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MOVIMENTOS INTERNACIONAIS PARA A DISSEMINAÇÃO DA METODOLOGIA POR COMPETÊNCIAS – COMPETÊNCIAS BÁSICAS PARA

2. CAPÍTULO II – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.3. COMPETÊNCIAS NA EDUCAÇÃO

2.3.3. MOVIMENTOS INTERNACIONAIS PARA A DISSEMINAÇÃO DA METODOLOGIA POR COMPETÊNCIAS – COMPETÊNCIAS BÁSICAS PARA

APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA

 Os quatro pilares da educação para o Século XXI – UNESCO

A Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura, UNESCO, reuniu alguns dos maiores pensadores do mundo na Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, coordenada por Jacques Delors, que produziu o relatório "Educação: um tesouro a descobrir" (Delors et al., 1996). A Comissão destacou quatro pilares que são as bases da educação ao longo de toda a vida e que servem de orientação para as instituições de ensino implementarem uma metodologia inovadora baseada no desenvolvimento de competências que privilegia um desenvolvimento integral da pessoa capacitando-a para actuar de forma responsável e eficaz na sociedade.

Jacques Delors (sd)29,
 num resumo comentado que fez deste relatório, diz que a Comissão

entendeu desde o início que era essencial mudar a ideia que se tem actualmente da educação para uma nova concepção ampliada de educação que “devia fazer com que todos pudessem descobrir, reanimar e fortalecer o seu potencial criativo – revelar o tesouro escondido em cada um de nós”. (Delors, sd,

¶ 5)

Isto supõe que se ultrapasse a visão puramente instrumental da educação, considerada como a via obrigatória para obter certos resultados (saber fazer, aquisição de capacidades diversas, fins de ordem económica), e se passe a considerá-la em toda sua plenitude: realização da pessoa que, na sua totalidade, aprende a ser.

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Delors (sd) diz que já não é possível nem adequada uma educação puramente quantitativa com uma bagagem escolar cada vez mais pesada. E que não basta uma acumulação no início da vida de uma quantidade de conhecimentos, mas antes é “necessário estar à altura de aproveitar e explorar, do começo ao fim da vida, todas as ocasiões de actualizar, aprofundar e enriquecer estes primeiros conhecimentos, e de se adaptar a um mundo de mudanças” (Delors, sd,

¶ 2). A Comissão chefiada por Delors identificou, então, quatro aprendizagens fundamentais, que podemos chamar também de quatro competências, em torno das quais a educação deve organizar-se para poder dar resposta ao conjunto das suas missões, e para que cada indivíduo possa ter uma bagagem que lhe sirva ao longo da vida para o seu sucesso e para o sucesso da sociedade. Esses “pilares” são: “aprender a conhecer, isto é adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as actividades humanas; finalmente aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes” (Delors, sd, ¶ 3).

Sobre essas quatro aprendizagens fundamentais, a Comissão escreve que aprender para conhecer supõe aprender a aprender, exercitando a atenção, a memória e o pensamento. Enquanto que para aprender a fazer é necessário combinar a qualificação técnica de realizar uma tarefa com o comportamento social, a aptidão para o trabalho em equipa, a capacidade de iniciativa e o gosto pelo risco. Sobre aprender a viver com os outros, a comissão entende que é um dos maiores desafios da educação devido à violência que impera no mundo, principalmente visível no potencial de autodestruição criado pela humanidade no decorrer do século XX. Assim a Comissão propõe duas estratégias para, através da educação, criar nas pessoas o espírito de tolerância, cooperação e de não-violência: a descoberta progressiva do outro e a participação em projectos comuns. Aprender a ser, segundo a Comissão, supõe o desenvolvimento total da pessoa que deve ser preparada principalmente para elaborar pensamentos autónomos e críticos e para formular os seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir, por si mesma, como agir nas diferentes circunstâncias da vida.

 Definição e Selecção de Competências - OCDE

À semelhança da UNESCO, a OCDE, Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico, reuniu experts das mais diversas áreas dos seus países membros para definir um quadro conceptual de competências com o objectivo de propor uma orientação educacional que melhor prepare as pessoas para se adaptarem a um mundo caracterizado pela mudança, complexidade e interdependência, e para uma aprendizagem ao longo da vida.

O quadro Conceptual chama-se Definition and Selection of Competences Project (DeSeCo) - Projecto de Definição e Selecção de Competências. Podemos ler no relatório do projecto que as

competências-chave foram definidas a partir da identificação dos “desafios universais da economia e da cultura globais, assim como de valores comuns” (DeSeCo, 2005, pag. 5)30.

São portanto três as categorias de competências identificadas pelo projecto DeSeCo: utilizar ferramentas interactivamente (Use Tools Interactively); interagir em grupos heterogéneos (Interact in Heterogeneous Groups) e actuar autonomamente (Act Autonomously).

O projecto justifica a primeira categoria como a necessidade dos indivíduos utilizarem ferramentas para interagirem efectivamente com o ambiente físico, como infirmações tecnológicas, e cultural, como a utilização da linguagem. Considera importante o indivíduo compreender essas ferramentas para poder adaptá-las aos seus propósitos. A justificação apontada para a segunda categoria, actuar em grupos heterogéneos, refere a necessidade dos indivíduos serem capazes de se relacionarem uns com os outros, já que vão contactar com pessoas das mais variadas culturas. A terceira categoria refere-se à necessidade dos indivíduos serem autónomos e responsáveis para dirigirem as suas próprias vidas (DeSeCo, 2005, pag.5).

O Projecto considera o processo de reflexão como o “coração” dessas competências-chave. A reflectividade é entendida aqui não apenas como a forma como as pessoas pensam, mas também acerca de como constroem experiências, incluindo pensamentos, sentimentos e relações sociais.

 Competências Essenciais para a Aprendizagem ao longo da vida – União Europeia Este é o quadro de referência europeu, uma recomendação do Parlamento Europeu e da sua Comissão para os Estados-Membros.

Uma recomendação que começou a formar-se a partir de Lisboa, no Conselho Europeu de Lisboa (23 e 24 de Março de 2000), “que concluiu que deveria ser criado um quadro europeu para definir as novas competências de base a adquirir através da aprendizagem ao longo da vida enquanto medida fundamental da resposta europeia à globalização e à transição para economias baseadas no conhecimento, e salientou que o maior trunfo da Europa são as pessoas” (Quadro de Referência Europeu, 2006, pág. 3)31.

Desde então essas conclusões foram reiteradas nos diversos conselhos europeus seguintes e que encontraram eco também em outras deliberação da UE, por exemplo no Pacto da Juventude, no Programa Educação e Formação 2010, nas Orientações Integradas para o Crescimento e o Emprego 2005-2008, etc.

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30 Disponível on-line em - http://www.oecd.org/dataoecd/47/61/35070367.pdf, consultado em 24de Setembro de 2007.

31 Disponível on-line em - http://www.debatereducacao.pt/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=92&Itemid=10, 4 de Setembro de 2007.

Esta recomendação “impõe”, portanto, aos Estados-Membros que, entre outras, se preocupem em fornecer aos jovens, através da reforma dos seus currículos, uma educação que lhes possibilite desenvolver as suas competências essenciais a um nível que os prepare para a vida adulta e que constitua uma base para a aprendizagem futura e para a vida profissional; e que possibilite aos adultos serem capazes de desenvolver e actualizar as suas competências essenciais ao longo da vida.

O Quadro de Referência Europeu estabelece, portanto, oito competências essenciais, entendendo competências essenciais como “uma combinação de conhecimentos, aptidões e atitudes adequadas ao contexto. As competências essenciais são aquelas que são necessárias a todas as pessoas para a realização e o desenvolvimento pessoais, para exercerem uma cidadania activa, para a inclusão social e para o emprego” (Quadro de Referência Europeu, 2006, pág. 3 do Anexo).

Essas competências são: (1) Comunicação na língua materna; (2) Comunicação em línguas estrangeiras; (3) Competência matemática e competências básicas em ciências e tecnologia; (4) Competência digital; (5) Aprender a aprender; (6) Competências sociais e cívicas; (7) Espírito de iniciativa e espírito empresarial; e (8) Sensibilidade e expressão culturais (Quadro de Referência Europeu, 2006, pág. 3 do Anexo).

Como podemos notar, esses três quadros conceptuais que apontámos podem ser reformulados ou agrupados de forma diferente mas têm muito em comum, isto é, têm o mesmo entendimento daquilo que devem ser as competências básicas que todos os indivíduos devem adquirir e desenvolver, principalmente através da educação básica obrigatória, para poderem aprender ao longo da vida e se adaptarem às mudanças sociais. E, no nosso entendimento, essas competências são: Autonomia e Auto-estima como necessidade das pessoas tomarem as rédeas das suas vidas e serem responsáveis perante os seus actos; a Reflectividade como a capacidade fundamental para compreender os contextos e avaliar as situações de forma a tomar uma decisão ajustada, e ao mesmo tempo aprender a partir das suas experiências, o tal aprender a aprender; a utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação como indispensável para uma boa integração na sociedade e para contribuir para a evolução pessoal e social; e o Relacionamento Interpessoal e Comunicação como sendo fundamental para o estabelecimento de boas relações de convívio, de colaboração e de entendimento entre todos.

É portanto o conjugar dessas competências que vai permitir, assim como o é o entendimento do projecto DeSeCo, o “sucesso pessoal” e o “sucesso social”.

Como acabámos de ver, o movimento de disseminação e implementação da metodologia por competências é internacional, o que quer dizer que a comunidade educativa internacional considera a metodologia por competências a mais capaz de traduzir o espírito das teorias construtivistas e, portanto, adequada para responder aos desafios da educação que tem por missão dar resposta às mudanças vividas pela sociedade, formando pessoas competentes e capazes de se adaptarem a um mundo marcado pelas mudanças, pela globalização, pela heterogeneidade, e capazes de contribuírem para o sucesso individual e colectivo.

E será que o movimento internacional já é também nacional?

2.3.4. CABO VERDE – DESCOBRINDO A METODOLOGIA POR COMPETÊNCIAS