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1. I DENTIFICANDO O O BJETO – A I MIGRAÇÃO J APONESA

3.1 I MPACTO DO C ENTENÁRIO NO A RQUIPÉLAGO

Após a declaração oficial da criação de uma comissão governamental japonesa para os preparativos do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, tornou-se visível o interesse do Japão quanto ao evento em si, questão que não necessariamente é percebida pela comunidade de dekasseguis brasileiros no país. Por parte do governo brasileiro, além do potencial intercâmbio econômico e tecnológico que é apostado no centenário em si, busca-se também pelos japoneses interessados no Brasil para a promoção do turismo:

“900MIL TURISTAS JAPONESES QUEREM CONHECER O BRASIL103”

“À espera da visita de milhares de pessoas para a comemoração do centenário da imigração japonesa ao Brasil, o Ministério do Turismo decidiu investir pesado no mercado japonês. Neste ano, no total, serão investidos no mercado japonês US$ 800 mil, somente pelo governo brasileiro, com o principal objetivo de ‘vender’ uma boa imagem do País aos nipônicos. Hoje, o Brasil recebe cerca de 74 mil turistas japoneses ao ano. Mas existe um potencial de mais de 900 mil japoneses que gostariam de visitar o país.”

Para os japoneses, o centenário ganha não só moedas comemorativas como também passa a ser divulgado pela própria televisão japonesa ao criar documentários sobre a imigração japonesa para o Brasil, sobre os brasileiros no arquipélago, etc. Podemos ver na moeda – que por enquanto será circulada apenas no Japão – a presença de símbolos tanto da imigração em si, quanto japoneses e brasileiros: além da imagem de imigrantes na cidade de Santos, SP, a outra face da moeda possui as flores da sakura – cerejeiras, símbolo nacional japonês ao lado de grãos de café, notícia divulgada não só pelo Nippo-Brasil e pela Made In

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Japan como também pelo IPC Press Japan, jornal publicado no Japão para a comunidade brasileira:

“MOEDA ESPECIAL DOS 100 ANOS DA EMIGRAÇÃO AO BRASIL104”

“JAPÃO EMITIRÁ MOEDAS COMEMORATIVAS DO CENTENÁRIO DA EMIGRAÇÃO AO

BRASIL”

Tokyo - ipcdigital.com e agências

“O Japão emitirá uma moeda de ¥ 500 para comemorar, em 2008, os 100 Anos do início da emigração japonesa ao Brasil, informou no dia 17 o Ministério das Finanças. A moeda, com um diâmetro de 26,5 milímetros, mostrará em uma das faces a escultura de uma família japonesa de imigrantes na cidade de Santos. A outra face mostrará um desenho de flores de cerejeira e grãos de café, como símbolos dos dois países, respectivamente.

A emigração japonesa ao Brasil começou em 28 de abril de 1908, quando o navio Kasato-Maru partiu do porto de Kobe (HYogo) rumo a Santos com 781 japoneses. O valor das moedas será o de sua denominação (US$ 4,19), e serão vendidas nas instituições financeiras do Japão. Ainda não se determinou a quantidade de moedas comemorativas que serão cunhadas.

Atualmente, a colônia japonesa no Brasil, concentrada na cidade de São Paulo, é a maior no mundo. Muitos dos descendentes brasileiros dos emigrantes, em busca de oportunidades, retornaram ao Japão, onde hoje somam 280 mil pessoas.”

Ilustração 2 - Imagem de imigrantes japoneses em Santos

Ilustração 3 - Flores de sakura e grãos de café

“TVNHK VAI FAZER NODOJIMAN LATINO PARA MARCAR O CENTENÁRIO105”

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IPC Digital online, Especiais,

http://www.ipcdigital.com/ver_noticiaA.asp?descrIdioma=br&codNoticia=6685&codPagina=6946&codSecao=4 71, capturado em 20 de abril de 2007.

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“A emissora estatal japonesa NHK realizará novamente este ano a versão latina do programa NHK Nodojiman, o tradicional programa de calouros transmitido aos domingos. O evento é uma homenagem à imigração japonesa no Brasil, que completa cem anos em 2008. O Nodojiman Latino contará com a presença de cantores amadores brasileiros e de outros países da América Latina que vivem no Japão. Como convidados especiais, participarão do programa, a cantora e atriz brasileira Márcia e o cantor peruano Alberto Shiroma. O concurso será realizado no dia 16 de setembro, em Toyohashi, no Ai Plaza Toyohashi (Toyohashi Roodoo Fukushi Kaikan), às 17 horas.”

Dada a importância da história do imperador no Japão106 – questão que remete mesmo aos mitos de criação do Japão e dos japoneses há séculos – o centenário também ganharia os olhos da família imperial japonesa, tornando-se assim um evento de importante representatividade tanto no Japão quanto entre os primeiros imigrantes e descendentes de japoneses no Brasil. Isto é perceptível na expectativa da “comunidade nikkei” ao receber membros da realeza imperial japonesa no Brasil, desejo que só pôde ser atendido no último mês com a confirmação da vinda do príncipe Naruhito ao país e, paralelamente, à declaração da imperatriz Michiko sobre a sua vontade de estar presente nas comemorações em 2008, notícias de destaque tanto no Nippo-Brasil quanto na Made In Japan:

“NARUHITO SERÁ O REPRESENTANTE DA REALEZA NO CENTENÁRIO EM 2008107”

“PRÍNCIPE, FILHO MAIS VELHO DO IMPERADOR AKIHITO, DEVE ESTAR PRESENTE NAS SOLENIDADES OFICIAIS EM SÃO PAULO,BRASÍLIA E ROLÂNDIA NO MÊS DE JUNHO” “O príncipe herdeiro Naruhito, filho do imperador Akihito e da imperatriz Michiko, será o único representante da família imperial japonesa nas festividades do centenário da imigração japonesa no Brasil em 2008. O anúncio foi feito pela Agência da Casa Imperial no dia 16 de outubro. Ele vem ao País a convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que enviou uma carta oficial em agosto do ano passado, entregue à Casa Imperial pela presidente do Senado, Chikage Ogi. Essa será segunda visita de Naruhito ao País. Ele esteve por aqui em 1982 e, em 2008, sua participação deve ocorrer nas cerimônias oficiais em Brasília, São Paulo e Rolândia, que ocorrem, respectivamente, nos dias 18, 21 e 22 de junho. Outras cidades podem ser incluídas no roteiro oficial, segundo o Consulado Geral do Japão em São Paulo. Seu irmão mais novo, o também príncipe Akishino, esteve no Brasil em 1988, por ocasião dos 80 anos da imigração. No ano passado, ele esteve no Paraguai (...)”

“IMPERATRIZ FALA DO BRASIL NO ANIVERSÁRIO108”

“MICHIKO, MULHER DO IMPERADOR AKIHITO, DISSE QUE GOSTARIA DE VISITAR O PAÍS NO ANO QUE VEM, DURANTE AS FESTIVIDADES DO CENTENÁRIO DA IMIGRAÇÃO”

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Para se ter idéia, o “Natal”, a maior data do cristianismo, não é comemorado no Japão, mesmo apesar de mais de 50 anos da presença norte-americana no arquipélago e de contato entre estas diferentes “culturas”. O feriado, embora tenha ganhado sua tradução para o japonês em katakana – o alfabeto fonético destinado apenas às palavras estrangeiras – como Kurisuchimasu, do termo em inglês Christmas, não possui a mesma relevância no país como em outros cantos do mundo. Por outro lado, juntamente com o Ano Novo, a data mais importante no Japão e que é comemorada no dia 23 de dezembro é o nascimento do Imperador.

107 Jornal Nippo-Brasil nº 434 – ano XIV – pg 3A 108

“No dia 20 de outubro, quando comemorou 73 anos de vida, a imperatriz Michiko disse estar feliz pela situação de sua família, especialmente de seus quatro netos, os filhos do príncipe herdeiro Naruhiro e Masako e dos príncipes Fumihito e Kiko. A esposa do imperador Akihito aproveitou também para falar das relações do Japão com a América Latina e lembrou que, em 2008, será comemorado o centenário da imigração japonesa no Brasil. Por esse motivo, Naruhito visitará o Brasil em junho, a convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (...). ‘Infelizmente, não poderei viajar ao Brasil desta vez. Mas, aqui com o imperador, refletirei sobre as dificuldades encontradas pelos japoneses que emigraram a países de todo mundo e rezarei por sua felicidade em seus novos países’, prometeu a imperatriz (...)”

O centenário, que já ganhou uma moeda comemorativa a ser circulada por enquanto apenas no Japão, passou a ser divulgado para os dekasseguis através das escolas infantis no Japão, cujos temas aludidos enfatizam abertamente a importância da imigração japonesa para o Brasil e o centenário da imigração em si:

“RUMO AOS CEM ANOS109”

“A NPO Insituto de Pesquisas para Educação Multilingüe, de Tamamura, com ajuda da Secretaria de Apoio às Multiculturas do Governo de Gunma, iniciou um curso para as crianças em celebração aos cem anos da emigração japonesa. Ao mesmo tempo, museus em Kobe e Yokohama iniciam exposições.”

“ALUNOS CONHECEM ESCULTURA EM HOMENAGEM AO CENTENÁRIO DA

IMIGRAÇÃO110”

“O centenário da imigração japonesa no Brasil só será comemorado no próximo ano, mas as homenagens e celebrações à data já foram iniciadas. No dia 20 de agosto, os estudantes da Escola Pingo de Gente, de Shimotsuma (Ibaraki), tiveram a oportunidade de conhecer de perto o trabalho do escultor japonês Kota Kinutani, que está construindo um monumento em comemoração ao centenário (...). Já Amanda Mami Sasaki, 11, de Oyama (Tochigi), ficoun surpresa com a criatividade do artista. ‘Gostei muito, é bonito. Fiquei feliz em saber que um japonês fez essa homenagem aos nossos avós’111, afirmou (...). A peça central será esculpida no Brasil, em granito Red Dragon, proveniente do Ceará. A inauguração da obra está prevista para ocorrer em junho de 2008.”

“DEKASSEGUI TAMBÉM PODE PARTICIPAR DO CONCURSO DA MASCOTE112” Por Erin Mizuta

“O centenário da imigração japonesa no Brasil, em 2008, será uma oportunidade para brasileiros mostrarem o talento artístico e ainda terem seu trabalho registrado para a história. A Associação para Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil (ACCIJB) está com inscrições abertas para o concurso que escolherá a mascote para as festividades de 2008 (...)”

109

Jornal Nippo-Brasil nº 418 – ano XIV – Caderno Brasil no Japão, pgs 6 e 7

110

Jornal Nippo-Brasil nº 427 – ano XIV – Caderno Brasil no Japão, 3D

111

Afirmação que, como direi mais à frente, foi amplamente repetida a mim por descendentes que entrevistei, merecendo uma discussão posterior.

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Veremos no tópico a seguir que, apesar do centenário ser discutido em vários lugares/esferas no arquipélago – algumas direcionadas aos dekasseguis e aos seus filhos, a percepção do evento em si entre os brasileiros no Japão é bastante diversa, assim como é diversa aqui no Brasil entre os descendentes, nos trazendo algumas questões a ser pensadas quanto às divergências da própria comunidade. Todavia, podemos ver a importância do centenário enquanto “evento máximo” da “comunidade nikkei” uma vez que tem presença não só no Brasil como também no Japão.

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