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A Questão do Acre, como ficou conhecida, encerrou-se em 17 de novembro de 1903. Este conflito se devia à disputa em torno desse território fronteiriço entre Bolívia e Brasil, cuja posse era requerida por bolivianos que tinham o apoio norte-americano, mas que os brasileiros consideravam como parte de seu território. A questão foi resolvida em 1903, após uma rebelião feita com o apoio dos governos do Amazonas e do Pará e membros do Congresso Nacional, liderada por José Plácido de Castro, em 1902. Findou-se com a assinatura do Tratado de Petrópolis, que afirmava que o território era pertencente ao Brasil (SANTANA, 2007).

Esse Tratado, como apontado pelo autor, foi ratificado pelo governo boliviano em 24 de dezembro de 1903 e foi aprovado pelo Congresso Brasileiro em 12 de Abril de 1904. Pelo Tratado, o Brasil, em troca do Acre, realizou o pagamento de dois milhões de libras esterlinas à Bolívia e firmou o compromisso de construir em território brasileiro uma estrada de ferro, de interesse vital para a região, ligando Santo Antônio, no rio Madeira à Vila-Bela, na confluência do rio Beni com o Mamoré, surgindo a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (MEIRA, 1964), que também ficou processo de expansão do capitalismo internacional, tanto inglês quanto norte-americano. A Inglaterra procurou expandir no mercado a tecnologia do trem e o motor a vapor. Os interesses norte-americanos se davam não apenas pela tentativa de posse da terra, mas também pelo setor empresarial (ANDRADE, 2001).

O autor ressalta que o apoio norte-americano se devia ao fato de que na época (final do século XIX) o governo de La Paz, reconhecendo a sua incapacidade para assegurar seu domínio naquela região, resolvera arrendá-la a um sindicato anglo-norte-americano, interessado na indústria da borracha para amparar sua posse e sua conservação sob o domínio da República (TOCANTINS, 1973).

Allegretti (1989, p. 144), nos fala sobre o nascimento do movimento extrativista:

O movimento dos seringueiros do Acre nasce no lugar onde a nova estrada Porto-Velho-Rio Branco encontra o rio. Os patrões vendem suas terras, que se transformam em loteamento ou em grandes fazendas de gado. Os seringueiros são privados e esquecidos em transações que se concretizam no recuo da floresta em face das motoserras e da especulação fundiária.

Chico Mendes, seringueiro e militante sindical, cria o Conselho Nacional dos Seringueiros, que luta pelo reconhecimento dos direitos dos trabalhadores do extrativismo e pela implantação de uma reforma agrária.

A autora afirma que foram os seringueiros autônomos de Rio Branco, Xapuri e Brasiléia, os primeiros a saírem em defesa do extrativismo, organizando-se a partir

de 1976, para impedir novos desmatamentos de áreas extrativistas, nos chamados

“empates” que se estenderam no Acre e em estados como Amazonas e Pará. Vale ressaltar que os empates não ocorriam, em princípio, por questões ambientais ou ecológicas, mas porque essas populações tinham na floresta sua fonte de subsistência, eis sua maior razão para impedir o desmatamento.

Então, com a morte, em 1978, de Wilson de Souza Pinheiro, em Brasiléia e depois com a morte de Chico Mendes em Xapuri, no ano de 1988, ambos presidentes do Sindicato de Trabalhadores Rurais de seus respectivos municípios, os conflitos entre seringueiros e fazendeiros chamaram a atenção da opinião pública. O governo começou a refletir sobre o extrativismo apenas em 1982, quando, no Acre o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e a SUDHEVEA (Superintendência da Borracha) se encontraram para estudar o impacto causado pelos projetos de colonização, os chamados Assentamentos Dirigidos sobre as colocações (unidades de produção, formadas pela dispersão natural das seringueiras na floresta) de seringueiros, pois os retângulos criados pelo INCRA para assentar colonos cortavam e desmembravam as colocações dos seringueiros, o que desestruturava os esforços da SUDHEVEA para aumentar a produção de borracha (RUEDA, 2006).

Com a participação dos extrativistas de Rio Branco, Brasiléia e Xapuri, chegou-se à conclusão de que o interessante não era a posse individual de uma parcela da floresta, mas manter sua capacidade produtiva e a melhor forma não seria desmembrar a terra em pedaços simétricos e regulares, mas assegurar a permanência da família em suas colocações, exercendo o extrativismo.

(ALLEGRETTI, 2002).

A SUDHEVEA e o INCRA propuseram, então a Concessão Real de Uso do seringal aos seus moradores. Para iniciar, foram propostas duas experiências: o projeto Boa Esperança, em Sena Madureira e Santa Quitéria em Brasiléia, mas devido a questões administrativas, não deram certo (RUEDA, 2006).

Conforme Allegretti (2002), em 1985 é criado o CNS (Conselho Nacional dos Seringueiros) para canalizar as reivindicações dos seringueiros e como continuassem as pressões nacionais e internacionais pela preservação das

florestas, começaram a defender a criação de reservas extrativistas como forma de Reforma Agrária para os extrativistas.

Em 1985, os seringueiros reunidos em Brasília, no primeiro Encontro Nacional, solicitaram que acabasse a colonização dos seringais e fosse mantida a concessão e, com ela, o extrativismo. Solucionar-se-ia assim, a questão fundiária e haveria maior proteção da floresta contra desmatamentos e expansão agrária. Esse Encontro é o marco histórico para a oficialização do pedido de criação das

“Reservas Extrativistas”. A idéia foi muito debatida pelos participantes que provinham de diferentes regiões, principalmente da Amazônia (RUEDA, 2006).

Rueda (2006) salienta o fato de que, em 1985, o Brasil estava lançando o Plano Nacional de Reforma Agrária e que as propostas de criação das reservas se apresentavam como a reforma agrária para os extrativistas, à medida que sua criação deveria ser uma forma de reconhecer os direitos à terra daqueles que nelas trabalhavam e viviam há muitos anos. O autor conclui que as reservas extrativistas foram, historicamente, uma proposta no espírito da reforma agrária, isto é, para que a terra cumpra sua função social. Outra questão seria a proteção ao meio ambiente, essencial para se manter o extrativismo da borracha. A partir do Primeiro Encontro de Seringueiros, o INCRA teria passado de novo a se preocupar com a questão e através da Portaria nº 627, de 30 de julho de 1987, incorporava a reserva extrativista ao Plano Nacional de Reforma Agrária, através da criação do Projeto de Assentamento Extrativista (PAE), “destinado à exploração de áreas dotadas de seringais extrativos através de atividades economicamente viáveis e ecologicamente sustentáveis, a serem executadas pelas populações que ocupam ou venham a ocupar as mencionadas áreas” (SANTANA, 2007), e, com esse ato, o INCRA incorporava as reservas extrativistas, sob o nome de PAE, ao Programa Nacional de Reforma Agrária.

3.3 A Participação do Estado nas Atividades Extrativistas na Amazônia e em