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2. DO PÓS-INDUSTRIALISMO AO IMIGRANTE EMPREENDEDOR INTERNACIONAL

2.3 Movimentos migratórios e a sociologia

2.3.1 Movimentos migratórios internacionais

As razões que levam as pessoas a migrar já foram pauta de muitos debates e tema de muitas publicações. Tais razões passam necessariamente pelos designados “fatores de expulsão ou de atração” e o equilíbrio entre eles (Klein 2000). Segundo este autor, com exceção de uma minoria de casos para os quais migrar vem suprir anseios pessoais de aventura ou mudanças, o processo migratório é geralmente deflagrado por contingências de

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Segundo Kumar (1997), dentro de uma abordagem mais atual das teorias pós-industriais, devem ser consideradas as transformações pelas quais tais transformações passaram dentro do contexto da “globalização”, que atinge, segundo o autor, todas as sociedades modernas – “e pós-modernas”. In: KUMAR, op, cit.

60 ordem econômica - carências e crises - quando os meios tradicionais de sustento se tornam inviáveis e as pessoas se deparam com a falta de alternativas de sobrevivência em suas comunidades de origem. Em um menor número de casos, migrações podem ocorrer ainda devido a perseguições relacionadas à nacionalidade, etnia ou crença religiosa.

O autor, visando responder à questão por que mudam as condições de vida e as razões para o agravamento de crises determinantes da emigração, afirma haver uma formula com a existência de três fatores dominantes: o primeiro seria o acesso à terra, o que implica na disponibilidade de alimento; a variação da produtividade da terra e o terceiro, o número de integrantes de uma família que precisam ser mantidos. Segundo o autor, no período das “grandes migrações” dos séculos XIX e XX (1880 a 1915), quando dois terços dos migrantes chegaram à América, os “fatores de expulsão” teriam sido compostos por uma combinação desses três fatores.87

A revolução tecnológica vivenciada na atual era pós-industrial, da “sociedade da informação”, propiciadora da supressão espaço temporal (HARVEY, 1990), facilita as comunicações, arranjos relacionais e a economia “mundializada” de fim de século XX e início de século XXI, mas muito antes disso, os avanços tecnológicos do fim do século XIX, como o cabo telegráfico transatlântico em 1866, o incremento de ligações ferroviárias dos anos 1870 e a total substituição das velas pelo motor a vapor na navegação, são também alegados como facilitadores das grandes migrações.

Assim, o incremento do aparato tecnológico associado às questões de ordem econômico-social na Europa, combinado com os “fatores de atração” na América, como a grande disponibilidade de terra fértil e pouca de mão-de-obra nativa, fizeram do referido período das “grandes migrações” de crucial importância para a história das migrações para a América.88Dentro desse contexto, registros indicam que o período que vai de 1810 a 1979, o Brasil recebeu 5.611.892 imigrantes, sendo o maior contingente de Portugueses (31,9%), seguidos de italianos (29,0%), Espanhóis (11,1%) e alemães. No período de 1880 a 1919, que abrange o das chamadas “grandes migrações”, teriam chegado ao Brasil maior parte desse contingente, ou o quantitativo de 3.105.33589 europeus.

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Para maiores detalhes Cf. Klein, op. cit..

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Klein (2000) relata que ainda que dez milhões de africanos e possivelmente cerca de quinze milhões de europeus houvessem migrado para as Américas antes de 1880, esta década, teria assinalado “um ponto decisivo no fluxo migratório da Europa”.

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Para se chegar a esse número, foi efetuada a soma dos contingentes totais por década, conforme apresentados na tabela por Fernandes (2015, p. 20-21) que tem como fonte Hernando e Martinez (2006, p.36). In: FERNANDES, Duval. O Brasil e a migração internacional no século XXI – Notas introdutórias. In: PRADO, Erlan José Peixoto do; COELHO, Renata, organizadores. Migrações e Trabalho. Brasília: Ministério Público do Trabalho, 2015. Seção I. p. 19- 39

61 A maior parte dos migrantes de origem mediterrânea e japonesa que compuseram as chamadas “grandes migrações” teve como razão primária de atração pelo Brasil, o modo que evoluiu a gestão da mão-de-obra escrava africana, que propiciou a progressiva substituição pela mão de obra do migrante europeu e asiático, sobretudo nas lavouras de café da região sudeste do país, a maior parte desses migrantes, tinha os deslocamentos para o país garantidos por políticas de imigração subsidiada.90

Antes desse período, com a mão de obra escrava abundante, não havia maior interesse por parte do governo brasileiro na vinda de imigrantes europeus para o país. O incentivo a formação de colônias agrícolas, deu-se inicialmente apenas para a região meridional fronteiriça do país, por razões político-estratégicas, visando coibir eventuais tentativas de avanços dos hispano-americanos na região.

Assim, na primeira metade do século XIX, houve a implementação de dois modelos de imigração européia – o de colonização agrícola, iniciado na década de 1820 e o sistema de parcerias entre as décadas de 1840 e 1850.91 Por fim, o “sistema de colonato” entra em vigência com o processo de libertação dos escravos. Neste, as passagens dos migrantes que substituiriam os escravos, eram totalmente subsidiadas pelos governos estadual e federal, recebiam salários e pagamentos por empreitada.92O contrato subsidiado foi proibido pelos governos da Espanha e Itália na década de 1910, após apurações que constataram exploração e maus-tratos aos imigrantes. Na sequência, com a crise da Primeira Guerra mundial, o começo da migração interna de trabalhadores provenientes do nordeste brasileiro, contribuiu para o declínio da imigração européia. Os poucos migrantes não subsidiados que chegavam ao país passaram a preferir, primariamente, a vida nas cidades, como São Paulo.

Somente após a segunda guerra mundial, com o empobrecimento da Europa do pós- guerra, ressurge um movimento migratório com certa expressão para o país, tendo por base o trabalho na indústria, promovido pelo programa oficial de substituição das importações, instituído pelo governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960).93

Comparável às consequências advindas dos avanços tecnológicos do final do século XIX, o migrante do início de século XXI, também se encontra submetido a condicionantes geradas pelas facilidades de comunicação e tecnologia avançadas. Esses avanços, quando aliados às diversas modalidades de capital - como o social e humano - e quando inseridos

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Cf. KLEIN, Ibidem.

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O Sistema de colonização agrícola baseado em pequenas propriedades rurais e o de parceria que consistia na disposição dos migrantes europeus trabalhando ao lado dos escravos nas plantações de café. O programa foi promovido pelos fazendeiros de São Paulo e o governo. In: KLEIN, op. cit.

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Cf. KLEIN, op. cit.

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62 dentro de um aparato institucional como ocorre, em tese, com os migrantes empreendedores, são potencializadores de configurações sociais totalmente peculiares a esse atual momento, sobre as quais trataremos melhor na sequência deste trabalho.

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