• Nenhum resultado encontrado

3 MOVIMENTOS SOCIAIS: A LUTA POR MORADIA.

3.2 Movimentos Sociais no Brasil e Luta por Moradia

3.2.1 Movimentos de Luta por Moradia no Brasil

Atualmente, no Brasil, existem muitos movimentos populares que são ligados à luta por moradia. Alguns deles têm abrangência nacional, abarcando ou se associando, em alguns momentos, aos movimentos de luta por moradia que atuam em Salvador, a exemplo do Movimento dos Sem Teto de Salvador. A atuação desses movimentos em Salvador é semelhante em alguns aspectos — como a ocupação de áreas —, mas diferente em outros, como o aspecto de institucionalização ou não, entre outros. Mencionaremos, brevemente, alguns movimentos nacionais que perpassam a luta por moradia.

O Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) foi criado em julho de 1990, no I Encontro Nacional dos Movimentos de Moradia, e na ocasião houve a

representação de 13 estados da federação. Porém, grandes ocupações de áreas e conjuntos habitacionais nos centros urbanos já vinham ocorrendo desde a década de 1980. Entre os que apoiaram o movimento, podemos citar a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Cáritas e a Central de Movimentos Populares. Hoje se estabeleceu parceria nas ações com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e associação com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O principal objetivo do MNLM é a luta em prol da solidariedade no espaço urbano, a reforma urbana, em conjunto com o MST, pois, além da terra, se luta pela casa, infra-estrutura e demais necessidades da população. O movimento está organizado em muitos estados: Pará, Rondônia, Acre, Bahia, Ceará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Piauí, Maranhão, Pernambuco, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul (SINPRO, 2008, s/p).

A Confederação Nacional das Associações de Moradores (CONAM) foi fundada em janeiro de 1982 e tem suas ações voltadas para a organização das federações estaduais, uniões municipais e associações comunitárias e entidades de bairro. A CONAM defende o direito à cidade, incluindo a luta pela moradia digna, saúde, transporte, educação, meio ambiente, trabalho, igualdade étnica e de gênero. Atualmente, a CONAM congrega mais de 550 Entidades Municipais e 22 federações estaduais e está presente em 23 estados e no Distrito Federal. Participa do Movimento pelo Direito ao Transporte, do Fórum Nacional de Reforma Urbana, da Frente Nacional de Saneamento Ambiental e do Fórum Mundial do Direito a Energia. Além disso, compõe o Conselho Nacional das Cidades e o Conselho Nacional de Saúde (CONAM, 2008).

Outra organização de ações coletivas é a Central de Movimentos Populares (CMP), que foi fundada em 1993. Antes da sua fundação, houve uma trajetória que se inicia com a criação, em 1980, da Articulação Nacional dos Movimentos Populares e Sindicais (ANAMPOS). No final da década de 1980, a ANAMPOS foi dissolvida e substituída pela Comissão pró-Central de Movimentos Populares. Somente em 1993, foi realizado o Congresso de fundação da CMP, em São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo. Atualmente, está presente em 15 Estados e os movimentos populares ligados à Central são variados, com temáticas como gênero, movimentos de negros, movimento por moradia e comunitários, passando pelos movimentos culturais e de rádios comunitárias, indígenas e ecológicos, dentre outros. A CMP propõe diretrizes gerais para as lutas a serem

travadas em cada momento específico, além de colaborar para a construção de um projeto político popular mais amplo, visando transformações sociais (Central de Movimentos Populares, 2008).

A União Nacional por Moradia Popular (UNMP) “iniciou sua articulação em 1989 e consolidou-se a partir do processo de coletas de assinaturas para o primeiro Projeto de Lei de Iniciativa Popular que criou o Sistema, o Fundo e o Conselho Nacional por Moradia Popular no Brasil” (UNMP, 2008, s/p), a Lei 11.124 de 2005. Os movimentos de moradia do Estado do Paraná, São Paulo e Minas Gerais foram os iniciadores da organização, com o objetivo de articular e mobilizar os movimentos por moradia, lutar pelo direito à moradia, pela reforma urbana e autogestão e, assim, “resgatar a esperança do povo rumo a uma sociedade sem exclusão social”. Sua atuação se dá nas áreas consideradas como favelas, cortiços, ações em mutirões, ocupações e loteamentos. A organização está presente em 19 estados brasileiros. Em relação à forma de organização, dizem:

(...) tem uma forte influência da metodologia das Comunidades Eclesiais de Base, de onde se originam grandes partes de suas lideranças. Trabalha-se com grupos de base nas regiões metropolitanas e se articulam regionalmente nos principais pólos dos estados. Os estados são representados na instância nacional (UNMP, 2008, s/p).

Segundo o próprio movimento, este tem sido fundamental para a articulação e propostas no âmbito do Governo Federal, “tendo participado da mobilização e conquista da inclusão do direito à moradia na Constituição, da aprovação do Estatuto das Cidades e da realização da Conferência das Cidades” (UNMP, 2008, s/p).

A UNMP também está presente na Bahia, desde 1999, com o objetivo de tentar organizar as diferentes localidades com problemas habitacionais em Salvador, criando um movimento social forte que pudesse apoiar as reivindicações dos bairros. Assim, lideranças de alguns bairros reuniram-se e estabeleceram contato com a entidade nacional, a União Nacional de Moradia Popular (UNMP), que atualmente comporta 21 estados brasileiros. A União por Moradia Popular Bahia foi fundada oficialmente, somente em janeiro de 2004 (União por Moradia Popular Bahia, 2008, s/p).

O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) surgiu no final da década de 1990, mais precisamente, em 1997, e foi fundado com o apoio do MST. A

primeira ocupação, em Campinas — SP, abrigava 5.200 famílias. O movimento conseguiu a desapropriação do terreno e a construção de casas. Segundo informações que constam na página da Internet, o MTST tem por objetivo “(...) combater a máquina de produção de miséria nos centros urbanos. A ocupação de terra, trabalho de organização popular, é a principal forma de ação do movimento” (MTST, 2008, s/p). Conforme o site, O MTST é um movimento autônomo, que não é vinculado a partidos ou sindicatos. Em 1998, dito movimento passa a atuar em outros municípios, como Guarulhos e Diadema, por exemplo. Também iniciou atividades no Rio de Janeiro e em Natal, Recife e Aracaju. Nesses locais, procura articular-se com outras organizações existentes. Contudo, o MTST foca as suas ações em municípios do estado de São Paulo (MTST, 2008).

No capítulo seguinte, trataremos especificamente do Movimento dos Sem Teto de Salvador, abordando as suas características, objetivos, estratégias, buscando demonstrar como se dá — e também os motivos — o processo de apropriação dos espaços e territorialização do movimento.