reivindicações por maior atenção e valorização das potencialidades econômicas do Oeste Catarinense, retornaram novamente nos anos 1990, a região sentia-se discriminada com a distribuição dos recursos públicos e novamente o descontentamento dos líderes políticos e empresariais, encontravam na bandeira da emancipação do Estado do Iguaçu, a forma de pressionar os governos estadual e federal por uma partilha mais equilibrada dos recursos arrecadados. Em depoimento publicado pela revista Istoé, de 11 de dezembro de 1991, o empresário Plínio Arlindo De Nês afirmava: "nós produzimos, arrecadamos e, na hora da distribuição volta muito pouco.” (DE NÊS Apud. MOMBELLI, 1996, p. 117). Como podemos perceber, a pauta da emancipação do Estado do Iguaçu esteve presente em vários momentos da história da região Oeste, quando esta se mobilizava em torno de reivindicações de infraestrutura ou maior repasse de dinheiro público.

O argumento de região abandonada e distante das decisões políticas dos governos estadual e nacional reaparece como pauta em diferentes momentos históricos. Recentemente foi utilizado por um conjunto de movimentos sociais urbanos e rurais na reivindicação ao acesso à educação pública no ensino superior que resultou na criação da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS, em 15 de setembro de 2009.