3. GEOTECNIA
3.2 MOVIMENTOS DE MASSA
Os movimentos de massa são eventos naturais, que podem ou não ser intensificados ou condicionados por fatores antrópicos, e que acarretam significativos prejuízos financeiros e humanos, além de comprometer parte da infraestrutura urbana como edifícios, rede de saneamento, rede elétrica e estradas (Barella 2016).
Estes consistem no deslocamento de material solto (como blocos de rocha, ou solo) causado pela ação da gravidade combinada com a influência dos demais agentes transportadores, como água, gelo ou ar (Bigarella 2003).
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3.2.1 ClassificaçõesOs movimentos de massa podem ser classificados em relação ao tipo de material envolvido, ao modo de movimento deste material, velocidade e direção do deslocamento, profundidade e raio de alcance e características da superfície de ruptura (Washburn 1938, Terzaghi 1950, Freire 1965, Varnes 1978, Augusto Filho 1992, Turner & Schuster 1996).
Neste trabalho, serão apresentadas a classificação de Varnes (1978), utilizada pelo serviço geológico dos Estados Unidos, amplamente utilizada no Brasil, o que permite traçar um comparativo internacional dos diferentes tipos de movimentos de massa, e a classificação de Augusto Filho (1992).
A classificação de Varnes (1978) leva em consideração a combinação do tipo de movimento e o tipo de material deslocado, como mostra o Quadro 3.1.
Quadro 3.1: Classificação de movimentos de massa segundo Varnes (1978).
Tipo de movimento
Tipo de material
Rocha Solo
Grosseiro Fino
Queda Queda de rocha Queda de detrito Queda de terra Tombamento Tombamento de
rocha
Tombamento de detrito
Tombamento de terra
Deslizamento
Translacional
Deslizamento translacional de
rocha
Deslizamento translacional de
detrito
Deslizamento translacional de
terra
Rotacional Deslizamento rotacional de rocha
Deslizamento rotacional de
detrito
Deslizamento rotacional de
terra Espalhamento Espalhamento de
rocha
Espalhamento de detrito
Espalhamento de terra Fluxo Fluxo de rocha Fluxo de detrito Fluxo de terra
Rastejo profundo Rastejo de solo Complexo Combinação de dois ou mais tipos de movimento
A classificação elaborada por Augusto Filho (1992) classifica os movimentos de massa de acordo com as características do movimento, como a quantidade de planos de deslocamento e velocidade do movimento, o tipo de material deslocado e a geometria da forma erosiva, como mostra o Quadro 3.2.
.
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Quadro 3.2: Classificação dos movimentos de massa segundo Augusto Filho (adaptado de, 1992).
Classificação Superfície Velocidade Volume Tipo de
material Geometria
Rastejo
Vários planos de deslocamento
(internos)
Muito baixas (cm/ano) e decrescentes
com a profundidade
Pequenos a grandes
Solo, depósitos, rocha alterada/
fraturada
Indefinida
Deslizamentos
Poucos planos de deslocamento
(externos)
Médias (m/h) a altas
(m/s)
Pequenos a grandes
Planares: solo pouco espesso, solos e rocha com um plano de
fraqueza
Rotacionais: solos espessos homogêneos e rochas muito
fraturadas
Em cunha: solos e rochas com dois planos de fraqueza Quedas e
tombamento
Sem planos de deslocamento
Muito altas (vários m/s)
Pequeno
a médio Rochoso
Lascas, placas, blocos, etc.
Corridas
Muitas superfícies
de deslocamento
(internas e externas)
Médias (m/h) a altas
(m/s)
Grande Solo, rocha, detritos e água
Extenso raio de alcance, mesmo em áreas planas.
3.2.2 Características dos movimentos de massa
Uma breve descrição dos principais movimentos de massa que afetam a região deste estudo está descrita na Tabela 3.1.
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Tabela 3.1: Características dos principais movimentos de massa (adaptado de USGS 2016).
Tipo de movimento Características
Deslizamento planar
O material deslocado durante o movimento de massa move-se sobre uma superfície plana sem apresentar rotação ou inclinação para montante. A ruptura desenvolve-se a partir de pontos de fraqueza como falhas e/ou fraturas e a superfície de descolamento ocorre preferencialmente em descontinuidades como maciços rochosos foliados que apresentam ângulos desfavoráveis ou no contato solo/rocha.
Deslizamento rotacional
A superfície de ruptura apresenta geometria com curvatura côncava e o movimento do material deslocado apresenta rotação em torno de um eixo paralelo ao plano horizontal. É mais frequente em maciços homogêneos, como solos, sedimentos e rochas alteradas.
Tende a ser mais profundo que o deslizamento planar.
Queda de blocos
As quedas de blocos são movimentos abruptos de materiais que se soltam de taludes muito inclinados. Este descolamento ocorre por meio das descontinuidades como fraturas, falhas ou planos de acamamento.
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Tabela 3.1 (continuação): Características dos principais movimentos de massa (adaptado de USGS 2016).
Tipo de movimento Características
Tombamento
O tombamento é caracterizado pelo movimento rotacional do material deslocado no sentido contrário do talude. É frequente em maciços rochosos com foliação bastante inclinada e cujo mergulho tenha sentido contrário ao do talude.
Rastejo
O rastejo ocorre por meio de movimentos lentos e contínuos de material na direção de mergulho do talude. É causado pela atuação de forças cisalhantes que deformam permanentemente o material. A deformação é acomodada em vários planos de deslocamento internos e pode ocorrer em movimentos constantes, sazonais ou intermitentes.
Fluxos / Corridas
Os fluxos ou corridas ocorrem quando o material nas encostas atinge saturação em água e passa a apresentar propriedades de um líquido viscoso. Desenvolve-se preferencialmente ao longo de drenagens e mobilizam diversos materiais, como solo, rocha, detritos e água.
3.2.3 Fatores condicionantes dos movimentos de massa
As pesquisas desenvolvidas atualmente para análise e classificação de susceptibilidade a movimentos de massa utilizam como base técnicas de manipulação digital de imagens e informações espaciais, como o GIS, GPS e sensoriamento remoto (Van Western 1993). As informações processadas
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consistem em atributos do terreno que são considerados relevantes na identificação e caracterização de futuros movimentos de massa. O Quadro 3.3 resume estes principais atributos.
Quadro 3.3: Fatores condicionantes da susceptibilidade a movimentos de massa (adaptado de Van Western et al.
2003).
Grupo Atributo Relevância
Modelo digital de terreno (DTM)
Declividade Fator mais importante para movimentos gravitacionais Direção da face Pode indicar diferenças na umidade do solo e vegetação Geometria das encostas Indicador da hidrologia das encostas
Direção de fluxo Usado na modelagem hidrológica Acumulação de fluxo Usado na modelagem hidrológica
Amplitude de elevação Usado nas escalas de detalhe indicando o tipo do terreno Densidade de drenagens Usado nas escalas de detalhe indicando o tipo do terreno
Geologia
Litologia Mapa litológico enfocando o comportamento reológico Intemperismo A profundidade do manto de intemperismo é um atributo
importante na avaliação de movimentos de massa Descontinuidades A frequência e características das descontinuidades
afetam a coesão interna do maciço rochoso
Aspectos estruturais Importantes para estabelecer a relação entre face do talude e foliações/descontinuidades internas
Falhas O espaçamento e geometria das falhas são fatores importantes na análise do impacto dos movimentos
Solo
Tipos de solo Classificação de acordo com características mecânicas Profundidade de solo Pode ser obtida por furos de sonda, geofísica e
afloramentos Propriedades
geotécnicas
Distribuição do tamanho de grãos, coesão, ângulo de atrito, peso específico são cruciais para análise de estabilidade
Propriedades hidrológicas
Volume de poros, condutividade saturada e curva de retenção de água são usados na modelagem de fluxo de água subterrânea
Hidrologia
Nível d’água Variação espacial e temporal da profundidade do lençol freático
Saturação do solo Variação temporal e espacial do grau de saturação do solo Componentes
hidrológicos
Interceptação, evapotranspiração, escoamento superficial e infiltração
Rede de drenagem Área de influência de drenagens de primeira ordem, ou área de influência de rios erosivos
Geomorfologia Unidades fisiográficas Subdivisão do terreno em zonas, importante para o mapeamento em menor escala
Unidades mapeáveis do terreno
Unidades homogêneas do ponto de vista da litologia, morfologia e processos erosivos
Unidades geomorfológicas
Classificação genética dos principais processos de formação de relevo
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Quadro 3.3 (continuação): Fatores condicionantes da susceptibilidade a movimentos de massa (adaptado de Van Western et al. 2003).
Grupo Atributo Relevância
Uso do terreno
Mapa de uso e ocupação O tipo de cobertura do solo é um dos principais atributos que interferem na estabilidade dos solos
Mapa de variação de uso Variação temporal do uso e cobertura do solo
Vegetação Tipo de vegetação, tipo de copa das árvores, profundidade das raízes, coesão das raízes, peso, etc.
Estradas Área de influência ao redor das estradas localizadas em terreno íngreme com corte de taludes
Construções Áreas com cortes de talude realizados para áreas de construção podem ser usadas como atributo